FUTEBOL EUROPEU MENOS FORMAÇÃO E MAIS ESTRANGEIROS
Dados da última década confirmam evolução clara e Portugal não foge à regra
Mesmo sem aprofundarmos a questão, já não restavam dúvidas de que o futebol mudou substancialmente ao longo dos anos. Dentro e fora de campo, as últimas décadas ditaram uma evolução clara que vai muito além da transformação do desporto-rei num negócio milionário. E o estudo agora divulgado pelo CIES-Football Observatory aponta para importantes conclusões: o maior investimento levou à presença cada vez maior de jogadores estrangeiros na generalidade dos clubes europeus e a uma menor aposta na área da formação. E a análise estatística a 31 campeonatos nacionais do Velho Continente - incluindo a liga portuguesa – ao longo da última década, os dados recolhidos são inequívocos. No caso da formação - foram considerados os jogadores que, entre os 15 e os 21 anos, passaram pelo menos três épocas numa equipa -, enquanto em 2009 os plantéis em causa tinham 23,2% de elementos formados no clube, em 2018 (dados relativos a outubro passado) esse valor caiu para 16,9%. E não deixa de ser curioso que são os nórdicos (Dinamarca, Finlândia, Noruega e Suécia) que mais apostam nos jovens da ‘casa’ (21,9%), enquanto nos países do sul da Europa, incluindo Portugal, acontece o inverso (12,8%): no caso dos clubes nacionais, esse valor caiu para 7,7% (a média dos últimos 10 anos é de 9,9%), apenas superior à de Itália (7,4%). E, das 31 ligas analisadas, só uma não regista em 2018 uma percentagem inferior à média da década: Chipre, com 12,7% (contra 12,6%). Já a 1ª divisão de Israel é aquela em que os clubes mais apostam na própria formação (28%).
Tempo dos emigrantes
Consequência (ou necessidade) lógica da menor aposta na formação é o recurso dos clubes a jogadores estrangeiros para a construção dos plantéis. De acordo com este estudo, a percentagem de futebolistas migrantes no conjunto das 31 ligas europeias passou de 34,7% em 2009 para os atuais 41,5% - uma subida de 6,8% que é ainda mais visível nos países do sul (51,8%, em média), como é o caso de Portugal. Na Liga NOS esse valor atinge atualmente os 61,3%, bem acima da média da última década (54,8%). Isso dá ao campeonato português o 5º lugar neste ranking liderado por Chipre (66,2%), embora os cipriotas até tenham reduzido a influência es- trangeira face aos anos anteriores (a média da década é de 68,1%). Nove dos 31 campeonatos têm mais estrangeiros do que jogadores nacionais. É o caso da Premier League inglesa (surge no 2º lugar), fruto do elevado investimento daquela que é a liga mais rica da atualidade. Já Espanha (15ª) e França (18ª) ficam bem distantes, enquanto a Sérvia é o país que menos aposta em estrangeiros (16,3%), seguida da Ucrânia (19,2%). *
APENAS 7,7% DOS JOGADORES DOS CLUBES DA LIGA NOS SÃO DA ‘CASA’, ENQUANTO 61,3% VIERAM DO ESTRANGEIRO