Record (Portugal)

AS MUASAS ACORDARAM A TEMPO

O futebol leonino foi desconexo, burocrátic­o, sem chama. No fim, Montero assinou pérola e Jovane repetiu o que tem feito em toda a época

- CRÓNICA DE RUI DIAS

obra-prima de Montero e um lance em que Jovane confirmou a arte de estar no sítio certo à hora certa, permitiram ao Sporting obter um resultado incomensur­avelmente melhor do que a exibição. Decorria o minuto 90 de um jogo em que os leões nunca foram capazes de despertar as musas da inspiração quando os verdes e brancos chegaram ao empate, num lance esplendoro­so de Montero, totalmente descontext­ualizado do jogo – em hora e meia, nunca a equipa revelara talento para contrariar a imagem de um futebol inexpressi­vo, burocrátic­o, sem soluções e, mais importante a partir de certa altura, incapaz de gerar esperança.

Com o passar do tempo, o Vorskla, a vencer desde cedo, acreditou ser possível manter as coisas tal como estavam sem precisar de olhar para a baliza de Salin. Em boa verdade, tudo apontava nesse sentido, tal a desconexão do futebol leonino. Ninguém podia prever que, em 3 minutos, o Sporting conseguiss­e encontrar a arte e o engenho que lhe faltaram durante todo o jogo.

Péssima exibição

Os primeiros 45 minutos foram penosos, mais ainda pelo facto de o Vorskla se ter adiantado no marcador aos 10 minutos. O golpe sofrido não impulsiono­u o Sporting para a revolta, antes acentuou a inércia; a equipa não foi capaz de se unir à volta da bola, com uma circulação precisa que roubasse a iniciativa ao adversário e estabelece­sse correlação de forças favorável. O leão passou o tempo todo mostrando que é melhor em quase tudo, com mais e melhores soluções individuai­s e coletivas, embora assumindo uma atitude passiva, quase indiferent­e ao que estava a suceder. E nunca se impôs porque somou erros primários, principalm­ente quando se propôs construir futebol de ataque. Chegou a ser confranged­or, essa é a grande verdade. O problema da desinspira­ção, que afetou cada elemento da equipa, é que os ucranianos ganharam confiança com o tempo e acreditara­m cada vez mais que era possível prolongar o estado de graça. O Sporting ajudou à convicção porque não articulou três passes seguidos em ações ofensivas e poucos foram os jogadores que, recebendo a bola, se viravam para a baliza e se propunham a abalar a solidez da muralha contrária. Os últimos lances do primeiro tempo, no entanto, suscitaram a esperança de mudança: aos 45’+1, Nani desperdiço­u grande ocasião, na pequena área, ao rematar para

defesa do guarda-redes – no seguimento concluiu de cabeça o canto apontado no flanco direito, levando a bola a passar sobre a barra. O Sporting ia para o intervalo com um sorriso amarelo nos lábios, mas impulsiona­do por uma aragem de esperança.

Arsenal criativo

O segundo tempo pouco ou nada alterou a feição do jogo. A mudan- ça foi gradual e teve duas explicaçõe­s: o Vorskla perdeu de vista a baliza de Salin e o Sporting melhorou com as entradas de Montero, Jovane e Raphinha. Da conjugação entre o pragmatism­o ucraniano, ao entender que lhe bastaria defender bem para ganhar, e o risco de José Peseiro, introduzin­do um arsenal ofensivo de golo e criativida­de, nasceu uma realidade diferente. Não um jogo de grande intensidad­e ofensiva leonina, geradora de muitas situações perigosas, mas um duelo que passou a ter o meio-campo ucraniano como palco principal das operações. De uma bola longa atirada para a área, Montero respirou fundo, encheuse de brios e criou uma pérola que valeu o empate; 3 minutos depois, em transição rápida, Jovane estava ali, no sítio certo, à hora certa, para selar a vitória. Não tem feito outra coisa desde o início da época. *

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