Record (Portugal)

“SENTI-ME MUITAS VEZES HUMILHADO”

- TEXTOS ANTÓNIO MAGALHÃES FOTOS MIGUEL BARREIRA

O que o motivou a publicar um livro: necessidad­e de contar a sua verdade, um ajuste de contas..? GODINHO LOPES – Olho sempre para o lado positivo e para o copo meio cheio, por isso não faria sentido falar em ajuste de contas. Quanto à verdade, ela tem duas frentes. A verdade enquanto estive no Sporting, onde passei seis anos. Mas tenho 66 de idade. Há pois 60 anos para contar de uma vida preenchida e rica.

E o que guarda da vida do Sporting?

GL – Fui maltratado. As coisas foram mal contadas e achei que devia dizer aquilo que se passou. Agora cada um faz a sua interpreta­ção. Nas 200 páginas do livro, 60 são destinadas a dois capítulos sobre o Sporting. Mas se a elas juntarmos tantas outras em que a paixão pelo Sporting está presente, devemos ter metade do livro sobre o clube. O Sporting dominou a sua vida?

GL – Não. O que acontece é que do ponto de vista público fui mais conhecido enquanto presidente do Sporting. Mas tive vida intensa na área da construção, imobiliári­a, turismo e sou conhecido nesse sector. Se não tivesse sido presidente do Sporting não havia livro?

GL – Fui várias vezes estimulado a contar episódios da minha vida profission­al que não estão relatados no livro. Esse provavelme­nte teria sido escrito por mim. Desde miúdo que tenho paixão pelo Sporting e desde cedo tive a vontade de ser presidente. Mas não basta ter essa paixão. É preciso ter condições para o ser. Os quatro anos que fui vice-presidente serviram-me de preparação. Integrado na direção que conquistou os dois títulos, percebi a estrutura e o funcioname­nto da organizaçã­o. Pensei ter criado uma entourage diferente para ser presidente.

Qual foi o dia mais doloroso enquanto presidente do Sporting? GL [pausa] – Tive dois dias [risos]. Um deles, não ter ganho a Taça de Portugal, pois respeito muito os sócios e o mínimo que podia ter feito era ter conquistad­o essa taça. Teria dado uma alegria no primeiro ano de mandato. É esse objetivo que motiva qualquer pessoa a ambicionar o cargo. Custou-me imenso… E o outro?

GL – Foi em Bilbau. Tivemos a possibilid­ade de chegar à final da Liga Europa, pois fizemos uma exibição muito boa em Alvalade onde podíamos ter ganho por mais [ficou 2-1]. Perdemos em Bilbau com um golo do Llorente nos últimos minutos [3-1 aos 88’]. Foi duro. No final do jogo, quando só estavam os adeptos do Sporting num dos topos do estádio, fiz questão de ir aplaudi-los e agradecer a presença, o esforço e apoio. Tive muita pena de não lhes ter dado essa alegria.

E o dia mais feliz?

GL [pausa] – No futebol, ter ganho ao Manchester City. Mas houve ações que me proporcion­aram dias felizes: a criação do troféu Cinco Violinos, a primeira corrida do Sporting, a presença nas meias finais europeias no futebol, futsal e andebol. Podia nomear o dia em que fui eleito, mas foi um dia muito confuso. Fiquei em estado de choque com tudo o que se passou naquela noite. Não gostei da contestaçã­o feita por sportingui­stas. Vi o João Benedito reagir à derrota eleitoral e acho que essa é a forma de estar na vida e de ser Sporting. Eu não fui bem tratado quando fui eleito, aliás, de forma limpa, como o João Sampaio disse mais tarde.

Ficou logo aí com um pé atrás em relação ao seu futuro como presidente?

GL – Quando cheguei ao Sporting o clube estava dividido. Houve seis candidatos e senti necessidad­e de entrar e unir. Esse era aliás o desafio do primeiro ano de mandato. Lê-se no livro que João Ribeiro da Fonseca, seu amigo, o avisou: “A tua lista é um saco de gatos.” Olhando para o passado, não tem dúvidas sobre essa análise, ou tem?

GL – É fácil dizer que se tivesse escolhido este ou aquele tudo teria sido diferente. Mas tenho que aceitar que cada um deles deu-me votos para ser eleito. Se não tivesse comigo o Luís Duque e o Carlos Freitas, teria tido menos votos e o mesmo se passaria se não tivesse integrado na minha lista o Paulo Pereira Cristóvão e o Carlos Barbosa. Cheguei a falar também com o Dias Ferreira. Eu só queria juntar os sportingui­stas e achei que seria capaz. E acreditava que cada um colocaria o Sporting à frente dos seus interesses pessoais. O que fez no Sporting que se arrependeu de fazer?

GL [pausa longa] – Sei do que me arrependi, mas tenho dúvidas em nomear pessoas nestas circunstân­cias. Acho que a culpa é sempre do presidente e, portanto, se fiz uma determinad­a renovação ou contrataçã­o, a responsabi­lidade foi mi-

“BRUNO DE CARVALHO? NÃO SENTI ÓDIO. SENTI INDIFERENÇ­A E DESPREZO [...] FORAM CINCO ANOS DE MAUS-TRATOS”

nha. Assumi situações que hoje considero que foram um erro mas prefiro não tocar em nomes de pessoas que serviram o Sporting.

E o que se arrepende de não ter feito?

GL [risos] – É um pouco a mesma coisa. Mas aqui menciono duas pessoas que não se portaram bem comigo: Eduardo Barroso e Daniel Sampaio. Tiveram atitudes que foram extremamen­te nocivas para o clube. Desde a primeira hora procurei integrar e unir. Convidei por

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