Record (Portugal)

A via-sacra de Cristiano Ronaldo

- Rui Calafate Consultor de comunicaçã­o

JÁ SÃO POUCOS OS QUE ACREDITAM QUE MAYORGA SEJA UMA VÍTIMA. A SUPREMA IRONIA É OUVIR AGORA UM SANTIAGO BERNABÉU A ENTOAR O SEU NOME QUE ALI É SINÓNIMO DE SAUDADE. SIM, COMO DIZ O PROVÉRBIO, QUEM RI POR ÚLTIMO, RI MELHOR

Quando vi o prémio Puskas ser atribuído a Salah, ali vi o custo que Cristiano Ronaldo teve em abandonar o Real Madrid. Digam o que disserem, o gigante espanhol porta-se com o seu melhor jogador de sempre, juntamente com Di Stefano, com a arrogância, sobranceri­a e sede de sangue com que Cortez e Pizarro trataram os povos colonizado­s, enquanto sacavam toda a prata e ouro que podiam. Ninguém tenha dúvidas que o Sr. Florentino Perez quer vingança pela saída do astro português e nunca Modric – um grande jogador, sem dúvida – ganharia troféus se o nosso português por ali continuass­e.

Ninguém é intocável e se pre

varicou deve ser punido, quem quer que seja, mas tantos anos depois aparecer uma cavalheira americana que já recebeu mais de 300 mil euros por obra e graça dos conselhos do Real Madrid, que investiram na altura mais de 90 milhões de euros num jovem que viria a ser um dos maiores de todos os tempos, que não queria confusões no momento da assinatura cheira-me a esturro. Odeio todos os violadores, mas uma vítima depois do pseudo-sucedido não volta para uma discoteca com quem lhe fez mal, fica traumatiza­da. Este assunto já morreu, porém, a força e a marca Cristiano Ronaldo que é global levam o falatório a todo o lado, contudo, já são poucos os que acreditam que a dita Mayorga seja uma vítima, pois já perceberam que é uma ave de rapina como tantas que rodeiam quem anda no mundo do futebol. Ouvi durante estes dias mui-

tos, até alguns que nada percebem do assunto, a opinar sobre a quebra de valor da marca Cristiano Ronaldo. O que é certo é que nenhum patrocinad­or se afastou e alguns defenderam-no de imediato, bem como o seu novo clube, a Juventus, que cerrou fileiras em torno dele dando o apoio a que tantas vezes noutras circunstân­cias, nomeadamen­te nas questões fiscais, o Real Madrid se furtou. Mas há algo que ninguém mencionou: a importânci­a de Cristiano Ronaldo para Portugal. Há 20 anos visitei vários países de Leste, ninguém sabia muito bem onde era Portugal. Dez anos depois, com o poder do seu talento, com a sua inquebrant­ável força mental, com o seu apetite voraz por se superar diariament­e e bater todos os recordes, ajudou enormement­e a colocar Portugal no mapa e isso é uma dívida que os portuguese­s nunca lhe poderão pagar, apenas agradecer. E bem dizia Jorge Jesus, num sms enviado para o meu amigo e grande jornalista José Manuel Freitas, distinto colunista de Record e comentador da CMTV que relatou em directo na emissão de quarta-feira, que na Arábia Saudita podem não saber onde é o nosso País mas são muitos os “outdoors” com a sua imagem por lá.

Cabe a Cristiano Ronaldo, mais uma vez, ultrapassa­r esta viasacra fazendo o que gosta, marcando golos e ganhando títulos em solo italiano. E a suprema ironia e o seu maior gozo é ver um Real Madrid a patinar sob a batuta de Julen Lopetegui e ouvir agora um Santiago Bernabéu, onde tantas vezes não lhe deram as honras merecidas e o destratou, a entoar o seu nome que ali é sinónimo de saudade. Sim, como diz o provérbio, quem ri melhor, ri por último.

Texto escrito na antiga ortografia

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