Record (Portugal)

A ambição do Benfica

- MAIS CONTUNDENT­E

Pedro Adão e Silva Professor Universitá­rio

Olhemos para o topo da Premier League: em 1.º lugar, o City de Guardiola, seguido pelo Liverpool de Klopp, o Chelsea de Sarri, o Tottenham de Pochettino e ainda o Arsenal de Emery. Mesmo na liga que é paradigma do futebol moderno, transforma­do em negócio televisivo de muitos milhões, o que prevalece é uma ideia de jogo. Prevalece e compensa. As equipas têm assinatura, na forma diferencia­da como pressionam a saída de bola dos adversário­s, na busca incessante de um processo de jogo, invariavel­mente assente na posse, e, fundamenta­l, vencem por causa dessa assinatura.

Eosbonsres­ultadosnão­secircunsc­revemao campeonato inglês. Este fim de semana, o Betis de Quique Setién, com um tal de William, que muitos acusaram de falta de intensidad­e, aos comandos, guardializ­ou o Barcelona no próprio Nou Camp; o Dortmund, agora com Favre a pegar na equipa, venceu um teoricamen­te imbatível Bayern, agora parco de ideias de jogo. A coisa está de tal forma, que até o Leeds, a agonizar há anos, lá bem perto da fronteira com a Escócia, está, agora, em zona de playoffs do Championsh­ip, com o mago Bielsa a chutar para fora de campo o ‘kickand rush’.

Esqueçam, porisso, afragilida­de da abordagem romântica ao futebol. Jogar bem compensa. Porque é com a bola que as equipas melhoram e é quando há uma ideia de jogo e um processo partilhado que sobressaem as qualidades dos jogadores, da mesma forma que as suas insuficiên­cias passam para segundo plano. É por isso mesmo que hoje as melhores equipas têm uma assinatura e ter um treina- dor faz mesmo diferença a atacar, mas cada vez mais no processo defensivo.

Se este é o caminho mais curto para a vitória, não é, certamente, o único. Há sempre uma outra possibilid­ade para vencer: juntar os melhores jogadores em campo e esperar que a qualidade individual e as rotinas de jogo decidam.

Jáescrevia­quinoRecor­do que pensava do processo de jogo do Benfica deste ano. Uma equipa que sofre não por falta de sorte ou de eficácia no ataque, mas porque é hoje pobre em ideias e claudica defensivam­ente,

JUNTANDO OS MELHORES EM CAMPO, A EQUIPA PODE VOLTAR A TER BOLA E SER

sempre que falha a recuperaçã­o de bola na primeira fase de construção do adversário. Quando se olha para o plantel do Benfica, torna-se, também, evidente que, juntando os melhores em campo, a equipa pode voltar a ter bola, respirar e ser mais contundent­e no ataque.

Comosetemv­isto, bastaterum­Jonasa meio- gás nas proximidad­es da área para os golos surgirem com mais facilidade, da mesma forma que quando voltarmos a ter Krovinovic em campo, com Pizzi por perto, dificilmen­te se repetirão uns 36 por cento de posse de bola na segunda parte, a jogar na Luz, como sucedeu com o Ajax. Mas não deve um clube como o Benfica estar obrigado a ter outra ambição?

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal