Record (Portugal)

“SPORTING TEM DE ESTAR ACIMA DE TUDO” ACOSTA

Aos 52 anos, 20 depois de ter chegado a Alvalade e 10 após terminar a carreira, o antigo avançado percorre memórias e explica porque vê em Frederico Varandas a melhor solução

- TEXTOS VÍTOR ALMEIDA GONÇALVES FOTOS VÍTOR MOTA

Chegou ao Sporting há 20 anos, em 1998. Ainda se lembra como se fosse ontem?

ACOSTA – Não sabia que era tanto tempo. Recordo-me de tudo. Foi uma etapa fantástica, apesar dos altos e baixos. No começo não foi muito bom mas a forma como terminou foi magnífica. Tenho um grande carinho pelas pessoas do Sporting. É algo para a vida toda.

+ Voltou a falar com Jozic?

A – Não. Estou-lhe agradecido por me ter ido buscar, quando eu já tinha 32 anos. Não foi fácil para ele. + Ficou magoado com Herman José devido a uma rábula sobre a sua condição física. Já o perdoou? A – Sim. Ficou no passado. Era um humorista. Pediu desculpa. Não há nenhum rancor, pelo contrário. Quem ficou a ganhar fui eu, sobretudo a nível profission­al.

+ Como viveu afesta do título em 2000?

A – Foi o momento mais bonito. Ganhar depois de 18 anos... Era um momento muito esperado. É espetacula­r fazer parte dessa história.

+ Sabia que o estádio onde o Sporting se sagrou campeão, Vidal Pinheiro, já não existe?

A – Não existe?! Não sabia.

+ Milagros, a sua filha mais nova, nasceu em Lisboa, nesse ano. Ela conhece a cidade?

A – Esteve cá há quatro ou cinco anos; foi ver o estádio. Ela devia ter nascido a 28 de julho mas tínhamos um particular com o Parma e era o dia de aniversári­o do meu filho mais velho, Mickael. A minha mu- lher queria ir ver o jogo e pediu para o parto ser a 29. Correu bem, porque fiz dois golos e no dia seguinte nasceu a Milagros. Foi especial.

+ A propósito de boas recordaçõe­s, os adeptos não esquecem aquele golo do 2-0 ao FC Porto, após oferta de Secretário...

A –Vínhamos taco a taco com o FC Porto. Ganhámos, passámos para a frente e a partir daí arrancámos para o título. Mas fiz golos bonitos contra o Campomaior­ense, a U. Leiria, o Benfica; dois ao Marítimo, a faltarem duas jornadas. Marquei 22 nesse campeonato.

+ Deixou de jogar há 10 anos. Tirou o curso de treinador?

A – Não. Afastei-me um pouco do futebol e dediquei-me à família. Agora faço comentário­s para tele-

“VIM A LISBOA PORQUE QUIS E NÃO PORQUE ME PAGARAM. A MIM NINGUÉM ME COMPRA; FAÇO O QUE SINTO”

visão e rádio. Nunca senti aquela adrenalina de ser treinador.

+ Não trabalhou na formação do San Lorenzo, como foi noticiado? A – Não. O convite era para um cargo de dirigente. Pensei um par de dias e entendi que devia recusar.

+ E continua a jogar?

A – Isso sim, com os amigos, todos os fins de semana.

+ E ainda é avançado ou agora joga mais atrás?

A – Um pouco mais recuado, sim. Ali no meio-campo [risos]…

+ Entre finais de 2010 e o início de 2011, venceu a luta contra um can- cro. Como foi lidar com a doença? A – Foi um momento crítico da minha vida. Quando se é profission­al durante 20 anos, tendo estado sempre bem e sob controlo médico, não se pensa que isto pode acontecer. Era um cancro da tiroide Fui operado e tomo um comprimido todos os dias para garantir que continuo bem. Está esquecido.

+ É verdade que ficou chateado com os dirigentes do Sporting por não lhe terem dado uma palavra ? A – Em alturas dessas, está quem tem de estar. É uma questão de sentimento­s. Eu tenho algo muito especial com o Sporting, mas é com as pessoas, com os adeptos. Os dirigentes nunca me telefonara­m desde que saí. Não apenas nessa si- tuação, por causa da doença, mas para me perguntare­m como estava. Vieram muitos argentinos para o Sporting e nunca me perguntara­m o que me parecia, se eram bons ou maus, se os conhecia...

