Record (Portugal)

Um eterno dilema

-

AS SELEÇÕES VALORIZAM OS JOGADORES MAS PODEM PREJUDICAR O DESEMPENHO DELES NOS CLUBES. OS ADEPTOS, POR VEZES, NÃO GOSTAM DE TANTAS VIAGENS

a descansar para os próximos compromiss­os e não fazer viagens loucas para jogos particular­es.”

Na quinta-feira, estive com o Rodrigo, meu amigo de infância, e fomos beber café depois de almoço. O César, que é um fanático, não tem qualquer tatuagem relacionad­a com o Benfica, mas o Rodrigo apresenta nada menos de quatro com motivos leoninos no braço direito, cada qual com o seu significad­o. “O Battaglia atuou os 90 minutos pela seleção argentina. Impression­ante, Ro!”, disse-lhe. Fiquei uma vez mais a falar sozinho. “Éme igual. Quero é que seja titular na Taça da Liga e em todos os jogos do Sporting.” Nasexta-feira, dei umaentrevi­sta ao Porto Canal, ao meu amigo Rui Cerqueira, e voltei a cometer o erro. “Militão titular na seleção do Brasil e Felipe entrou na segunda parte”. Estavam outros portistas presentes e a resposta não se fez esperar. “Nesta altura da época eles deviam estar a treinar-se no Olival com o Sérgio Conceição e não com a seleção.” Recordo-me que quando estava no Atlético Madrid havia um dilema semelhante. Cada vez que jogava a seleção portuguesa, era uma luta terrível com o presidente Jesus Gil y Gil. Na altura não havia datas FIFA e foi sempre um dos grandes motivos das inúmeras guerras que ambos tivemos. No momento que a convocatór­ia da Seleção chegava às suas mãos, a primeira coisa que ele fazia era ligarme. Muitas vezes começava assim: “Português, foste convocado, mas nem penses em sair daqui. Não quero saber do teu país para nada, porque sou eu que te pago, não é a Federação portuguesa!”, dizia ele. E eu respondia: “O meu país é sagrado. Nunca deixei de dar o máximo no Atlético por causa da Seleção. Não me pode fazer isto outra vez..”

Eram discussões enormes que muitas vezes acabavam nas primeiras páginas dos jornais. Umas vezes ganhava eu a guerra, outras ele, especialme­nte nos jogos particular­es, obrigando-me assim a ficar em Madrid a ver Portugal jogar pela televisão. Sentia uma revolta, raiva e angústia enormes. Estares proibido pelo teu clube de representa­r o teu país é um castigo e uma injustiça tão grande, que nenhum profission­al merece passar por algo assim.

Estes jogos das seleções foram, são e sempre serão um tema polémico entre os adeptos, clubes, federações, treinadore­s, selecionad­ores, jogadores, FIFA e UEFA. Será sempre um eterno dilema.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal