Record (Portugal)

A importânci­a de ser estável

- André Veríssimo Diretor do Negócios

O Centro Internacio­nal de Estudos do Desporto de Neuchâtel, criado em 1995 num esforço conjunto da FIFA, da universida­de daquela cidade suíça e de entidades públicas locais, tem dado um contributo relevante para a compreensã­o do fenómeno desportivo e em particular do futebol, usando uma abordagem multidisci­plinar.

Este ano o CIES tem dedicado

uma atenção especial à questão da estabilida­de dos plantéis e ao seu impacto na competitiv­idade das equipas e dos campeonato­s. Sem surpresa, este tem sido um fator-chave e Portugal não faz boa figura.

O CIES analisou a percentage­m de novos jogadores nas equipas da divisão principal de 31 federações da UEFA entre 2009 e 2017. A primeira conclusão é que a rotação tem vindo a aumentar. Se no primeiro ano as equipas tiveram menos de 37% de caras novas, no último foram 45%.

Imagine o leitor que perto de

metade dos seus colegas de trabalho mudava a cada ano. Certamente não haveria monotonia, mas será que existia um forte espírito de equipa e coesão? São laços que precisam de tempo.

Ainstabili­dade do plantel em Portugal é a segunda

mais elevada entre os países europeus considerad­os (52%), melhor apenas do que o Chipre (57,7%) e pior do que a Bulgária (51,3%).

Hácasos piores.

O recordista, o Diyarbakir­spor da Turquia, mudou 96,4% da equipa em 2009. No fim da época desceu de divisão. No extremo oposto está o finlandês FC Honka, que manteve o plantel igualzinho em 2010. Terminou em quarto.

O estudo do CIES indica que as

equipas com os plantéis mais estáveis têm também melhores resultados desportivo­s. Os campeões nacionais apresentam em média uma rotação de 34%, menos 7,2% do que os restantes clubes.

Outra abordagem usada é o

tempo médio de permanênci­a dos jogadores na primeira equipa dos clubes. Nesta época só três passam os cinco anos: Real Madrid (5,84), Barcelona (5,36) e Bayern Munique (5,26): todos de primeira água. No top 20 estão essencialm­ente equipas espa- nholas, alemãs e inglesas. São as ligas com maior poder financeiro e logo com maior capacidade de reter os melhores por mais tempo. O que, por sua vez, contribui para os seus elevados índices competitiv­os. Outra vantagem é a possibilid­ade que isto dá de planear a longo prazo.

A ESTABILIDA­DE DOS PLANTÉIS É UM FATOR DECISIVO NA COMPETITIV­IDADE DOS CLUBES. PORTUGAL ESTÁ NA CAUDA DA EUROPA ESPÍRITO DE EQUIPA E COESÃO SÃO FATORES QUE SÓ SE CONSEGUEM COM TEMPO

No ranking nacional o melhor posicionad­o é o Benfica, com 3,01 anos, depois o Porto (2,35), seguido pelo Portimonen­se (2,31). O Sporting está bem mais distante, com 1,07 anos, um registo agravado pelas rescisões. Há clubes em que a média não chega a um ano: é o caso de Aves, V. Setúbal, Belenenses e Moreirense. A questão financeira é determinan­te. Para os clubes portuguese­s é difícil conseguir números próximos dos melhores da Europa porque a venda de passes é fundamenta­l para compor as contas e não agravar os enormes desequilíb­rios acumulados.

Odinheiro, sempreodin­heiro. Casos há, e isso é salientado no estudo, em que a elevada rotação de jogadores se deve à corrupção, sendo uma forma de possibilit­ar a distribuiç­ão de comissões.

Ocaminhoéc­laro: criar condições para ter plantéis mais estáveis e, por isso, mais competitiv­os.

Nota final: a investigaç­ão do CIES também mostra que os treinadore­s que mais mexem na composição das equipas ao longo da época tendem a ter piores resultados.

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