+ Sentiu-se esquecido?

A – Nesse sentido, sim. Mas, repito, pela direção, não pelas pessoas. Bem ou mal, penso que deixei um legado no Sporting, deixei o suficiente para que não me esqueçam. Por isso fiquei um pouco chateado.

+ Não vinha a Lisboa desde 2013. Como surgiu a oportunida­de de apoiar Frederico Varandas?

A – Fui contactado por pessoas próximas dele. Sabia que tinha estado no clube como médico, durante sete anos, mas não o conhe- cia. Ele explicou-me o projeto e convidou-me a estar cá. Vim a Lisboa, e quero que isto fique claro, porque quis e não porque me pagaram. A mim ninguém me compra; faço o que sinto. Acredito que o Frederico pode ser o melhor para o

“[VARANDAS] TEM A VANTAGEM DE CONHECER O SPORTING E DE TER ESTADO LÁ DENTRO, NO BALNEÁRIO”

Sporting, porque conhece bem o futebol, gosta muito do clube e quer começar a ganhar campeonato­s. Gostei das ideias dele e do facto de não se esquecer dos ex-jo-

gadores. O Sporting não se pode limitar a ser de Portugal, tem de ser conhecido no Mundo inteiro e não só por Cristiano Ronaldo. + Aos 38 anos, quase 39, vê Frederico Varandas preparado para ser presidente ? A – Vejo-o com muita vontade e tem condições para isso. Nunca se está preparado. Eu não estava preparado para ser jogador, tive de passar por isso. Ele tem a vantagem de conhecer o Sporting e de ter estado lá dentro, no balneário. As experiênci­as que ele viveu no Sporting ajudaram-no a preparar-se. Acredita que este é o momento certo. Há que apoiá-lo. Foi o que fiz ao vir da Argentina. + Como ‘embaixador’ da lista de Varandas, possibilid­ade academia na veria Argentina? de inaugurar com agrado uma a A Farei – É um o que projeto puder de para muito o apoiar futuro. e para mais à ajudar Argentina. o clube a abrir-se academia + Aceitaria ? ser o diretor dessa

A ramente – Se avançarem, disponível. estarei segu

acredita + Depois que de uma o Sporting época difícil, pode reerguer-se A – Espero que já esta sim. época? É-me muito difícil me, por pensar, que é que ou o Sporting explicarem- não é campeão 16 anos. Não há tanto consigo tempo. entender Já são porquê. Algo está a ser mal feito.

+ Dentro ou fora do clube? Há quem explique o insucesso com questões de arbitragem. A – Eu não iria por esse caminho.

+ O problema está lá dentro?

A – Está em quem joga, em quem dirige e em quem treina. Estes três pilares têm de estar mais fortes, mais unidos. Só assim vão ter sucesso. Haverá sempre más arbitragen­s para todas as equipas.

+ A candidatur­a de João Benedito tem André Cruz e Schmeichel, ex-companheir­os no Sporting. Quemganhae­ste duelo eleitoral, o avançado ou os defesas? A – O Schmeichel era bom guarda-redes. Defendia tudo mas faziam-lhe sempre golos [risos]! Se apoio o Frederico é porque tenho confiança nele. Pode ser um bom golo para o Sporting. + Falou com eles nesta fase?

A – Falei com o André Cruz e o Delfim. Cada um tem as suas ideias. O mais importante é o bem do Sporting. O Sporting tem de estar acima de tudo. + No seu tempo, quem mandava no balneário?

A – Era uma equipa de homens, com muitos jogadores experiente­s: Schmeichel, André Cruz, Beto, Pedro Barbosa, Vidigal, eu, Iordanov. Éramos muito unidos. Havia uma coluna vertebral e todos se apoiavam em todos. Sabíamos o que queríamos. + Augusto Inácio está na estrutura de futebol. Deveria ser aproveitad­o e continuar? A – Conheci-o como treinador. Ajudou-me muito, a mim e a toda a equipa, no sentido de conquistar­mos o título. Sei que ele gosta muito do Sporting, conhece bem o clube, mas a partir daqui já não saberia responder. É uma questão para os dirigentes. + O médico do Sporting à data, Fernando Ferreira, está hoje novamente no clube. A – É uma grande alegria. Gostava de poder revê-lo, a ele como ao Paulinho e outros. São pessoas muito queridas. Espero que possam continuar. *

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