EM NOME DA IGUALDADE
Intersexualidade e transexualidade no desporto estiveram em debate no COP
Sob o lema do princípio da igualdade, o Comité Olímpico de Portugal (COP) promoveu ontem uma conferência em que foram abordados alguns dos temas sensíveis mais discutidos na sociedade, como a intersexualidade e a transexualidade no desporto de alto rendimento. A espanhola María José Martínez-Patiño, assessora do Comité Científico do Tribunal Arbitral do Desporto (TAS), falou da sua experiência e deixou algumas reflexões. “Sempre houve mulheres com cromossomas XY. Têm identidade de género de mulher e, ao contrário do que pensam, apresentam desvantagem desportiva face a mulheres de cromossoma XX, porque a testosterona não é funcional”, começou por explicar a antiga campeã nacional espanhola dos 100 metros barreiras, tendo travado uma enorme luta nas pistas e nos tribunais para fazer valer a sua feminilidade, depois de em 1985 lhe ter sido detetada no organismo a presença de cromossomas XY, o que a fez perder o currículo desportivo.
“Não nos podemos esquecer de que estas pessoas não têm culpa. A natureza tem o mau costume de
“SÓ AGORA A SOCIEDADE SE MOSTRA ABERTA PARA DISCUTIR TEMAS SENSÍVEIS”, REFERE MARTÍNEZ-PATIÑO
ser criativa e nós somos o que somos, produtos da genética. Há não muito tempo, em 1966, um painel de médicos inspecionava visualmente os genitais das mulheres para saberem se podiam competir”, lembrou MartínezPatiño, que deixou ainda críticas ao tratamento de informação ao caso de, por exemplo, Caster Semenya, atleta sul-africana que no Mundial’2009 de Berlim causou enorme polémica à volta da sua androginia e deixou uma sugestão para o futuro. “Todas as pessoas que coloquem em causa o sexo de uma atleta sem justificação devem ser sancionadas. É preciso prevenir ainda a fraude feminina, proteger os direitos e a dignidade das mulheres afetadas. Tenho feito um trabalho difícil mas recompensador. Ainda há muito por fazer. É um processo lento e só agora é que a sociedade se mostra aberta a refletir sobre estes temas. Casos tão mediáticos como Caster Semenya não podem ser repetidos”, explicou. *