A treta do fair play financeiro
Observo, com curiosidade, o estranho silêncio da esmagadora maioria da imprensa relativamente às revelações feitas pelo ‘Football Leaks’. Há exceções, mas, mesmo estas, tocam essencialmente em temas, importantes sem dúvida, cujo interesse do ponto de vista global é pouco significativo. Porque lendo, por exemplo, o ‘Der Spiegel’, conclui-se fácil e rapidamente que a ‘indústria’ do futebol está a sofrer modificações profundas, com óbvias repercussões nos resultados desportivos dos vários campeonatos. E conclui-se ainda que afinal o tal fair play financeiro é uma treta e apenas aplicável aos menos poderosos, já que os outros, os ricalhaços, encontraram soluções para o ultrapassar. E, pelos vistos, com o conhecimento da UEFA e da própria FIFA.
Alémdarevistaalemã, ninguém mais tratou de aprofundar as ligações perigosas de um tal City Football Group (CFG), dono do Manchester City e de mais outros clubes no Uruguai, em Espanha ou no Japão, nem dos tentáculos que estendeu até à Escandinávia, nem as razões que levaram um grupo chinês a investir nele – como se a família dos Emirados Árabes Unidos que controla o CFG precisasse de dinheiro… E nem mesmo os organismos que superintendem ao futebol procuraram averiguar que papel desempenha realmente o Al Jazira Sports and Cultural Club, ‘apoiado’ igualmente pelo Sheikh Mansour, clube com quem, por exemplo, Robert Mancini assinou contrato no mesmo dia em que assinou pelo City. Ou por que razão o clube de Abu Dhabi pagava bem mais ao atual selecionador italiano do que o clube de Manchester. Nada tenho contra aqueles que decidem investir os seus milhões no futebol, mas, a continuar esta farsa, receio que a capacidade competitiva entre clubes se torne abismal e que, como já anda no ar, se crie a tal superliga europeia de clubes, deixando os pobres de lado. Um lado onde estão os clubes portugueses.