Record (Portugal)

“United quis ir buscar-me quando Keane se retirou”

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Tem antecedent­es familiares no futebol?

DUSCHER – O meu pai, Aldo Pedro Duscher, como eu. O meu avô era austríaco, não gostava nada de futebol. Mandava-o trabalhar, porque o futebol não lhe ia dar de comer. Mas ele era bem melhor do que eu! Jogámos juntos num clube de Esquel, ele a trinco e eu a 8.

No Newell’s cruzou-se com Ricardo Rocha, ex-Sporting. O que recorda dele?

D – Tinha 17 anos quando ele chegou ao Newell’s. Grande pessoa, grande profission­al. Deixou muito boa imagem lá. Aliás, o Boca Juniors quis contratá-lo.

Esteve dois anos em Lisboa e ficou sete na Corunha (2000-2007). Como desenvolve­u uma relação tão forte com o Depor?

D – Foram anos muito bons na Corunha. Quando cheguei, do Sporting, o Depor era campeão, estava na Champions. Tinha um plantel incrível! Naybet, Donato, Mauro Silva, Djalminha, Valerón... Quando assinei por sete anos, não imaginava. Mas fiquei até ao fim.

Dava-se bem com os portuguese­s do plantel?

D – Sempre! Joguei com o Hélder [Cristóvão], o Pauleta, o Nuno [Espírito Santo] e o Jorge [Andrade], com quem estive mais tempo. Lembro-me da meia-final da Champions [2004], quando o árbitro [Markus Merk] o expulsou por ele ter dado um pontapé no Deco, a brincar, porque eram amigos. Foi surreal, nem queria acreditar!

Em 2002, lesionou David Beckham e os ingleses chamaram-lhe Aldo ‘Butcher’ (carniceiro). O que aconteceu ao certo?

D – Fiz-me mal à bola, ele saltou e, quando caiu, lesionou-se. A culpa da jogada foi minha, mas o árbitro [Markus Merk] nem me mostrou amarelo nem nada. Perdemos esse

jogo [3-2]. Quando saí, estava de cabeça quente. Perguntara­m-me se ia pedir desculpa e respondi que não. ‘Se fosse um jogador do Deportivo, ninguém pedia desculpa.’ O que é que eu fui fazer!? Cheguei à Corunha e tinha 50 jornalista­s à porta de casa. Acabei por fazer uma conferênci­a de imprensa e pedi desculpa. Por sorte, ele foi ao Mundial. Depois marcou-nos um golo de penálti [Inglaterra-Argentina].

Falou com ele?

D – Houve um contacto telefónico, a três, porque eu não falava inglês. Pedi-lhe desculpa, desejei que chegasse ao Mundial. Ele disse-me que estava tudo bem, que ficasse tranquilo. Mas a imprensa foi muito nacionalis­ta. Era o Messi deles e faltavam dois meses para o Mundial. Curioso é que, depois disto tudo, o Manchester United quis ir buscar-me à Corunha quando o Roy Keane se retirou, em 2005.

“LEMBRO-ME DA EXPULSÃO DE JORGE ANDRADE NA MEIA-FINAL DA CHAMPIONS. FOI SURREAL, NEM QUERIA ACREDITAR” “PERGUNTARA­M-ME SE IA PEDIR DESCULPA [A BECKHAM, EM 2002] E RESPONDI QUE NÃO. O QUE É QUE EU FUI FAZER!?”

Fizeram proposta?

D – Sim. Mas era difícil negociar com o presidente do Corunha [Augusto César Lendoiro] e eu não podia ter problemas, porque era época de Mundial e eu tinha de jogar. Mas é estranho que um país inteiro, ou uma cidade, não goste de ti e, depois, passado pouco tempo, o mesmo clube queira contratar-te. Já não tive outra oportunida­de. Era naquele momento ou nunca.

Quando saiu de Espanha foi para o Barcelona, do Equador. É uma opção no mínimo invulgar... D – Foi esquisito, sim. Eu queria voltar à Argentina, mas para ser insultado ao quinto jogo, não, obrigado. Tinha jogado com [Luis] Zubeldía nos sub-20 e ele nessa altura estava no Equador. Telefonava-me, dizia-me que fosse, que ia jogar. Eu disse que só ia se me dessem o que estava a pedir. E eles deram! [risos] Era muito dinheiro.

Quanto tempo esteve lá?

D – Oito meses. Estava com 33 anos. Já tinha muitos problemas físicos. Mas foi bom, gostei. *

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EM CASA. Duscher revisitou Alvalade na companhia de Record e partilhou memórias sobre os principais momentos da carreira

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