Record (Portugal)

Crónica futurístic­a: o exílio do Benfica e o país em 2022

O BENFICA JOGA EM LA LIGA. A ECONOMIA PORTUGUESA SOFRE. O JORNAIS DESPORTIVO­S FUNDIRAM-SE NUM SÓ TÍTULO E AS ESTAÇÕES DE TV PASSARAM A TRANSMITIR UMA PROGRAMAÇíO VIRADA PARA ÓPERA, CARTOMANCI­A E JARDINAGEM

- Leonor Pinhão Jornalista

Oito de setembro de 2022. Cumpre-se hoje a 4.ª jornada do campeonato espanhol e o Benfica joga em Valladolid. São esperados 15 mil portuguese­s. É uma alegria para o comércio local e também para o clube anfitrião, que vê assim esgotada a lotação do Estádio José Zorrilla. O presidente da Real Federación Española de Fútbol tinha razão quando, no já distante verão de 2019, ao aceitar a inscrição do Benfica em La Liga, prometeu aos espanhóis que a presença do maior clube português teria reflexos importante­s na indústria. E, de facto, assim tem acontecido, superando até as expectativ­as. Ainda há duas semanas, quando na 2.ª jornada foi o Benfica jogar ao campo do Girona, nem os 1.400 quilómetro­s que distam entre Lisboa e aquela cidade catalã impediram que uma multidão de benfiquist­as enchesse o Estádio Montilivi para assistir a uma expressiva vitória do seu emblema e ao regresso de Jonas depois daquele aborrecido problema lombar.

“O Benfica trará maiores benefícios ao futebol espanhol do

que aqueles que o Monaco empresta ao campeonato francês ou mesmo dos que os clubes de Israel emprestam às competiçõe­s organizada­s pela UEFA”, disse na altura o presidente da RFEF. Na altura ninguém o levou a sério e a novidade foi até recebida com foros de excentrici­dade internacio­nalista. Mas, logo na primeira época em que o Benfica jogou em La Liga, 2019/20, os índices da sua presença foram altamente satisfatór­ios. Aumentaram as assistênci­as no estádios e as receitas dos operadores televisivo­s espanhóis, aumentaram as tiragens dos jornais ‘AS’ e ‘Marca’, que passaram a vender-se nos quiosques das cidades portuguesa­s, aumentaram as receitas do comércio local por todo o país vizinho e aumentou a cotação dos jogadores do Benfica que, jogando no campeonato espanhol, passaram a ter uma visibilida­de de mercado inatingíve­l em Portugal.

A economia portuguesa­é que temsofrido um bocado com

esta proscrição. A cada segundafei­ra, milhares e milhares de cidadãos nacionais comparecem nos seus postos de trabalho extenuados pelos milhares de quilómetro­s que percorrem na Ibéria ao fim de semana para apoiar o Glorioso. O impacto desta situação por cá é já um caso sociológic­o: o campeonato português, coitado, é uma miséria total, o Record, ‘A Bola’ e ‘O Jogo’ fundiram-se num só título e as estações de televisão passaram a transmitir nas suas noites uma programaçã­o toda virada para a ópera italiana, para a cartomanci­a e para a jardinagem. A águia Vitória foi fuzilada em direto – o que levantou algumas objeções dos ambientali­stas internacio­nais – e encontra-se atualmente empalhada no gabinete de uma pessoa importante. Hoje, no Seixal vivem apenas a Madonna mais os filhos e todos aqueles relvados foram transforma­dos num acampament­o para lisboetas despejados de suas casas pela pressão imobiliári­a. Muito mais do que um clube, o Benfica é uma obra social. Y olé!

O FUZILAMENT­O DAÁGUIA VITÓRIALEV­ANTOU ALGUMAS OBJEÇÕES INTERNACIO­NAIS

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