“SENTI-ME MUITAS VEZES HUMILHADO”
O que o motivou a publicar um livro: necessidade de contar a sua verdade, um ajuste de contas..? GODINHO LOPES – Olho sempre para o lado positivo e para o copo meio cheio, por isso não faria sentido falar em ajuste de contas. Quanto à verdade, ela tem duas frentes. A verdade enquanto estive no Sporting, onde passei seis anos. Mas tenho 66 de idade. Há pois 60 anos para contar de uma vida preenchida e rica.
E o que guarda da vida do Sporting?
GL – Fui maltratado. As coisas foram mal contadas e achei que devia dizer aquilo que se passou. Agora cada um faz a sua interpretação. Nas 200 páginas do livro, 60 são destinadas a dois capítulos sobre o Sporting. Mas se a elas juntarmos tantas outras em que a paixão pelo Sporting está presente, devemos ter metade do livro sobre o clube. O Sporting dominou a sua vida?
GL – Não. O que acontece é que do ponto de vista público fui mais conhecido enquanto presidente do Sporting. Mas tive vida intensa na área da construção, imobiliária, turismo e sou conhecido nesse sector. Se não tivesse sido presidente do Sporting não havia livro?
GL – Fui várias vezes estimulado a contar episódios da minha vida profissional que não estão relatados no livro. Esse provavelmente teria sido escrito por mim. Desde miúdo que tenho paixão pelo Sporting e desde cedo tive a vontade de ser presidente. Mas não basta ter essa paixão. É preciso ter condições para o ser. Os quatro anos que fui vice-presidente serviram-me de preparação. Integrado na direção que conquistou os dois títulos, percebi a estrutura e o funcionamento da organização. Pensei ter criado uma entourage diferente para ser presidente.
Qual foi o dia mais doloroso enquanto presidente do Sporting? GL [pausa] – Tive dois dias [risos]. Um deles, não ter ganho a Taça de Portugal, pois respeito muito os sócios e o mínimo que podia ter feito era ter conquistado essa taça. Teria dado uma alegria no primeiro ano de mandato. É esse objetivo que motiva qualquer pessoa a ambicionar o cargo. Custou-me imenso… E o outro?
GL – Foi em Bilbau. Tivemos a possibilidade de chegar à final da Liga Europa, pois fizemos uma exibição muito boa em Alvalade onde podíamos ter ganho por mais [ficou 2-1]. Perdemos em Bilbau com um golo do Llorente nos últimos minutos [3-1 aos 88’]. Foi duro. No final do jogo, quando só estavam os adeptos do Sporting num dos topos do estádio, fiz questão de ir aplaudi-los e agradecer a presença, o esforço e apoio. Tive muita pena de não lhes ter dado essa alegria.
E o dia mais feliz?
GL [pausa] – No futebol, ter ganho ao Manchester City. Mas houve ações que me proporcionaram dias felizes: a criação do troféu Cinco Violinos, a primeira corrida do Sporting, a presença nas meias finais europeias no futebol, futsal e andebol. Podia nomear o dia em que fui eleito, mas foi um dia muito confuso. Fiquei em estado de choque com tudo o que se passou naquela noite. Não gostei da contestação feita por sportinguistas. Vi o João Benedito reagir à derrota eleitoral e acho que essa é a forma de estar na vida e de ser Sporting. Eu não fui bem tratado quando fui eleito, aliás, de forma limpa, como o João Sampaio disse mais tarde.
Ficou logo aí com um pé atrás em relação ao seu futuro como presidente?
GL – Quando cheguei ao Sporting o clube estava dividido. Houve seis candidatos e senti necessidade de entrar e unir. Esse era aliás o desafio do primeiro ano de mandato. Lê-se no livro que João Ribeiro da Fonseca, seu amigo, o avisou: “A tua lista é um saco de gatos.” Olhando para o passado, não tem dúvidas sobre essa análise, ou tem?
GL – É fácil dizer que se tivesse escolhido este ou aquele tudo teria sido diferente. Mas tenho que aceitar que cada um deles deu-me votos para ser eleito. Se não tivesse comigo o Luís Duque e o Carlos Freitas, teria tido menos votos e o mesmo se passaria se não tivesse integrado na minha lista o Paulo Pereira Cristóvão e o Carlos Barbosa. Cheguei a falar também com o Dias Ferreira. Eu só queria juntar os sportinguistas e achei que seria capaz. E acreditava que cada um colocaria o Sporting à frente dos seus interesses pessoais. O que fez no Sporting que se arrependeu de fazer?
GL [pausa longa] – Sei do que me arrependi, mas tenho dúvidas em nomear pessoas nestas circunstâncias. Acho que a culpa é sempre do presidente e, portanto, se fiz uma determinada renovação ou contratação, a responsabilidade foi mi-
“BRUNO DE CARVALHO? NÃO SENTI ÓDIO. SENTI INDIFERENÇA E DESPREZO [...] FORAM CINCO ANOS DE MAUS-TRATOS”
nha. Assumi situações que hoje considero que foram um erro mas prefiro não tocar em nomes de pessoas que serviram o Sporting.
E o que se arrepende de não ter feito?
GL [risos] – É um pouco a mesma coisa. Mas aqui menciono duas pessoas que não se portaram bem comigo: Eduardo Barroso e Daniel Sampaio. Tiveram atitudes que foram extremamente nocivas para o clube. Desde a primeira hora procurei integrar e unir. Convidei por