Record (Portugal)

MANICHE “Nunca disse não ao Benfica”

AUTOBIOGRA­FIA CHEGA HOJE ÀS BANCAS

- TEXTOS DAVID NOVO FOTOS PAULO CALADO

De quem foi a ideia de escrever este livro e porquê agora? MANICHE – Nesta altura da minha vida sinto-me na obrigação de passar a experiênci­a para os mais jovens. Tive também o empurrão de dois amigos: o Tiago Guadalupe, o autor da obra, e o António Espírito Santo. Eles lançaram-me o desafio de uma autobiogra­fia sobre uma trajetória de que me orgulho. Vim de um bairro humilde, onde por vezes os sonhos são barrados, e estava na hora de passar esta mensagem para quem tem o interesse de sonhar. É um livro cativante.

Olivromist­urahistóri­asescritas porsinapri­meirapesso­ae testemunho­s de outras figuras do futebol... M – Tive o privilégio de conseguir incluir testemunho­s de ex-colegas meus como Deco, Ibrahimovi­c, Fernando Torres, Terry e Zanetti, de Iker Casillas, que jogou contra mim; de treinadore­s como José Mourinho, Jorge Jesus e André Villas-Boas, e também presidente­s, sendo que destaco Jorge Nuno Pinto da Costa. Há muitas risadas e algumas histórias ingratas.

Houve algum testemunho sobre si que o tenha deixado com o ego inchado?

M – Destaco o prefácio escrito por José Mourinho, que fala de mim como se eu fosse um filho dele. Teve a hombridade de dizer logo que sim, quando o convidei, e pediu-me logo para lhe enviar o livro assim que estivesse pronto. O prefácio reflete o carinho, consideraç­ão e amizade que temos um pelo outro.

Quantas histórias têm este livro?

M – São 18 capítulos, quase 300 pá- ginas. São histórias ainda não contadas, factos reais que acontecera­m na minha carreira e que só poucos sabem. Quando digo poucas pessoas, falo de colegas com quem partilhei o balneário e que nem se recordavam de alguns episódios.

E por falar nisso, você tinha tudo na memória??

M – Também não (risos). O Tiago Guadalupe foi buscar muitas histórias ao baú, e quando ele começava a recordar os episódios ,aí sim, conseguia lembrar-me.

Qual é a sua história preferida? M – Prefiro passar a mensagem para que as pessoas comprem o livro. Não só para o meu reconhecim­ento, mas também porque as vendas vão reverter para o Banco Alimentar Contra a Fome. Este livro tem o intuito de ajudar o próximo. A preferida? É melhor as pessoas lerem, porque tem histórias muito engraçadas.

É umlivro bem-disposto porque a sua carreira foi positiva, certo? M – Sim, mas também não foram só vitórias. Também conto erros que cometi na carreira, porque não há carreiras perfeitas. Houve muito trabalho para chegar ao topo, dei tudo de mim e poderia ter obtido muito mais, se não tivesse cometido alguns erros. Mesmo assim, sintome orgulhoso pela carreira que fiz.

Uma das passagens é a saída do Benfica. Acha que é um assunto que precisava de ser explicado?

M – É uma boa pergunta, porque quando me cruzo com benfiquist­as muitos não sabem o que se passou. Eu não saí do Benfica: mandaramme embora do Benfica. São coisas distintas. Nunca rescindi um contrato com o Benfica, nunca disse que não ao Benfica. Fiquei um ano sem jogar, o que poderia ter colocado em causa a minha carreira como futebolist­a de alto nível. Fiz a minha formação toda no Benfica, fui capitão, e sair daquele modo... No livro conto exatamente o que se passou. Tenho mais motivos para sorrir do que para chorar. E apesar dessa his- tória, chorei na altura mas acabei por sorrir mais tarde.

Existem capítulos dedicados Jorge Costa, José Mourinho e Jorge Mendes. Porquê estes três?

M – Falo também de Jorge Nuno Pinto da Costa, porque foi um presidente que apostou e acreditou em mim numa fase difícil da minha vida e porque foi no FC Porto que ganhei todos os títulos que almejei alcançar e que depois me permitiram dar o salto internacio­nal. O Jorge Mendes, juntamente com a minha opinião, teve decisões importante­s. E Jorge Costa, porque foi o melhor capitão que tive na minha carreira. Está escrito nesse capítulo como deve ser um capitão e como se deve liderar um grupo de trabalho dentro e fora do balneário.

Pode ler-se que agradece a Deus pelo pé direito. Sem ele, nada teria sido o mesmo?

M – (Risos) Também poderia dizer que se o meu irmão, Jorge Ribeiro, me desse o pé esquerdo dele, ainda teria dado muito mais ao futebol. Tive um pé direito que Deus me deu, porque nascemos com um dom e o meu pé direito deu muitas alegrias a muita gente. Foi com o pé direito que fiz alguns golos, que fiz alguns passes de 30 ou 40 metros, que dei algumas ‘porradas’ a alguns colegas meus. Mas, claro,

“JOSÉ MOURINHO FALA DE MIM COMO SE EU FOSSE FILHO DELE. O PREFÁCIO REFLETE O CARINHO, CONSIDERAÇ­ÃO E AMIZADE QUE TEMOS UM PELO OUTRO”

“SÃO FACTOS REAIS QUE ACONTECERA­M NA MINHA CARREIRA E QUE POUCOS SABEM”

“EU NÃO SAÍDO BENFICA; MANDARAM-ME EMBORA. SÃO COISAS DISTINTAS. NUNCA DISSE QUE NÃO AO BENFICA”

“NASCEMOS COM UM DOM. O MEU PÉ DIREITO DEU ALEGRIAS A MUITA GENTE. GOLOS, PASSES E ALGUMAS’PORRADAS’”

sem a cabeça, o pé direito não teria servido de nada. A quem entregou o primeiro exemplar do livro?

M – Poderia entregá-lo aos meus filhos, ao José Mourinho e a todos os que fazem parte do livro, porque me fizeram crescer como pessoa e futebolist­a. Poderia oferecê-lo ao próprio autor, que tantas horas dedicou ao livro; poderia entregá-lo à minha mulher... Tanta gente. Sinceramen­te, gostaria de o oferecer a uma pessoa que já não está entre nós: o meu tio. Foi como um pai para mim, não está cá para ler o que escrevi mas está no céu a olhar por mim. E também ao meu avô. *

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