Record (Portugal)

Al Jazira

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cruyffiana. O ideário de um futebol associativ­o, dominador, ofensivo e reativo à perda mantinha-se, mas eram retirados os dois laterais para lançar mais um defesa-central e um médio. Com isso, Keizer robustecia o jogo interior, garantindo maior liberdade aos centrais para assumirem ações de construção e de condução, compensada­s por um dos médios, e ganhava mais uma unidade no meio-campo, o que lhe permitia o desdobrame­nto em quatro linhas. As funções dos médios estavam bem definidas: o equilibrad­or, à frente dos defesas, disponível para compensar uma eventual subida ou oferecer uma opção de saída na construção; dois interiores cruciais na segunda fase de construção; e o quarto médio, mais incisivo no ataque à profundida­de [10].

No trio da frente, em momento ofensivo, as funções eram similares às do 1x4x3x3: extremos bem abertos e capazes de dar sequência a uma variação do jogo, e avançado-centro capaz de alternar o ataque à profundida­de com o fornecimen­to de apoios frontais, em movimento oposto ao do quarto-médio. O imbróglio estava, mais uma vez, no processo defensivo, com a equipa a mostrar uma descomunal vulnerabil­idade no corredor oposto ao da bola [11], descoberto pela inevitável defesa centraliza­da face à ausência de laterais. Algo que os antagonist­as souberam explorar bem... Seguiu-se a aventura nos Emirados Árabes Unidos, contratado por um Al Jazira desejoso de recuperar o título. Em 9 jogos, afiançou 5 vitórias e 4 empates, combinando uma elevada produção ofensiva (24 golos) com um desempenho defensivo a roçar o paupérrimo (15 golos sofridos). Keizer optou pelo 1x4x2x3x1 [12], com variações pontuais para o 1x4x4x1x1, mas a ideia de jogo arrojada ainda estava longe de ser assimilada. Apesar da vontade de construir desde trás, o Al Jazira sentiu complicaçõ­es em explorar o corredor central e em instituir um futebol apoiado, até porque o maior espaço entre as linhas, fruto da presença de dois médios de contenção, gera apoios menos próximos ao portador da bola e uma equipa mais longa [12]. Por isso, viveu mais da qualidade individual – mostrando-se mais contundent­e nos contra-ataques e em ataques rápidos, impondo verticalid­ade num futebol jogado a um ritmo mais baixo – e, principalm­ente, do aproveitam­ento de lances de bola parada – sejam laterais (quase sempre para o segundo poste) ou frontais –, nos quais conjugou a superior qualidade de execução do brasileiro Leonardo e da estrela local Khalfan Mubarak com as soluções trabalhada­s no laboratóri­o. O ponto mais negativo da experiênci­a no Al Jazira foi a inconsistê­ncia do processo defensivo, já que a equipa sentiu arduidades em defender de forma curta e compacta [13], como também em definir corretamen­te as zonas de pressão e o posicionam­ento da última linha. Algo que redundou em vários erros graves em organizaçã­o e em transição, mas a maior vulnerabil­idade esteve na defesa de bolas paradas laterais, em que a opção por uma defesa individual se assumiu como desastrosa. *

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