Record (Portugal)

Título é uma 'obsessão'

ABRE O CORAÇÃO EM ENTREVISTA EXCLUSIVA A RECORD

- TEXTOS JOÃO SOARES RIBEIRO E RICARDO GRANADA FOTOS PEDRO SIMÕES

“Não sabíamos o que fazer pois ninguém tinha vivido um momento assim”

“Contrato? Não sei se vai ser renovado”

“Leonardo Jardim foi o treinador que mais me marcou”

“Mudou totalmente a forma como nos dirigimos a Frederico Varandas”

Esteve na Academia no dia do ataque ao plantel. Agora com algum distanciam­ento pode recordar esses momentos e revelar o seu estado de espírito após as agressões?

MONTERO – Como o de qualquer jogador num momento de pânico. O futebol ficou de lado e só pensamos na nossa família, e que há pessoas que dependem de nós e do nosso trabalho. Foi a única vez que senti isso. Mas já passou. Recordamos o que aconteceu com muita dor, não se pode acontecer no futebol. O futebol é para desfrutar com a família, é um desporto com três resultados possíveis: ganhar, empatar ou perder... Isso é mais importante que os benefícios económicos, o prestígio internacio­nal ou os troféus que possas conquistar. Acho que foi inaceitáve­l o que se passou em Alcochete.

Como foi chegar a casa e partilhar com a família o sucedido? Como lhes conseguiu transmitir uma sensação de tranquilid­ade?

M – Creio que foi mais difícil para a minha mulher [Alexis] e as minhas filhas [Vivienne e Ruby], que estavam longe, do que para mim. Vi que as imagens estavam a passar na televisão e telefonei-lhes para di- zer que estava bem, tentei tranquiliz­á-las. Por sorte, não aconteceu nada de grave. Só alguns golpes, mas nada de grave. Depois, foi chegar a casa e tentar ultrapassa­r esse momento tão difícil. Não havia mais nada a fazer. Já passou, não vale a pena recordar e continuar a sofrer. Temos de continuar a olhar para a frente.

Na altura, no balneário estava também o atual presidente, Frederico Varandas, mas na condição de médico. Lembra-se das primeiras palavras que ele então dirigiu ao grupo de trabalho?

M – Todos falaram, mas já não me lembro das palavras de cada um. Os treinadore­s, jogadores, roupeiros... Estávamos todos confusos e não sabíamos o que podíamos fazer pois ninguém tinha vivido um momento assim.

Apesar do ataque, foi um dos jogadores que descartara­m a rescisão unilateral de contrato, e nunca se pronunciou sobre isso. Pode explicar porquê?

M – Sendo jogador do Sporting e com mais um ano de contrato, sempre tive a ideia de desfrutar esta temporada, na companhia da minha família. Cada ser humano reage de maneira diferente. Eu falei com a minha família e decidimos deixar passar o tempo antes de tomar uma decisão.

Foi importante que a direção tenha remodelado o balneário durante o período de férias?

M – Sim, creio que visualment­e está diferente. É uma estratégia para deixar de lado o que passou. O que aconteceu foi há um par de meses. Hoje, o balneário, as pessoas e o ambiente são diferentes. Não recordamos isso como uma tragédia, mas sim algo que, ao dia de hoje, não nos afeta. Passou, estamos unidos e a olhar em frente, não só pelos jogadores mas também pelo clube. Queremos virar a página do que aconteceu. É algo

“NÃO SABÍAMOS O QUE PODÍAMOS FAZER POIS NINGUÉM TINHA VIVIDO UM ACONTECIME­NTO ASSIM”

“NÃO RECORDAMOS ISSO COMO UMA TRAGÉDIA, MAS SIM ALGO QUE, AO DIA DE HOJE, NÃO NOS AFETA. ESTAMOS UNIDOS”

que não pode voltar a acontecer.

Quando entram no balneário para treinar já não pensam no que aconteceu a 15 de maio?

M – As coisas ficaram no passado. Falo por mim, talvez se fizer essa pergunta a outros jogadores eles possam responder da maneira diferente. Mas eu, Fredy Montero, estou hoje tranquilo e confiante de que tudo correrá pelo melhor.

Os jogadores estavam em condições físicas e psicológic­as para disputar a final da Taça de Portugal ou foi um erro fazê-lo?

M – Naquele momento, o que eu mais queria era jogar a final da Taça. Mas já passou. Marquei um golo, infelizmen­te não foi sufi- ciente para ganhar esse jogo. Além do mais, temos agora mais oportunida­des e muitas competiçõe­s pelas quais lutar. Não é importante para nós lamentar-nos pelo que podia ser e não foi. O fulcral é o futuro.

Perdoa os adeptos que invadiram a Academia?

M – Sou um ser humano, o único que tem poder para julgar é Deus. A justiça julga pelos factos das coisas que acontecera­m. Não está em meu poder. Como já disse, só olho em frente. Sou um jogador de futebol, um pai de família e é com isso que me preocupo. As outras coisas externas não estão ao meu alcance, por isso nem sequer penso nelas. *

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