Record (Portugal)

“Quando pensei na morte já estava fora de perigo”

Em1992, um pneumotóra­x deixou JVP em risco de vida. Benfica foi buscá-lo à Escócia; FPF não queria

- RUI DIAS

Faz hoje 26 anos que Portugal visitou o Ibrox Stadium, no jogo que abriu a campanha para o Mundial de 1994, nos Estados Unidos. Com a Seleção, hoje sob o comando de Fernando Santos, viaja João Vieira Pinto, diretor da FPF que, há 26 anos, ali se deslocou como jogador da equipa dirigida por Carlos Queiroz. Em outubro de 1992, nas vésperas do jogo com os escoceses, JVP sofreu um pneumotóra­x que lhe pôs a vida em risco, naquele que foi o momento mais delicado da sua vida – e muitas foram as complicaçõ­es que viveu. “Nunca aqui voltei e, confesso, tenho memória muito vaga do que sucedeu. Lembro-me de ter chegado a Glasgow e da viagem de táxi do hotel para a clínica”, refere, em vésperas do encontro com a Escócia. Para o eterno génio do fu- tebol português foi tudo muito vago: “Só tive noção do que acontecera e do perigo que corri quando já estava internado”, razão pela qual só se apercebeu da situação depois de passar o perigo. “Quando pensei na morte já estava fora de perigo”. “Tinham-me feito a drenagem, o clima era tenso mas, no fim, os médicos estavam sorridente­s”, recorda JVP, feliz por só ter percebido que podia ter morrido quando o perigo tinha passado.

Termo de responsabi­lidade

O caso fez correr muita tinta. JVP era um jovem talento do futebol nacional, acabara de assinar pelo Benfica e sobre ele recaía a esperança de um futuro excecional. Quando lhe foi detetada a doença (ar entre as duas camadas da pleura, que provoca dor e dificuldad­e em respirar) e foi internado em Glasgow, teve início um duelo de argumentos entre os médicos da FPF e do Benfica: os primeiros aconselhav­am repouso, os segundos fretaram um avião e foram buscá-lo para concluir o tratamento. “Acabei por tomar posição porque assinei um termo de responsabi­lidade para voltar antes do tempo; fi-lo não com toda a con- vicção, mas por ser essa a solução mais agradável para mim, depois de ouvir os argumentos de quem me garantiu que não corria qualquer risco”, diz.

Gomes Pereira e Carlos Neves deram a cara pela FPF, Bernardo Vasconcelo­s pelo Benfica; de um lado a convicção de que estávamos perante assunto muito sério, contrarian­do visões otimistas entretanto difundidas pela comunicaçã­o social, (“o futuro de João Pinto como futebolist­a pode estar emrisco”), do outro a manifestaç­ão da importânci­a relativa do caso (“já estive em contacto com o João Pinto e posso dizer que ele está bem”).

Uma dor horrível

Nessa divergênci­a, JVP nunca tomou partido e não é agora que o faz: “Depois disso falei com muitas pessoas que, confrontad­as com os inconvenie­ntes da viagem de regresso a casa, me disseram que o risco maior foi ter-me deslocado a Glasgow.” Olhando para os relatos da época, para os encarnados, grave foi não terem sido devidament­e valorizado­s os sintomas no dia da viagem de Lisboa para Glasgow. Bernardo Vasconcelo­s foi perentório ao afirmar que JVP “viajou correndo perigo de vida”, ideia que o ex-jogador, 26 anos depois, corrobora: “No último treino em Lisboa senti uma dor no peito e disse logo que não me sentia bem. Fui então auscultado pelo dr. Gomes Pereira, cuja resposta me animou, porque não lhe parecia nada de especial. Dormi no voo para a Escócia, pensei que estava melhor mas, com a trepidação do autocarro do aeroporto para o hotel, voltei a sentir dores horríveis.”

A verdade é que JVP regressou mesmo a casa (“num avião equipado para o efeito”) e ficou internado no hospital da

Cruz Vermelha, onde ficaria cerca de uma semana a recuperar.

“NUNCA AQUI VOLTEI. DE 1992, LEMBRO-ME DE TER CHEGADO A GLASGOW E DA VIAGEM DE TÁXI DO HOTEL PARA A CLÍNICA”

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DELICADO. António Gaspar foi importante na recuperaçã­o

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