Pirataria: uma ameaça séria
A PRAZO, TAMBÉM OS CONSUMIDORES QUE HOJE PODEM CONSIDERAR INTERESSANTE VER CONTEÚDOS TELEVISIVOS SEM PAGAR IRÃO PERDER. TODOS – E NÃO APENAS CANAIS E OPERADORES – PODEM SER PREJUDICADOS SE NÃO SE COMBATER O PROBLEMA DE FORMA ENÉRGICA
Um
estudo divulgado esta semana pela Digital TV Research revela que a televisão paga, em sentido genérico, continua a crescer na Europa. No final do ano haverá 262 milhões de subscritores. Os espectadores são muitos mais, como é óbvio. Há três anos o número era de 205 milhões. Em comparação, cresce muito mais o número de clientes do chamado SVOD (como a Netflix, mas também de certa maneira a Eleven Sports) que a pay tv dita ‘tradicional’ o que, para si, caro leitor, é, no caso português, o que vê no cabo. Mas cresce, mesmo nos mercados maduros como é o caso português.
O que se conhece do estudo não
detalha o peso do desporto neste universo, mas é uma evidência até pelos valores que envolvem os direitos, que o futebol é um dos motores de indústrias tão relevantes e conectadas como a dos conteúdos e a das telecomunicações.
Há uns dias, no contexto da minha nova atividade,
como responsável do 11, o futuro canal e plataforma de conteúdos da Federação Portuguesa de Futebol, escrevi um texto em que, além de apresentar de certa forma o projeto, me debrucei sobre o tema específico da pirataria.
Tive inúmeras reações e,
não misturando os planos (nunca o fiz nas páginas de Record por respeito aos leitores e à Direção do jornal) volto ao assunto e foco-me no tema do consumo ilegal porque a questão de ver sem pagar está hoje a provocar um dano muito sério na indústria. Um dano sério nos canais que investiram nos direitos e nos operadores que pagam. A prazo, um dano para os consumidores porque se houver menos capacidade para investir todos perdem. Até agoraas entidades comresponsabilidades nesta área sempre trataram o assunto como se ele fosse marginal, agindo apenas administrativamente e perante queixas. Mesmo assim com pouca ou, nalguns casos, nenhuma eficácia. A entrada, em condições anormais, de um novo player com conteúdos relevantes, sobretudo a Liga dos Campeões, fez disparar o número de ‘piratas’, só que a partir do momento em que alguém descobre o caminho para ter acesso a um determinado conteúdo fica com possibilidades de encontrar outros.
Portudoisto o mercado fará
o que tiver de ser feito para uma certa ‘normalização’ –esse ponto não está aqui em discussão –mas sobre a pirataria é preciso fazer mais e o próprio Governo tem de olhar de forma enérgica para esta perda de valor porque as empresas atingidas podem ser privadas mas são muito relevantes para a economia.
AFederação Portuguesa de Futebol,
como escrevi, pode ter aqui um papel mobilizador, desde logo pelo perfil de quem a dirige e porque preservar a indústria e defender o seu valor faz parte da sua missão.