Record (Portugal)

As contas que Varandas herda

- André Veríssimo Diretor do Negócios

As eleições do Sporting mostraram um clube cheio de vitalidade, capaz de se renovar, de voltar a sorrir. Isso são, por si só, boas razões para acreditar no futuro. Se não existisse no clube uma estrutura capaz, Sousa Cintra teria tido dificuldad­e em fazer o bom trabalho que fez como presidente interino , tendo em conta as circunstân­cias adversas que encontrou.

Frederico Varandas acertou no

tom da vitória e no alvo principal: o Sporting fraturado. A união, fazendo a força, não chega. Frederico Varandas era diretor clínico, terá de ter no seu projeto quem o complement­e nas restantes competênci­as necessária­s para gerir uma SAD. Sem isso, dificilmen­te terá sucesso.

Prometer o campeonato nacional fica bem, mas essa é uma ambição natural em Alvalade. Dizê-lo é muito mais fácil do que consegui-lo. Além disso, o sucesso desportivo é só uma das frentes.

Há um legado de Bruno de Carvalho de que se fala menos: as contas.

No mesmo dia das eleições foram divulgadas as contas do ano fiscal 2017/18, assinadas por Sousa Cintra, mas cujos resultados têm de ser natural- mente imputados ao seu antecessor. Houve um óbvio esforço para que fossem conhecidas antes de o novo presidente tomar posse, porque pertencem à anterior gestão. Mas é comesse passado que Frederico Varandas terá de construir o futuro. E esse passado não é assim tão brilhante como Bruno de Carvalho gosta de fazer crer. Antes de Bruno de Carvalho a SAD tinha capitais próprios negativos de 120 milhões. A reestrutur­ação financeira feita no seu tempo equilibrou o balanço, mas é bom lembrar que ela aconteceu também por necessidad­e dos bancos, que nunca quiseram ficar no capital das SAD. Há, de resto, já outra restrutura­ção na forja e que Varandas vai herdar.

O resultado operaciona­l do clube foi positivo na primeira época completa de Bruno de Carvalho, a de 2013/14, mas foi negativo nas últimas duas, chegando a -18,7 milhões na de 2017/18. E isto acontece porque os rendimento­s operaciona­is do clube cresceram 160% nos últimos quatro anos, mas os gastos ainda mais, chegando aos 110 milhões. Ou seja, a operação Sporting continua sem ser rentável, dependendo sempre das vendas de jogadores. Quando não as há em valor suficiente…

PASSADO NÃO É ASSIM TÃO BRILHANTE COMO BRUNO DE CARVALHO GOSTA DE FAZER CRER A OPERAÇÃO SPORTING CONTINUA SEM SER RENTÁVEL, DEPENDENDO SEMPRE DAS VENDAS DE JOGADORES. QUANDO NÃO AS HÁ EM VALOR SUFICIENTE…

Com o prejuízo de quase 20 milhões no último ano fiscal, para o qual contribuír­am as rescisões, o saldo dos quatro anos de Bruno de Carvalho é negativo em 1,6 milhões de euros. E a conta inclui o maior lucro de sempre, registado no ano anterior.

Não se pode apagar o que houve de evolução positiva nos últimos anos. Mas equilíbrio financeiro não são palavras, são números. E os números são o que são.

 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal