Record (Portugal)

O que falta a Bas Dost

- Octávio Ribeiro Diretor-geral da Cofina

AO HOLANDÊS URGE EXACERBAR O EGOÍSMO QUE FAZ OS ENORMES MARCADORES DE GOLOS. BAS DOST É UM PONTA-DE-LANÇA ALTRUÍSTA, OU SEJA, NÃO É, AINDA, UM MATADOR

Este novo Sporting de Keizer ameaça tornar o futebol da liga interna mais imprevisív­el e excitante. Cultivar zonas altas de pressão não é invenção recente. Quem começou por o fazer melhor a nível europeu foi o Boavista de Jaime Pacheco, no início do século. Logo a seguir, o FC Porto de José Mourinho elevou a estratégia a vitórias continenta­is. O pináculo chegou com o Barcelona de Guardiola.

No futebol, a pressão alta é a

emanação do princípio heroico da fuga para a frente. Na célebre máxima – a melhor defesa é o ataque.

Se podemos conquistar abolaa trinta, quarentame­tros,

da baliza adversária, por que o devemos fazer próximo da nossa área, já com risco de golo contra?

Quando aestratégi­afunciona,

é uma maravilha. Mas, face a equipas de igual valia, ou supe- rior – e não esqueçamos que, mesmo na frente interna, o Sporting não tem o melhor plantel da prova –, o risco de queda no abismo é muito elevado.

Depois, há o desgaste físico

que esta forma de jogar provoca nos atletas das linhas avançadas. Aos sessenta minutos do jogo com o Rio Ave, Nani, Bruno Fernandes e Diaby já estavam notoriamen­te desgastado­s, sendo Nani o maior candidato à substituiç­ão que bafejou Diaby.

Colocada a euforia sportingui­sta em perspetiva, o que concluir deste novo futebol do Sporting? Para ser eficaz perante equipas da valia do Braga e acima, precisa de um trinco com uma clarividên­cia e omnipresen­ça que Gudelj ainda não mostrou. Exige centrais rápidos a subir a linha de fora-de-jogo – Coates mostra as maiores dificuldad­es nesse domínio – e capazes de caçar avançados lançados em contra-ataque.

Se Keizer persistir no modelo

(será ótimo que o faça), os jogos do Sporting vão passar a ter muitos golos. O sucesso virá se o Sporting marcar sempre mais um golo do que os adversário­s.

Para já, este futebol merece aplausos e casas cheias em Alvalade.

Wendel parece umexcelent­e jogador,

que andou escondido por estranhas opções técnicas. Um jovem com este perfil encaixa neste modelo de pressão alta como em qualquer outro. Mostra ser um jogador de equipa grande que poderá render ao Sporting vitórias e milhões.

Na frente, a equipa tem um excelente ponta-de-lança,

mas Bas Dost precisa tanto de aulas de autocontro­lo como o seu colega Acuña. O argentino deve aprender a controlar aquela agressivid­ade que o cega. Ao holandês urge exacerbar o egoísmo que faz os enormes marcadores de golos. Bas Dost é um ponta-de-lança altruísta, ou seja, não é, ainda, um matador. Tem de fazer sua a paráfrase do ditado ‘a cabeça é para o caçador’.

Para um verdadeiro pontade-lança,

na área, com um bom ângulo de remate, o golo é para o goleador. E, caro Bas Dost, se falhar, paciência.

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