APRESENTA-SE A GERAÇÃO DE OURO
17 DE NOVEMBRO DE 1993 – FAZ HOJE 25 ANOS Portugal perdeu e falhou o Mundial’94. Mas o futebol nacional mudou para sempre
Faz hoje um quarto de século que o futebol português iniciou a viragem de uma história feita de uma regra fatalista e de exceções douradas. A Seleção Nacional jogava em S. Siro a presença no Mundial’94 e, dias antes, complicara a tarefa: vencera a Estónia por apenas por 3-0 e obrigou-se a vencer em Itália – ficou a um golo de poder empatar. A equipa comandada por Carlos Queiroz perdeu (0-1) mas apresentou um onze dominado pela Geração de Ouro (Vítor Baía, Fernando Couto, Jorge Costa, Paulo Sousa, Rui Costa e João Vieira Pinto) que, mesmo afastada, atingiu o ponto de convencer o Mundo da sua qualidade superior. No final do jogo, na garagem do estádio milanista, as movimentações de alguns empresários foram intensas e, em meados de novembro, pode dizer-se que alguns desses encontros constituíram o ponto de partida de negócios que seriam confirmados no verão – Fernando Couto no Parma, Paulo Sousa da Juventus e Rui Costa na Fiorentina, isto para lá da saída, dias depois, de Paulo Futre para a Reggiana.
A “porcaria” de Queiroz
Portugal falhou há 25 anos a presença no Campeonato do Mundo, com a promessa implícita de que só por acaso ficaria de fora a partir desse fracasso. Quando iniciou a caminhada para o Europeu de 1996, já com o génio de Luís Figo integrado, ele que demorou um pouco mais a afirmar-se, a Seleção era uma das equipas mais fortes, temidas e apreciadas no contexto internacional. Mas naquela noite em que se apresentou ao serviço, num cenário de dificuldade tremenda, a começar pelo clima hostil e a terminar nas conveniências superiores que indicavam que os italianos não podiam ficar de fora do grande palco nos Estados Unidos, não conseguiu tornear o obstáculo. À medida que foi desbloqueando os receios e se atreveu com co- ragem a atacar com mais gente, o adversário foi criando as condições para jogar como quis – Dino Baggio marcou o golo aos 83 minutos. No fim, Carlos Queiroz foi o espelho mais fiel da desilusão, quando, em pleno relvado, afir- mou com todas as letras e cara de poucos amigos que havia “muita porcaria na FPF” e que, “enquanto não fosse varrida”, Portugal não chegaria a lado algum.
O local do crime
Em campo, Queiroz juntou gente mais experimentada, nalguns casos veteranos, à celebração da chegada da geração que conquistara o bicampeonato do Mundo de sub-20. Lá estavam João Pinto e António Veloso na defesa; Vítor Paneira no meio-campo; Rui Barros e Futre na frente; Rui Águas e Domingos saídos do banco. Nova era começava com uma equipa de transição, composta por jogadores referenciados por grandes clubes endinheirados e dispostos a loucuras para os contratar. Os contactos avançaram com mais firmeza depois do jogo, ficando desde logo traçado o destino de alguns dos expoentes máximos do grupo. Todos estavam debaixo de olho e foi nessa noite falhada em S. Siro que o interesse se concretizou. Com a geração seguinte a entrar na veterania (Cristiano Ronaldo, Ricardo Quaresma, Nani, João Moutinho, Pepe…) e com uma nova a consolidar-se (Bernardo, André Silva, João Cancelo, Rúben Dias, João Félix…), a Seleção Nacional regressa, 25 anos depois, ao local do crime. *