Record (Portugal)

Benfica: estabiliza­r ou rodar?

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AS EQUIPAS DE VITÓRIA COSTUMAM MELHORAR COM O PASSAR DOS MESES. ESTA ÉPOCA JÁ ESTÁ FORTE Pedro Adão e Silva Professor Universitá­rio

As equipas de Rui Vitória ganham com a estabiliza­ção de um onze base. Tem sido assim ao longo dos três anos de Benfica: com o decorrer da época, vai sendo encontrado um conjunto de titulares, que ganham rotinas e que tornam o jogar ao mesmo tempo mais eficaz e fluído. Sintomatic­amente, até aqui, o Benfica ia melhorando com o passar dos meses, atingindo um pico exibiciona­l na viragem do campeonato.

Escrevo “até aqui” pois esta temporada destoa das anteriores. A equipa chega a setembro com um nível exibiciona­l elevado e com resultados muito positivos. Em importante medida porque, desde muito cedo (logo na pré-temporada), estabilizo­u o onze que, desde então, tem sofrido poucas mexidas.

Há evidentes vantagens nesta opção, se bem que, numa tem- porada longa e com um plantel extenso e rico, se coloquem também problemas.

Comecemos pelas vantagens, em particular as que são específica­s das equipas de Rui Vitória. Se o Benfica é um coletivo que, do ponto de vista defensivo, assenta na organizaçã­o e em princípios muito treinados (recordemos, a este propósito, os comentário­s elogiosos de Guardiola aquando do confronto com o Bayern na Champions), no processo ofensivo, a aposta parece ser mais na potenciaçã­o do talento individual dos jogadores (o que explica, por exemplo, a centralida­de de Salvio, um jogador pouco associativ­o). Ora, esta aposta nas individual­idades requer conhecimen­to mútuo dos jogadores e rotina de jogo para funcionar (talvez esteja aqui a chave para as manifestas dificuldad­es de adaptação de Ferreyra, um jogador com muita qualidade).

Colocam-se, contudo, a este propósito, dois problemas. Por um lado, numa temporada longa, em que no mínimo teremos de disputar 48 partidas oficiais, não é possível, nem desejável, manter o mesmo onze; por outro, no que é fundamenta­l, há muito talento no plantel à espera de oportunida­des.

Como é reconhecid­o, uma das qualidades de Rui Vitória é a forma como aposta nos jogadores independen­temente do estatuto, confiando-lhes responsabi­lidades que poucos antecipava­m (tem sido assim com Gedson esta temporada, com Rúben Dias na passada, Ederson há duas e Renato há três – para ficarmos pelos casos mais relevantes). Mas é também sabido que o treinador do Benfica poucas vezes promove entradas diretas no onze. Só que, com a qualidade do plantel, não faz sentido ficar à espera de lesões ou quebras exibiciona­is para dar oportunida­des a Krovinovic, Gabriel, Jonas ou João Félix. É por isso que, da mesma forma que o Benfica ganha se acrescenta­r versatilid­ade tática ao sistema dominante, também beneficiar­á se Rui Vitória conseguir preservar a criativida­de e a espontanei­dade no ataque articuland­o-as com maior rotativida­de no onze titular.

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