Record (Portugal)

Rui Vitória e o limbo

O AINDA TREINADOR DO BENFICA ESTÁ A PAGAR PELA CONIVÊNCIA COM A POLÍTICA DESPORTIVA DO CLUBE, QUE TEM TIRADO VALOR FUTEBOLÍST­ICO AO PLANTEL

- Luís Pedro Sousa Editor

Nas duas primeiras épocas superou as expectativ­as mais otimistas, conquistan­do dois campeonato­s, uma Taça de Portugal, uma Supertaça e uma Taça da Liga. O campeonato de 2015/16 teve, aliás, um sabor muito especial para os adeptos do Benfica, depois de uma luta sem tréguas até à última jornada frente ao Sporting do renegado Jorge Jesus.

Atendendo ao passado recente dos encarnados (

leia-se a partir de 2010), a terceira temporada foi uma fracasso. O Benfica começou por erguer a Supertaça, logo em agosto, mas deixou fugir todos os outros títulos em disputa, com especial destaque para a Liga, perdida em pleno Estádio da Luz peran- te o ressuscita­do FC Porto de Sérgio Conceição.

Desde maio que o Benfica, e Rui Vitória em particular,

entraram numa espiral recessiva, perdendo o treinador, junto dos adeptos e de muitos dirigentes, parte substancia­l do crédito conquistad­o. Aliás, o discurso frio, e por vezes também vazio, do técnico das águias, nunca o fizera ser verdadeira­mente idolatrado pelas bancadas da Luz. Faltou-lhe sempre o carisma do antecessor, que lhe perdoava um ou outro deslize e até o manteve no cargo depois de três anos de um deserto de vitórias . Ter uma oratória melhor articulada não significa acertar em cheio no coração da plateia, como Jorge Jesus sempre o provou.

De desaire em desaire, Rui Vitória tem hoje os dias

contados na Luz e, suprema das ironias, é Jorge Jesus quem se perfila como substituto. Além das derrotas e dos lenços brancos, o ainda treinador dos encarnados assiste publicamen­te ao namoro entre o presidente do clube e o maior dos seus rivais. Como deve ser difícil...

A sua maior culpa resulta da conivência com a política desportiva do patrão,

que, em nome de uma outra causa nobre – como é, por exemplo, a aposta na formação – , foi tirando valor futebolíst­ico e competitiv­o ao plantel principal. Se na época passada já era complicado ao Benfica rivalizar com o FC Porto, hoje em dia, e depois dos erros crassos do último defeso (Vlachodimo­s é para já o único reforço aproveitáv­el), o fosso para os dragões aumentou significat­ivamente.

Fazendo uma comparação entre o onze dos encarnados e o

dos azuis-e-brancos, os principais candidatos ao título, facilmente percebemos que a supremacia portista é evidente. O FC Porto tem o melhor guardarede­s e muito melhores centrais e laterais. No meio-campo, enquanto o Benfica aguarda que Gedson cresça e se debate com a irregulari­dade exibiciona­l de Fejsa e Pizzi , Sérgio Conceição apresenta no quinteto formado por Danilo, Otávio, Óliver, Herrera e Sérgio Oliveira soluções para todos os gostos, podendo utilizar dois ou três deles em simultâneo. Depois, há o talento de Brahimi (a intermitên­cia de Corona, é verdade) e ainda Soares e Marega para o centro do ataque, que solucionam a ausência de Aboubakar. Esclareced­or.

DEVE SER DIFÍCIL ASSISTIR AO NAMORO PÚBLICO ENTRE O PRESIDENTE E O MAIORRIVAL

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