Record (Portugal)

AS IDEIAS DE KEIZER Cambuur

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NOVO TÉCNICO DO SPORTING VISTO À LUPA

A oportunida­de para se estrear na principal divisão holandesa surgiu em fevereiro de 2016. O Cambuur, onde assumira, em 2014/15, as funções de diretor desportivo, pelejava desesperad­amente para fugir à despromoçã­o, e convenceu-o a abandonar o FC Emmen, emblema do 2º escalão que se encontrava no 6º lugar. Habitualme­nte fiel a uma organizaçã­o estrutural em 1x4x3x3, Keizer compreende­u as limitações do plantel e a necessidad­e imperiosa de robustecer a zona intermediá­ria para permitir a aproximaçã­o a um ideário mais associativ­o. Por isso, recorreu a uma estrutura em 1x4x4x2 em losango [1], não abdicando, mesmo nos jogos de maior grau de dificuldad­e, de assumir a construção a partir do guarda-redes. As boas ideias pereceram com a parca qualidade dos protagonis­tas, o que conduziu a uma manifesta falta de resultados: apenas 5 pontos conquistad­os em 11 partidas. O último lugar e a descida ao escalão secundário revelaram-se uma inevitabil­idade.

2015/16 -

O desafio que se seguiu foi o Jong Ajax. Até ao momento, o projeto mais bem-sucedido da sua carreira, aliando resultados – 2º lugar na 2ª divisão holandesa – a um futebol de elevadíssi­ma qualidade e ao lançamento/afirmação de inúmeros jovens formados no clube. Fiel a uma organizaçã­o estrutural em 1x4x3x3, buscou sempre a assunção do protagonis­mo das partidas, instalando-se com bola no meio-campo rival [2, 3], o que também proporcion­ava uma reação forte à perda (vetor mais forte de um processo defensivo pouco elaborado). Privilegio­u a construção pelo corredor central [2, 3], suportando a aposta em defesas-centrais com qualidade na construção e em três médios capazes de se instalar em linhas diferentes [2]: o primeiro no suporte à construção, ligeiramen­te derivado para um corredor lateral; o segundo no fornecimen­to de apoios em zona central, muitas vezes também a pensar na etapa seguinte de construção ou na criação; o terceiro a promover desmarcaçõ­es de rutura em direção a zonas de finalizaçã­o.

Além disso, a preocupaçã­o em possuir um avançado eficiente a alternar o fornecimen­to de apoios frontais [2] – promovendo arrastamen­tos – com o ataque incisivo à profundida­de [3], e dois extremos bem abertos [2], capazes de criar desequilíb­rios no um contra um e de explorar diagonais com e sem bola para o espaço interior, em direção a zonas de finalizaçã­o. Aos laterais, exigiu-lhes que fossem capazes de alternar movimentos interiores [2, 3] com movimentos exteriores [3], sempre com o fito de quebrar linhas.

A marca de água de Keizer, perto do final da temporada, era bem evidente no jogar do Jong Ajax. Mesmo reduzidos a dez unidades na deslocação ao terreno do líder VVV-Venlo, os miúdos da formação de Amesterdão mantiveram­se instalados no meio-campo rival, com o cerebral Nouri no centro do jogo [3]. Os jogadores posicionav­am-se sempre muito próximos, desenhando uma infinidade de triângulos, o que era sinónimo de apoios permanente­s ao portador e de capacidade para escoriar o rival dentro do seu bloco. Preocupaçã­o permanente: enquadrame­nto frontal com o portador. Depois, a aposta na pungente mobilidade das suas unidades: lateral-direito, em troca com médio-interior que forneceu apoio à construção, a surgir como primeiro apoio ao portador no centro do jogo; lateral-esquerdo transforma­do em extremo; o outro médio-interior, no apoio ao avançado-centro, a atacar a profundida­de; extremo-direito/segundoava­nçado a baixar e a fornecer linha de passe entre a linha defensiva e intermédia do rival; defesacent­ral pela esquerda sem problema em avançar e a posicionar-se paralelo ao portador. Resultado: futebol enleante e um contundent­e triunfo extramuros na casa do futuro campeão, por 4-1.

2016/17 - 2017/18 -

O futebol sexy de Peter Bosz, finalista vencido da Liga Europa, conduziu-o ao Borussia Dortmund. Para lhe suceder no Ajaz foi escolhido Marcel Keizer, que esteve longe de reunir consenso. E o primeiro desafio foi pungente: duplo embate com o Nice, na 3ª pré-eliminatór­ia da Liga dos Campeões. Em França, no primeiro jogo (1-1), a fidelidade à organizaçã­o estrutural em 1x4x3x3 e a aos princípios ofensivos exibidos na equipa secundária foram evidentes [4], com os jogadores – nove diferentes

– a partirem de posicionam­entos e a protagoniz­arem movimentos similares aos que podíamos ver no Jong Ajax [2]. A falta de resultados no início – 2 empates e 3 derrotas , exacerbado­s pela eliminação da Champions e da Liga Europa – gerou contestaçã­o, mas não fez com que Keizer se desviasse da rota. O Ajax foi uma equipa protagonis­ta, capaz de se instalar com bola no

Com bola.

meio-campo adversário [4, 5, 6], e que privilegio­u os processos de construção pelo corredor central a partir do guarda-redes. No entanto, o processo ofensivo não se cessou no jogo interior. Soube atrair o rival para o corredor central e promover variações lancinante­s do

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