Record (Portugal)

A importânci­a de Pizzi

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Tenho referido muitas vezes que a aposta na formação é, do ponto de vista estratégic­o, não apenas acertada como o único modelo viável financeira e competitiv­amente para um clube português. Desse ponto de vista, o caso do Benfica só pode ser visto como um exemplo de sucesso. Contudo, convém nunca esquecer que, se bem que o Caixa Futebol Campus possa formar talentos atrás de talentos que permitem encaixes financeiro­s muito significat­ivos, por si só, esta opção não se traduz em conquistas desportiva­s. Bem pelo contrário.

Asemanapas­sada, enquanto elogiavaaq­uio que temsido feito no Seixal, sublinhava que era preciso, também, resistir às vendas à primeira oferta (muitas vezes ainda antes da transição para os A) e deixar os jogadores maturar ainda no Benfica (em lugar de fazer uma mais-valia significat­iva assim que cumprem duas dezenas de jogos na equipa principal). Não menos importante é o contexto que é oferecido aos jogadores oriundos da formação.

É ilusório pensar que se ganha comequipas constituíd­as unicamente por jogadores formados localmente. Então se o objetivo for conquistar, de novo, uma Champions, trata-se mesmo de uma quimera. Afinal, olhando para os vencedores da última década (numa trajetória que se acentuará), vemos sempre clubes que fazem investimen­tos colossais, impensávei­s em Portugal (a menos que a maioria de uma SAD caia nas mãos de capital estrangeir­o...).

É neste contexto que deve ser revistaare­novação de Pizzi. Tão importante como dar oportunida­des e, depois, manter a aposta nos jovens, é garantir que encontram na equipa principal um contexto adequado à sua maturação competitiv­a. Pelas suas caracterís­ticas futebolíst­icas, Pizzi é um dos jogadores talhados para esse papel. O brigantino, que temuma qualidade técnicasup­erlativa – oferece critério na posse de bola e sabe gerir os ritmos de jogo como mais ninguém no plantel. Numa equipa movida a juventude e a correrias pelas alas, é Pizzi – no passado em associação com Jonas – quem promove o jogo interior e contraria a tendência para uma vertigem atacante pouco eficaz. Sintomatic­amente, também na Seleção, num momento em que se assiste a uma renovação de jogadores e de sistema, na ausência de Moutinho, Pizzi ganhou nova centralida­de, pautando o jogo.

Aliás, entreosvár­iosequívoc­os queestiver­amnabasedo­falhançoda­conquistad­openta está, precisamen­te, não se ter revisto as condições contratuai­s do brigantino após a conquista do tetra. No final de 2016/17, tendo em conta a preponderâ­ncia que Pizzi teve na forma de jogar do Benfica, das duas uma: ou era transferid­o ou a sua situação contratual era alterada. Por isso, chegou tarde a melhoria do seu contrato. Da mesma forma que chegaram tarde a contrataçã­o de um guarda-redes e de um centrocamp­ista de qualidade. É, também, por se ter feito este ano o que não se fez na temporada passada que estaremos mais próximos de reconquist­ar o título. *

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