Record (Portugal)

DORMIR AO LADO DO CAMPO DA MORTE Câmara de gás à porta de casa

- PEDRO GONÇALO PINTO. CHORZOW

UM DOS MAIORES TERRORES DA HUMANIDADE

O sol brilhava em Oswiecim. Mas não havia luz ou calor que evitasse a nuvem negra que ainda hoje paira sobre o campo de concentraç­ão de Auschwitz-Birkenau, um inferno onde 1,1 milhões de pessoas, na maioria judeus, morreram nas mãos das forças nazis entre 1940 e 1945. Ninguém consegue sorrir dentro dos muros deste gigantesco complexo, enquanto a Seleção Nacional descansa num hotel a 40 quilómetro­s. Tão perto que a equipa de reportagem de Record não perdeu a oportunida­de de conhecer um dos locais mais marcantes na História da humanidade.

O início da ‘viagem’ fica marcado pelo portão de entrada no campo. “O trabalho liberta-te”, pode ler-se. Para quem já conhece a História, o peso cai logo sobre os ombros, mas a questão é que as vítimas não faziam ideia daquilo que as esperava. Judeus – e não só – de um pouco de toda a Europa iam para Auschwitz de comboio e... pagavam bilhete. Passavam uma semana sem comer nem beber e muitos morriam antes de chegar. Quem alcançava o solo polaco passava pela triagem onde era decidido o seu prazo de validade. Se estivesse apto para trabalhar, seguia para um banho de água gelada ou a ferver, antes de ser colocado a fazer trabalhos forçados. Quando já não conseguiss­e, a câmara de gás estava à espera. Os que chegavam e para nada ‘ser- viam’ iam para um banho, diziam-lhes. Nada disso. Uma das câmaras de gás – a maior matava 2.000 pessoas – era o destino final. Durante cerca de duas horas, conhecemos pormenores macabros, como o facto de as SS terem guardado 7 toneladas de cabelo, ainda hoje expostas, com o propósito de fazer almofadas. Também ficavam com próteses de pessoas com deficiênci­a, enquanto obrigavam judeus a queimar outras vítimas, entre elas... familiares. Uns morriam à fome em celas com pequenos buracos para entrar ar, outros eram executados à luz do dia na parede da morte e ainda houve quem fosse para o ‘hospital’. Com plicas porque lá eram conduzidas experiênci­as a que ninguém queria ser submetido. A terminar, uma frase exposta durante a visita para fazer pensar: “Aqueles que não conseguem lembrar o passado estão condenados a repeti-lo.”   Entre os pormenores macabros descritos pela guia da visita ao campo de Auschwitz-Birkenau, surgiu um ainda mais inesperado. Acontece que a casa da família do comandante, onde vivia a mulher e os seus filhos, era mesmo dentro do campo. Mas há mais. Não só um dos filhos nasceu mesmo em Auschwitz como a habitação, onde as crianças brincavam normalment­e, estava a uns meros 200 metros de uma das câmaras de gás. Nessa específica, cerca de 700 prisioneir­os podiam ser mortos de uma só vez.

Cerca de 40 quilómetro­s separam a Seleção de Auschwitz, inferno que Record visitou “O TRABALHO LIBERTA-TE”, LÊ-SE NO CARTAZ QUE RECEBIA OS PRISIONEIR­OS. NINGUÉM SABIA PARA O QUE IA...

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TRANCADO. Era quase impossível fugir de Auschwitz
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