SANTIAGO FC
É graças à paixão das irmãs Sousa que a modalidade renasce na ilha de São Miguel
Vamos, filas de três, hoje vamos treinar o controlo de bola”, grita André Sousa. O fiel de armazém tornado treinador de futebol por causa das irmãs orienta mais um treino da equipa feminina do Santiago Futebol Clube, em São Miguel. Com 33 anos, André lidera mais de três dezenas de jogadoras, que se juntam às terças e quintasfeiras no Campo Mestre José Leste, numa iniciativa que ressurge após a tentativa falhada em 2017. “Foi uma ideia que partiu da minha irmã Rita e do clube. Reunimos algumas raparigas aqui da localidade, da vila de Água de Pau, porque não havia meios financeiros para
ÀS TERÇAS E QUINTAS-FEIRAS, O RELVADO DO CAMPO MESTRE JOSÉ LESTE ENCHE-SE COM CERCA DE TRÊS DEZENAS DE JOGADORAS
mais. Na altura, tudo acabou por causa da gravidez de algumas jogadoras”, lembra sobre o projeto de renascimento do futebol feminino na principal ilha dos Açores, após quase uma década de inatividade. A iniciativa é apoiada pela Câmara Municipal de Lagoa, vital para que as atletas de fora da freguesia possam integrar a equipa. E André Sousa conta com jogadoras entre os 12 e os 34 anos. “Algumas que já passaram pelo futsal, outras que nunca jogaram ou que praticaram outros desportos”, refere, admitindo: “Metade da equipa nunca tocou numa bola.” Ao seu lado tem a irmã Dina, adjunta e jogadora. Com 26 anos e apaixonada pelo futebol desde que jogava na rua com os irmãos, Dina Sousa tirou o curso de treinadora quando passou pela Escola de Futebol Benfica - Açores. “Foi um desafio que me lançaram e aceitei”, diz a auxiliar de educação, que deseja provar que as mulheres têm tanto direito a estar nos relvados como os homens.
Falta de competição
Polivalente, Dina sonha um dia competir a nível nacional. “Mas, para já, gostava que houvesse competição regional”, frisa. Esse é um dos obstáculos a ultrapassar, pois o Santiago é a única equipa de São Miguel. “O ideal é chegarmos ao próximo nível, que é o da competição”, adianta a terceira Sousa, Rita, de 24 anos. Licenciada em gestão e uma das impulsionadoras do projeto, pertence à direção do clube e no relvado joga a médio. Abraçou o desafio “pelo gosto”, mas não só. “É também para fazer desporto e tirar essas miúdas da rua. Nós temos atletas de dois tipos: aquelas que estudam e as já casadas, com os seus filhos, que só cuidam da família. É também uma forma de espairecer”, conclui. *