Título é uma 'obsessão'
ABRE O CORAÇÃO EM ENTREVISTA EXCLUSIVA A RECORD
“Não sabíamos o que fazer pois ninguém tinha vivido um momento assim”
“Contrato? Não sei se vai ser renovado”
“Leonardo Jardim foi o treinador que mais me marcou”
“Mudou totalmente a forma como nos dirigimos a Frederico Varandas”
Esteve na Academia no dia do ataque ao plantel. Agora com algum distanciamento pode recordar esses momentos e revelar o seu estado de espírito após as agressões?
MONTERO – Como o de qualquer jogador num momento de pânico. O futebol ficou de lado e só pensamos na nossa família, e que há pessoas que dependem de nós e do nosso trabalho. Foi a única vez que senti isso. Mas já passou. Recordamos o que aconteceu com muita dor, não se pode acontecer no futebol. O futebol é para desfrutar com a família, é um desporto com três resultados possíveis: ganhar, empatar ou perder... Isso é mais importante que os benefícios económicos, o prestígio internacional ou os troféus que possas conquistar. Acho que foi inaceitável o que se passou em Alcochete.
Como foi chegar a casa e partilhar com a família o sucedido? Como lhes conseguiu transmitir uma sensação de tranquilidade?
M – Creio que foi mais difícil para a minha mulher [Alexis] e as minhas filhas [Vivienne e Ruby], que estavam longe, do que para mim. Vi que as imagens estavam a passar na televisão e telefonei-lhes para di- zer que estava bem, tentei tranquilizá-las. Por sorte, não aconteceu nada de grave. Só alguns golpes, mas nada de grave. Depois, foi chegar a casa e tentar ultrapassar esse momento tão difícil. Não havia mais nada a fazer. Já passou, não vale a pena recordar e continuar a sofrer. Temos de continuar a olhar para a frente.
Na altura, no balneário estava também o atual presidente, Frederico Varandas, mas na condição de médico. Lembra-se das primeiras palavras que ele então dirigiu ao grupo de trabalho?
M – Todos falaram, mas já não me lembro das palavras de cada um. Os treinadores, jogadores, roupeiros... Estávamos todos confusos e não sabíamos o que podíamos fazer pois ninguém tinha vivido um momento assim.
Apesar do ataque, foi um dos jogadores que descartaram a rescisão unilateral de contrato, e nunca se pronunciou sobre isso. Pode explicar porquê?
M – Sendo jogador do Sporting e com mais um ano de contrato, sempre tive a ideia de desfrutar esta temporada, na companhia da minha família. Cada ser humano reage de maneira diferente. Eu falei com a minha família e decidimos deixar passar o tempo antes de tomar uma decisão.
Foi importante que a direção tenha remodelado o balneário durante o período de férias?
M – Sim, creio que visualmente está diferente. É uma estratégia para deixar de lado o que passou. O que aconteceu foi há um par de meses. Hoje, o balneário, as pessoas e o ambiente são diferentes. Não recordamos isso como uma tragédia, mas sim algo que, ao dia de hoje, não nos afeta. Passou, estamos unidos e a olhar em frente, não só pelos jogadores mas também pelo clube. Queremos virar a página do que aconteceu. É algo
“NÃO SABÍAMOS O QUE PODÍAMOS FAZER POIS NINGUÉM TINHA VIVIDO UM ACONTECIMENTO ASSIM”
“NÃO RECORDAMOS ISSO COMO UMA TRAGÉDIA, MAS SIM ALGO QUE, AO DIA DE HOJE, NÃO NOS AFETA. ESTAMOS UNIDOS”
que não pode voltar a acontecer.
Quando entram no balneário para treinar já não pensam no que aconteceu a 15 de maio?
M – As coisas ficaram no passado. Falo por mim, talvez se fizer essa pergunta a outros jogadores eles possam responder da maneira diferente. Mas eu, Fredy Montero, estou hoje tranquilo e confiante de que tudo correrá pelo melhor.
Os jogadores estavam em condições físicas e psicológicas para disputar a final da Taça de Portugal ou foi um erro fazê-lo?
M – Naquele momento, o que eu mais queria era jogar a final da Taça. Mas já passou. Marquei um golo, infelizmente não foi sufi- ciente para ganhar esse jogo. Além do mais, temos agora mais oportunidades e muitas competições pelas quais lutar. Não é importante para nós lamentar-nos pelo que podia ser e não foi. O fulcral é o futuro.
Perdoa os adeptos que invadiram a Academia?
M – Sou um ser humano, o único que tem poder para julgar é Deus. A justiça julga pelos factos das coisas que aconteceram. Não está em meu poder. Como já disse, só olho em frente. Sou um jogador de futebol, um pai de família e é com isso que me preocupo. As outras coisas externas não estão ao meu alcance, por isso nem sequer penso nelas. *