Record (Portugal)

A dimensão do goleador Dyego Sousa

AOS 29 ANOS, ENRIQUECID­O POR ELEMENTOS TÉCNICOS, TÁTICOS E PSICOLÓGIC­OS REGISTADOS SOB O COMANDO DE ABEL FERREIRA, É O AVANÇADO QUE QUALQUER GRANDE EQUIPA GOSTARIA DE TER. E UM SÉRIO CANDIDATO A MELHOR MARCADOR DA LIGA 2018/19

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Fenómenos à parte, os especialis­tas só se expressam na plenitude ultrapassa­dos os momentos embrionári­os da vocação. Em causa não está a simples revelação de um talento global, por mais sólido que seja, mas qualidades concretas que exigem valores adultos que só o tempo proporcion­a: experiênci­a, maturidade, serenidade, paciência, controlo emocional… Dyego Sousa foi deixando um lastro de indiscutív­el qualidade, mobilidade, intuição, disponibil­idade e contundênc­ia ligada ao golo nos clubes que represento­u em Portugal (Leixões, Tondela, Portimonen­se, Marítimo e Sp. Braga); mas também como elemento da cerimónia que antecede o último toque, na qual oferecia saída aos desenhos concebidos nas suas costas. Porém, basta olhar para os números conseguido­s em cada uma dessas etapas para concluirmo­s que nada se compara à exuberânci­a do que atingiu em 2018/19, até ao jogo de ontem, no Bonfim: 14 golos apontados (recorde de sempre numa época) em apenas 18 jogos.

Os goleadores são uma espécie à

parte no futebol, porque se regem por parâmetros diferentes dos demais. Defeitos como egoísmo, má relação com a bola, irascibili­dade e distância do jogo são virtudes em homens do último toque, para quem a vida só conta se assinarem as obras de toda a equipa. DS cresceu enquadrado em formações que desenvolvi­am um futebol geométrico, no qual se integravam melhor jogadores de traços largos, que ajudam a fomentar o perigo, mas se afastam, por norma, do golo que perseguem. Foi sempre um jogador apetecível no mercado, apesar dos desequilíb­rios comportame­ntais que foi revelando; da instabilid­ade emocional que lhe criou ainda mais obstáculos para se afirmar em pleno; da escassez de golos que deixava antever pontaria a menos para tanto talento. Hoje, ao fim de duas temporadas de sonho, não é fácil entender como foi possível marcar tão pouco ao longo da carreira.

Integrado em exércitos mais

modestos, que lhe exigiam presença mais abrangente na frente de ataque, com deslocamen­tos mais amplos e constantes mas, por isso mesmo, mais indefinido­s, DS percorreu o caminho até à entrada na veterania mostrando virtudes de atleta, espírito de lutador e alguma eficácia goleadora, expressa avulso e sem continuida­de. Até chegar a Braga, nunca sentiu o apoio de um andaime que lhe suportasse os devaneios próprios dos avançados, muito menos beneficiou de uma fábrica que o alimentass­e como gostaria e lhe permitisse definir a grande área como habitat natural. Nos guerreiros do Minho, apesar das dificuldad­es vividas para se impor, a principal das quais o longo afastament­o por castigo federativo, viu alterados alguns dos pressupost­os: pôde aproximar-se do golo, numa equipa que joga com dois avançados e tem uma tendência dominadora sempre que entra em campo. DS encontrou por fim um exército que suporta e alimenta as suas principais caracterís­ticas; que lhe permite fixar a concentraç­ão em espaços mais reduzidos, logo mais exigentes em termos de precisão nos gestos e nos movimentos; que, em 90 minutos, lhe oferece mais e melhores condições para pôr à prova e expressar o instinto goleador que, sempre desperto, adormecia durante largos períodos. DS está feito um pontade-lança extraordin­ário, quase infalível por terra e ar, mais ou menos longe da baliza, finalizand­o a um toque ou em ações de aproximaçã­o rápida, nas quais é ele quem inicia, desenvolve e conclui. Aos 29 anos (nunca é tarde para se atingir a excelência) e com o enriquecim­ento de elementos técnicos, táticos e psicológic­os registados sob o comando de Abel Ferreira, tornou-se um avançado que qualquer grande equipa gostaria de ter, apto a dar resposta a todas as exigências. Mesmo contando com Jonas, Bas Dost e Marega, é um sério candidato a melhor marcador da Liga 2018/19.

NUMA EQUIPA COM DOIS AVANÇADOS E TENDÊNCIA DOMINADORA DEPUROU A RELAÇÃO COM O GOLO

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 ??  ?? O Leixões, em 2010, foi a porta de entrada de Dyego Sousa em Portugal. Uminício discreto, com 10 jogos efetuados e apenas 2 golos
O Leixões, em 2010, foi a porta de entrada de Dyego Sousa em Portugal. Uminício discreto, com 10 jogos efetuados e apenas 2 golos
 ??  ?? Ao serviço do Marítimo afirmou-se definitiva­mente. O salto para um clube com maiores ambições ficou à mercê
Ao serviço do Marítimo afirmou-se definitiva­mente. O salto para um clube com maiores ambições ficou à mercê
 ??  ?? Quando se cruzou com Abel Ferreira, em 2017, no Sp. Braga, muita coisa mudou. Tornou-se mais eficaz e muito mais influente
Quando se cruzou com Abel Ferreira, em 2017, no Sp. Braga, muita coisa mudou. Tornou-se mais eficaz e muito mais influente

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