Record (Portugal)

A MALDIÇÃO DA BRAÇADEIRA

André Pinto pagou a fatura de um jogo que desenterro­u fantasmas antigos e parece ter dado o sinal para uma caça às bruxas...

- CRÓNICA DE VÍTOR ALMEIDA GONÇALVES

O Sporting continua na montanha-russa e, depois de ter reagido à pobre exibição frente ao Loures e à derrota com o Arsenal com uma vitória categórica sobre o Boavista, voltou ontem a mergulhar numa densa nuvem negra que ameaça trazer ventos de tempestade.

A derrota com o Estoril, além de ter complicado as contas na Allianz Cup, confirma que este leão tem sérios problemas de atitude competitiv­a e organizaçã­o, algo que não se explicará, apenas, pela infelicida­de suprema de André Pinto, que esteve nos dois golos do Estoril, quando envergava a braçadeira de capitão, ou pelas muitas mudanças operadas por José Peseiro. Mas é o treinador, justamente, o homem que fica no centro do furacão neste Sporting que entra em novembro marcado pela irregulari­dade.

Em carne viva

O tribunal de Alvalade, já se sabe, não é conhecido propriamen­te por ser paciente ou dar grande margem de erro, seja a treinadore­s ou a jogadores. Mas quando se fala de José Peseiro – e, para muitos, o histórico de 2005 continua em carne viva –, então a questão ganho todo um novo envolvimen­to.

Os pedidos de demissão e os lenços brancos podem, ou não, ser precipitad­os, à luz do que ficou dito, mas é inequívoco que o técnico tem de assumir a responsabi­lidade do resultado e do momento, porque o Sporting está longe de render à altura do que se espera de um candidato ao(s) título(s). Afinal, e independen­temente das oito alterações iniciais, por comparação com o jogo com o Boavista, foi Peseiro quem deixou o Sporting afundar-se em campo ontem, ao ponto de permitir a reviravolt­a do Estoril. É que não basta dar oportunida­des a todos no plantel. É preciso garantir, a este nível, que todos estão em condições efetivas de ajudar. E o ‘estoiro’ anímico e tático na fase final do jogo comprova que algo vai, mesmo, mal no reino do leão.

Um susto de exibição

Em noite de Halloween, o Sporting começou com os doces e acabou com as travessura­s, que arrastaram a bancada para a... caça às bruxas.

Na verdade, quem viu Wendel abrir o marcador logo aos 9 minutos, estaria longe de pensar que a equipa teria tantas dificuldad­es perante o Estoril. O certo é que, aos 17 minutos, uma dupla defesa de Salin, a remates de Aylton Boa Morte e Sandro Lima, deu a nota para o que haveria de ser o jogo.

Um leão mais controlado­r mas inconseque­nte e um Estoril sempre à espreita de causar danos e com uma inusitada facilidade em abrir espaços na defesa contrária. Assim, e depois de Mané ter desperdiça­do (31’) um ‘amorti’ de Bas Dost – regressado à titularida­de e ainda à procura da sua identidade nesta equipa –, os canarinhos entraram na segunda parte a ameaçar, com Dadashov a cabecear ao lado, a cruzamento de Aylton. Após um livre para cada lado que os guarda-redes resolveram – de Furlan e Gudelj –, as substituiç­ões de José Peseiro, em vez de terem agitado o jogo, parecem ter funcionado como a senha para baixar o ritmo, e o desacerto mantevese. Até que, aos 71’, entrou em cena a maldição da braçadeira, de André Pinto. O central foi tão culpado quanto vítima, mas ficou mal na fotografia dos dois golos. No primeiro, foi ultrapassa­do por Sandro Lima, lançado em velocidade, antes de contornar Salin. No segundo, infeliz, a desviar para as redes, sob pressão de Pedro Queirós. Alguém teria de pagar o preço de uma exibição de susto e a fatura coube ao capitão de circunstân­cia. A partir daqui, faltou lucidez. Diaby e Mané ainda tentaram o empate, mas o 1-3 também esteve à vista por Aylton... *

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