Bater no fundo
Bayern não precisou de efetuar uma exibição superlativa para vergar o Benfica a mais um desastre europeu vexatório na era de Rui Vitória. O treinador dos encarnados bem pode insistir nos seus chavões de autoajuda totalmente vácuos –“o foco, a energia, o coração e a cabeça” –, que o seu incessante divórcio da dissecação e da discussão futebolística, mesmo quando instado a fazê-lo, tem reflexo num confrangedor vazio de ideias dentro de campo. Algo que redunda
COM UMA ESTRATÉGIA ASSENTE NO PROCESSO DEFENSIVO, AS ÁGUIAS FORAM ATROPELADAS QUANDO O BAYERN ACELEROU
numa degradação gradual da qualidade de jogo de época para época, quando o que se exige a um treinador, independentemente de ser funcionário ou autor, é exatamente o oposto. Ante um adversário a atravessar um período embaraçoso e que acabara de empatar em casa (3-3) com o penúltimo classificado da Bundesliga, o Benfica foi a imagem do seu técnico na Allianz Arena: uma equipa medrosa e pequena, o que contraria violentamente a história e o ideário de um colosso do futebol europeu. Incapazes de assumir a necessidade imperiosa de um triunfo para se manterem vivos na Champions, os encarnados revelaram um confrangedor deserto de ideias com bola, fruto da total incapacidade para ligar jogo além do tradicional chutão. O que obrigou Jonas, mais uma vez, a metamorfosear-se num triplo papel de ‘9’, ‘10’ e ‘8’, em busca da missão impossível de chegar à baliza rival [ 1]. Com uma estratégia assente no processo defensivo, em busca de um nulo(zinho), as águias foram atropeladas sempre que o Bayern decidiu acelerar. Ficaram desfraldas as tremendas debilidades em organização, em transição e nas bolas paradas laterais, com Lewandowski, na sequência de cruzamentos bem medidos de Kimmich, a assinar dois tentos de cabeça entre Rúben Dias e um inerte Conti. Contudo, foi Robben quem iniciou o pesadelo encarnado em Munique. O génio de porcelana, mesmo após estragar um contra-ataque em paridade numérica, inventou uma jogada em que deixou meia equipa rival pelo caminho, incapaz de travar o seu movimento padrão em diagonal [ 2]. Pouco depois, foi sagaz a fruir de novo contra-ataque, após combinação entre Lewandowski e Müller, atacando com contundência a profundidade [ 3], num lance que começou a desenhar-se a partir dos pés de Neuer.