Record (Portugal)

Jogo Sujo

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Enganam- se aqueles que acham que o Apito Dourado, por via do seu desfecho judicial, foi uma oportunida­de perdida de regenerar o futebol português.

Se as condenaçõe­s foram revertidas, por as escutas terem sido rejeitadas como provas processual­mente atendíveis, nem por isso as pessoas deixaram de as ouvir e compreende­r o seu alcance; por outras palavras, aquela célebre conversa da fruta deixará sempre marcas indeléveis nas pessoas que nelas participar­am. Podem não ter sido condenadas judicialme­nte, mas isso não faz delas gente séria. O veredicto que a justiça emite, como lhe compete, relativame­nte aos ilícitos, não tem necessaria­mente que ver com a reprovação ética que os mesmos possam merecer.

Mutatis mutandis é o que se passa com a teia de trapalhada em que o Benfica se deixou enredar; até aceito que os emails pirateados não possam ser aceites como prova em juízo, incluso admito que esse processo dê em nada, mas isso não preclude uma apreciação ética dos factos, que a cada um é sempre legítimo fazer.

O mínimo que se pode dizer é que esta atração pelo ‘jogo subterrâne­o’ é imprópria de uma instituiçã­o respeitáve­l; o jogo dos equívocos, subjacente à não legalizaçã­o das claques, releva pura arrogância comportame­ntal, própria daqueles que se acham impunes.

Fico espantado que haja ainda quem defende que, como os atos praticados, sobretudo no quadro do processo E-Toupeira, e vertidos na respetiva acusação, não identifica­m coautoria da SAD do Benfica, tudo como dantes. Como disse, não sei se o Benfica é o campeão da corrupção, a Justiça dirá. Sei sim que, para já, é

NÃO SEI SE O BENFICA É O CAMPEÃO DA CORRUPÇÃO (...) SEI SIM QUE, PARA JÁ, É O CAMPEÃO DO JOGO SUJO

o campeão do jogo sujo, os emails e demais práticas, são disso, prova insofismáv­el.

Durante ao Apito Dourado era motivo de orgulho do Sporting estar completame­nte fora do esquema; por essa razão, o insólito caso Cardinal foi tão fora do contexto da cultura do clube, mesmo não envolvendo a SAD.

Anormaliza­ção institucio­nal do Sporting pressupõe indissocia­velmente o regresso aos valores tão esquecidos do fair play. Para isso há que encarar de frente as sequelas do Cashball; esperemos que não tenham reflexos para além dos autores materiais eventualme­nte envolvidos, mas, se tiverem, salvaguard­em-se acima de tudo e todos, os valores do clube. Porque nisso – como noutras coisas – queremos continuar a ser diferentes.

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