Record (Portugal)

O DIA EM QUE A ÁGUIA VERGOU O FUTEBOL TOTAL

- FILIPE PEDRAS. AMESTERDÃO Amesterdão em (Escóci a)

O Benfica volta a defrontar o Ajax fora de portas esta terça-feira. Será a terceira vez em Amesterdão e sempre para a Liga dos Campeões. Mas se a última visita, há mais de 46 anos (1972), nem correu de feição – derrota por 1-0 nas meias-finais de uma edição que os holandeses viriam a ganhar –, a primeira ficará para sempre gravada na história dos encarnados. Quanto mais não seja por ser até hoje a única vitória do emblema da Luz fora de portas contra o Ajax. Mas não um Ajax qualquer. Era o Ajax de... Cruyff, o símbolo do ‘futebol total’ que na altura, com tenros 21 anos, já se destacava entre monstros como Eusébio. Era o início da passagem de testemunho dos consagrado­s para o franzino génio. Mas não nesse dia 12 de fevereiro de 1969. Há quase meio século, a águia foi superior a tudo isso.

José Augusto saltou do banco para um relvado coberto de neve ainda antes do intervalo, onde o Benfica já chegou a vencer por 2-0 [ver ficha]. Para surpresa até dos próprios encarnados, os então comandados de Otto Glória conseguiam fazer melhor naquele tapete do que os da casa, acostumado­s àquele tipo de condições. E já depois de ter visto os holandeses reduzir a desvantage­m, a velha glória matou o jogo com o terceiro das águias. “Lembro-me do golo. Foi de um canto e eu estava ao segundo poste. Havia muita neve e os jogadores do

Ajax estavam habituados àquilo e nós não. Mas jogámos bem e ganhámos por 3-1”, recorda José Augusto a Record, sublinhand­o, porém, que esta vitória acabaria por se revelar bem traiçoeira: “Ora, se tínhamos ga- nho por 3-1 com aquela neve toda, quando fosse na Luz, nas nossas cabeças, ia ser bem mais fácil… Mas não foi. Na nossa casa, com um relvado que era um luxo, os jogadores do Ajax, com Cruyff à ca- beça, jogaram bem melhor e empataram a eliminatór­ia. Subestimám­os o adversário. Por mais que disséssemo­s que não, nas nossas cabeças aquilo já estava resolvido.

Viagem à única vitória no terreno do Ajax. Há 46 anos, a genialidad­e de Cruyfffoi fatal EM 1969, O HOMEM QUE HOJE DÁ NOME AO ESTÁDIO DO AJAX BISOU NA LUZ, MAS FICOU EM BRANCO NO TAPETE DO OLÍMPICO

E depois em Paris, no jogo de desempate, foi a mesma coisa. Aquele Ajax tinha uma equipa formidável. Extraordin­ária mesmo!”, elogia o antigo jogador encarnado de 81 anos.

O tal jogo na capital francesa serviu de ‘negra’ para apurar quem seguiria para as meias-finais. Mas o Ajax só lá chegou porque o génio de Cruyff já andara à solta na Luz. Considerad­o por muitos o melhor jogador europeu do século XX, o fantasista bisou em Lisboa e deixou de boca aberta até os adeptos encarnados. Depois, no Olympique Yves-duManoir, deu a estocada final, fa- zendo o primeiro golo do jogo logo no arranque do prolongame­nto. Danielsson faria os outros dois. “Era mesmo uma equipa assombrosa”, dispara José Augusto, até em comparação com uma águia recheada de grandes nomes.

Rui Vitória está avisado

O emblema da Luz terá agora a chance de desempatar as contas dos confrontos com o Ajax no seu terreno, mas há uma diferença. “O Benfica não vai menospreza­r o adversário. Nós esquecemo-nos de que o Ajax tinha grandes jogadores e no jogo da Luz, quando quisemos, já não conseguimo­s. São realidades muito diferentes e o Rui Vitória sabe que será difícil”, remata o antigo jogador. *

TEstádio Olímpico de Amesterdão, 0-2. 0-2 1-3

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FESTA NA NEVE. José Augusto fez o terceiro golo das águias no Olímpico de Amesterdão e, no festejo, não resistiu a atirar uma grande bola de neve ao ar
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