RICARDO SANTOS
Por cada quilómetro percorrido decidiu oferecer uma verba a uma instituição social
Os desafios são uma constante na vida de Ricardo Santos, que há dois anos e meio aprendeu a... nadar, para participar, e concluir com êxito, o Ironman 70.3 em Cascais, em setembro do ano passado. O ‘bichinho’ do triatlo ficou e, de imediato, o diretor de serviços da Cooperativa Agrícola de Alcobaça abraçou um novo desafio: concluir, em dez horas, o Ironman de Barcelona, mas desta feita com um objetivo solidário, pois doou um euro ao Centro de Educação Especial, Reabilitação e Integração de Alcobaça (CEERIA) por cada quilómetro que completou nas várias provas de preparação ao longo do ano. “Foi duro chegar até aqui, porque era preciso treinar três modalidades e havia o grande obstáculo de não saber nadar. Além disso, era preciso desenvolver e treinar as longas distâncias. Foi um processo de quem não tinha um passado enquanto triatleta, como se começasse um projeto com uma folha em branco”, lembra Ricardo Santos, que ficou a ganhar em todas as frentes. O propósito do atleta do Clube de Natação Colégio Vasco da Gama era simples: “Passar a mensagem de que tudo é pos- sível. Há pessoas com próteses ou com mais de 70 anos a terminar as provas de Ironman. Se eles conseguem, todos conseguimos. É uma prova que exige muita superação, tanto a nível físico como mental.” No passado domingo, em Calella, precisou de 10 horas, 8 minutos e 42 segundos para cumprir o percurso de 113 km (1,9 km de natação, 90 km de ciclismo e 21,1 km de corrida) e tornar-se um ‘homem de ferro’. Uma marca que permitiu ser o melhor dos portugueses no escalão 45-49 anos e colocar o alcobacense no pódio da superação física e psicológica. A preparação foi longa e obrigou a muitos ajustamentos. “Quem tem uma profissão e quer embarcar numa aventura destas tem de se disciplinar muito. Estamos a falar de treinar três modalidades, com um consumo de tempo três vezes superior”, salienta o gestor, que chegou a levantar-se às 5 horas da madrugada para treinar-se. “É preciso abdicar de tempo da família e amigos, pois todo o tempo é para o desporto e isso obriga a um planeamento rigoroso dos treinos”, frisa o triatleta, feliz por ter cumprido a marca a que se propôs e que só não foi melhor devido a uma penalização de 5 minutos. “Se tivesse planeado 12 horas e feito as 12, a sa- tisfação era a mesma. Ou seja, não é uma satisfação pelo tempo, mas pela concretização do planeamento”, resume, antes de sublinhar: “Chega a ser assustador pensar na capacidade do corpo humano em superar-se.”
Força adicional
Neste percurso tiveram papel crucial o treinador Nuno Rijo, Francisco Oliveira (natação), Pedro Garcia (fisioterapia) e Andreia Castro (nutricionista). “É uma equipa sensacional e que me ajudou imenso”, diz Ricardo Santos, que teve nos utentes do CEERIA uma “força adicional” de motiva- ção. “A vertente social é um pano de fundo que se estendeu ao longo do projeto e lhe deu grande sustentabilidade. Os dias em que temos um treino mais longo, porque está a chover ou calor, ou estamos aborrecidos com o trabalho, fazem-nos pensar que há pessoas que diariamente têm de passar por provas de superação para executar tarefas simples para nós. Estas pessoas merecem uma medalha do Ironman todos os dias”, nota. *
APRENDEU A NADAR HÁ DOIS ANOS E MEIO, MAS COMPLETOU O IRONMAN DE BARCELONA EM POUCO MAIS DE 10 HORAS