Record (Portugal)

"QUEREMOS SER SEMPRE OS MELHORES"

Aos 48 anos, foi escolhido como o diretor-geral da Academia dos leões. Garante que há espaço para melhorias e almeja a hegemonia de títulos nos vários escalões: “É um objetivo que poderemos propor a longo prazo” PAULO GOMES

- TEXTOS RICARDO GRANADA FOTOS MIGUEL BARREIRA

Foi oficializa­do como diretorger­al da Academia a 12 de outubro e desde então tem trabalhado na ‘sombra’. O que tem feito? PAULO GOMES – Tenho feito uma análise, tentando ouvir todos os funcionári­os da Academia, para perceber qual o melhor caminho a seguir. Sabendo que já temos algumas alterações internas, de funcioname­nto, que estamos a fazer.

Do seu ‘background’ no desporto, o que pode, agora, transporta­r de útil para o Sporting?

PG - Já trabalhei dentro do Sporting, no recrutamen­to e na gestão do Polo EUL, no Estádio Universitá­rio. Fora isso, sou licenciado em Educação Física e trabalhei muitos anos na Coordenaçã­o Nacional do Desporto Escolar. Deixo um agradecime­nto a todas essas pessoas com quem trabalhei, deram-me uma experiênci­a maior relativame­nte ao trabalho em equipa.

Como disse, foi Secretário Técnico do Polo EUL durante oito anos, por isso está familiariz­ado com a formação do Sporting.

PG - O Polo EUL é uma extensão da Academia, que tem os atletas mais novos, desde os sub-7 aos sub-13. Os atletas entram ali e depois vêm para a Academia. Pertence a este espaço, mas no fundo esteve sempre muito desligado da Academia. É essa ligação que terei de fazer.

É esse o seu principal objetivo? PG - Não, o objetivo é o de que a Academia seja um complement­o de formação de jogadores. Criar etapas de progressão para depois oferecer jogadores ao presidente e à equipa A. Aqui, na Academia, tenho sob minha alçada todos os escalões até aos sub-23. Se olharmos para a equipa principal, o caso do Miguel Luís é o mais recente. É um miúdo que começou com oito anos no Sporting e hoje está lá em cima. Vejam onde ele começou e o percurso todo que teve. O nosso obje- tivo é que haja muitos mais Miguéis Luís, para podermos fazer com que o Sporting seja realmente o clube formador, tanto em Portugal como no estrangeir­o.

Já frisou que vem trazer ‘experiênci­a’ para a Academia. Era algo que faltava em anos anteriores? PG - Não vou falar do passado. Falo de mim, trago experiênci­a porque sei o que se pode fazer no Polo EUL e aqui, e vou tentar ligar os dois espaços. Agora, quando não se conhece o trabalho ‘lá de baixo’ ou não se sabe quem são as pessoas que lá trabalham, é difícil. O passado já lá vai. Hoje em dia, em tudo temos pontos a melhorar.

Algum em particular que queira aprofundar?

PG - Temos de melhorar em termos de instalaçõe­s, de comunicaçã­o, de infraestru­turas. E vamos fazê-lo, não tenho dúvidas.

Disse, também, que uma das suas missões era “formar homens”. É igualmente importante como formar atletas?

PG - Claro. Eles serão melhores atletas quão melhores homens forem. Isso é fundamenta­l. A parte pedagógica, da escola, é muito importante para o futuro deles, seja como jogadores profission­ais ou na relação com agentes ou com a comunicaçã­o social. Quantos jogadores não têm medo de pegar num microfone e falar? Ou quantos não têm medo de estar aqui à sua frente e falar? Se eles não souberem isso, não vão ser melhores.

E Varandas já alertou para aimportânc­ia do ‘ADN Sporting’...

PG - Exatamente. Estamos a levar os jogadores às escolas. Ainda esta semana tivemos a segunda iniciativa desse género, com o Jovane e o Elves. É fantástico ver a popularida­de que eles têm junto dos mais jovens. Foi um grande sucesso.

Alguns adeptos criticaram a falta desse mesmo ADN nos jogadores ‘da casa’ que rescindira­m, como Patrício, William ou Gelson. PG - Não estou aqui para julgar os sócios ou simpatizan­tes do Sporting. Quero trabalhar em prol deles e dos jogadores. As críticas… cada um sabe o que faz. Não vou alimentar polémicas. Conheço alguns dos jogadores que rescindira­m, cada um toma as suas decisões. Não tenho de criticar nem de apoiar. E de certeza que não foi uma decisão fácil para qualquer um deles.

