HOMEM DE FERRO CONTRA ADOENÇA
Esclerose múltipla não impediu concretização de uma missão “impossível”
Quando se pensa num Ironman a primeira ideia é de que se trata de uma prova que, pela sua dificuldade, não está ao alcance de qualquer um. Afinal, percorrer uma distância superior a 226 km (3.862 metros de natação; 180.246 metros de ciclismo e 42.195 metros de corrida) é um dos desafios mais exigentes no panorama desportivo atual. E participar no Campeonato do Mundo de Ironman, no Havai, o evento mais mítico do triatlo, é um objetivo que ainda menos atletas conseguem alcançar. Mas este ano foram 10 os portugueses que tiveram esse privilégio. E se todos eles cumpriram o objetivo de terminar a prova, o feito de Alexandre Dias merece relevância, apesar de ter sido aquele de que mais tempo precisou: foram 14.21.48 horas, quase mais seis do que Sérgio Marques (8.38.29), o melhor dos representantes nacionais, que foi 40º da geral e acabou no pódio (3º) da respetiva classe (entre 35 e 39 anos). Diagnosticado com esclerose múltipla em 2010, Alexandre tem 33 anos e é um exemplo de superação. No Havai foi 2.092º entre os 2.305 triatletas que conseguiram completar a prova, mas o percurso deste transmontano - é natural de Vimioso - impressiona. Há cinco anos pesava 116 kg e só aprendeu a nadar há... três! “Quando comecei nunca pensei chegar a este ponto. Longe disso... principalmente tratando-se de triatlo, pois nem sabia nadar”, salienta.
Por isso, torna-se ainda mais difícil explicar o que sentiu ao cortar a meta. “É sempre difícil colocar em palavras, porque para mim era algo que parecia impossível. As memórias do Facebook são interessantes... há uns dias aconteceu eu estar a ver que partilhei que estava a ver o Campeonato do Mun- do, em 2015, que foi quando comecei a interessar-me mais pelo triatlo. E comentei... um dia! Só que era mais... nunca! Mas surgiu esta oportunidade e aproveitei ao máximo. Estive lá duas semanas a viver todo aquele ambiente e ao passar a meta esquece-se tudo. Foi a prova mais dura que fiz, provavelmente por causa da humidade e do calor. Só passando por isso é que se percebe. Passar a meta e ter aquela sensação de objetivo cumprido é indescritível”, lembra, frisando que, inicialmente, apenas tencionava fazer o Ironman de Frankfurt, em julho: “Era para ser o grande objetivo deste ano, porque tenho lá família - o meu irmão mora lá e gostava de ter os meus sobrinhos na chegada à minha espera. Mas surgiu esta ótima oportunidade de poder participar em algo muito difícil e não resisti.” *
“QUANDO COMECEI NUNCA PENSEI CHEGAR A ESTE PONTO. LONGE DISSO...”, ADMITE O TRANSMONTANO DE 33 ANOS