Record (Portugal)

Tondela e Sporting

- SALVADORES DAPÁTRIA

Os leitores que generosame­nte se interessam por esta coluna, perguntarã­o qual o racional deste, aparenteme­nte, estranho título.

Explico.

O Tondela tornou público que vendeu a maioria do capital da sua SAD a um grupo internacio­nal, já proprietár­io do Granada e do Parma. As razões são cristalina­s: o Tondela não tem músculo financeiro para aguentar um projeto sustentáve­l na primeira divisão e, assim sendo, vende as suas ações a quem, alegadamen­te, o tem.

Este é, pragmatica­mente, o destino escrito de muitos clubes em Portugal; já aconteceu com o Famalicão, Belenenses e Estoril, e muitos outros, na minha opinião, se seguirão.

Aalienação não é umcaminho necessaria­mente mau, tem é de ser regulament­ado.

Por duas razões: em primeiro lugar, porque o fenómeno desportivo atrai capital ligado a atividades ilícitas, desde o branqueame­nto de capital ao match-fixing, e faz-me impressão que, em Portugal, qualquer pessoa possa ser dona de uma SAD.

Emsegundo lugar, porque já houve clubes que foram no canto da sereia e se entregaram a vendedores de ilusões, com desfechos catastrófi­cos, como foram os casos do Olhanense, do Beira-Mar e do Atlé- tico. Defendo, por isso, que em sede de autorregul­ação se justifica haver uma verificaçã­o de idoneidade prévia, de qualquer entidade, que queira investir no futebol profission­al.

O que temisto aver como Sporting? Muito simples: os sócios do Sporting têm defendido, e bem, que o clube deve manter a maioria do capital da SAD. Só que este legítimo desiderato comporta uma obrigação: se se veda a outrem o apport de capital à SAD, terão de ser os seus acionistas e,

ACABARAM OS BANCOS. AS ENTIDADES PÚBLICAS E OS

em última análise, os sócios e adeptos do Sporting, quem tem de providenci­ar pela sua sustentabi­lidade financeira. Já disse e repito: acabaram os bancos, as entidades públicas e os salvadores da pátria.

Trocando por miúdos: o Sporting tem dois desafios financeiro­s pela frente, a subscrição do empréstimo obrigacion­ista e a recompra das VMOC; sem os resolver, entrará num ciclo de fragilidad­e, que pode culminar, com a maior das fragilidad­es, na perda da maioria da SAD.

Osportingu­ismodecada­um estáàprova. Anão ser que queiramos acabar como o Tondela, sem desprimor, claro está.

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