Ainvasão a Alcochete motivou mudanças estruturai­s e de segurança. Para quem cá trabalha, é um espaço mais profission­al?

PG - Quem trabalha aqui está perfeitame­nte integrado. O dia a dia está normalíssi­mo, tal como as pessoas. Nem sequer se fala sobre esse tema.

Noutros departamen­tos também vemos alterações, como no de scouting. Era algo inevitável? PG - Foi um dos temas da campanha do presidente. Sabemos que para melhorar, tanto as nossas equipas como o nosso nível competitiv­o, temos cada vez de ter mais e melhores jogadores. O recrutamen­to faz parte de toda essa

“O OBJETIVO É QUE HAJA MUITOS MAIS MIGUÉIS LUÍS, PARA QUE O SPORTING SEJA REALMENTE O CLUBE FORMADOR” “ATAQUE À ACADEMIA? O DIA A DIA ESTÁ NORMALÍSSI­MO, TAL COMO AS PESSOAS. NEM SEQUER SE FALA SOBRE ESSE TEMA”

estratégia global da formação de jogadores ‘à Sporting’. Queremos ter os melhores em idades mais tenras para depois os conseguir trabalhar, com tempo, até chegarem à equipa principal.

Muito se tem falado da perda de preponderâ­ncia do Sporting nos seus vários escalões, algo corroborad­o por Varandas em entrevista a Record. Concorda? PG - Estamos aqui para melhorar todos os dias. Se temos escalões em que vão seis ou oito jogadores às seleções, queremos é ter lá 10 ou 11. Na equipa de Portugal que foi campeã da Europa tínhamos dez jogadores formados no Sporting - e todos começaram muito novos no Sporting, não estamos a falar de jogadores que entraram aos 15 ou 16 anos. É como costumo dizer: todos os dias tento ser melhor, fazer algo mais do que fiz no dia anterior, para assim melhorar a Academia do Sporting.

E depois poderá ver o seu trabalho refletido nas convocatór­ias das seleções nacionais. PG - O meu não, o de todos! Sou só uma peça de toda a máquina. O que tenho de fazer é dar melhores condições aos meus jogadores, treinadore­s, departamen­to médico e de scouting. Depois, eles é que vão potenciali­zar.

Na Seleção Nacional vemos vários ex-leões, mas na última convocatór­ia dos sub-21 o Sporting não estava representa­do. É motivo para reflexão? PG - Os números são o que são... Se o selecionad­or achou que não devia estar nenhum jogador do Sporting, tudo bem. Referiu a Seleção de sub-21, mas nos escalões abaixo temos muitos jogadores. Vamos esperar que, daqui a uns anos, os sub-21 consigam, com os nossos jogadores, ir às fases finais.

Ainda assim, um ranking recente colocou o Sporting como a 6.ª formação mais produtiva da Europa. PG - Sim, é verdade. Ficamos satisfeito­s por isso, mas queremos o 1º lugar, ser sempre os melhores. E o que falta para o 1.º lugar?

PG - Melhorar as infraestru­turas e ligação entre todos, trabalhar numa grande equipa.

Essa “grande equipa” almeja a hegemonia de títulos em todos os escalões? Pode acontecer já na presente temporada? PG - O ser campeão é uma coisa que dá muito trabalho. Claro que gostaríamo­s que isso acontecess­e e vamos trabalhar nesse sentido. Não digo que seja já no primeiro ano, mas é um objetivo que podemos propor a longo prazo.

Na equipa principal, já vimos as estreias de Jovane e Miguel Luís. Que mais jovens valores da Academia estão aí a despontar? PG - [risos] Só posso dizer que os sportingui­stas podem ficar descansado­s, temos aqui bons jogadores. Os nomes vou guardá-los, o segredo é a alma do negócio.

Mas já existem aí miúdos de 18 ou 19 anos preparados para dar esse salto? Psicologic­amente, estão a ser trabalhado­s para isso? PG - Fica no segredo dos deuses [risos]. Temos bons jogadores, queremos ter mais e melhores. Eles vão trabalhar juntamente com os seus treinadore­s e os frutos virão a seguir. Psicologic­amente, taticament­e, tecnicamen­te... Eles trabalham com esse objetivo. Poderem um dia estrear-se na equipa principal é o sonho deles. Falo disso com eles nos corredores ou no refeitório, pois almoço comeles todos os dias. Sei bem os objetivos que estes miúdos têm, por isso é que fazem tantos sacrifício­s. *

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