CLUBE MAIS ANTIGO DO MUNDO O FUTEBOL EM ESTADO PURO
Sabia que o Clube Mais Antigo do Mundo é de Torres Vedras? Pois então fique a conhecer a sua história e os jogos, que têm sempre três partes distintas
cientista e professor na reputada universidade de Cambridge e programa a semana para estar todas as sextas-feiras à noite num campo de futebol em Fernandinho, na zona Oeste, perto de Torres Vedras. Os sacrifícios de Gonçalo Bernardes por mais uma jornada ao serviço do Clube Mais Antigo do Mundo (CMAM) são feitos com verdadeiro amor à camisola, mas não só. O convívio também conta (aliás, é o essencial) e o repasto preparado pelo chef Benjamim é o final mais saboroso. Falhar não é opção. Ricardo Alves acabou de aterrar no aero-
NO RELVADO DO FERNANDINHO JOGAM OS REIS DO BACALHAU E UM GUARDA-REDES QUE FOI HERÓI DA TAÇA NAS ANTAS
porto de Lisboa vindo do México, depois de mais uma viagem de negócios em nome da Riberalves. Ele é, aliás, um dos administradores da empresa de bacalhau, com uma faturação de 150 milhões de euros/ano, tal com outro dos jogadores do CMAM, Bernardo Alves, que desta vez não está presente. Ricardo e Bernardo são os anfitriões, pois o campo do Fernandinho fica em plena quinta da Adega Mãe.
O CMAM não é tão antigo como isso. Na verdade, nem há a certeza exata de quando tudo começou. Fala-se em meia dúzia de anos, mas o importante é que representa o futebol em estado puro, como diria Luís Freitas Lobo.
Há antigos craques num plantel que não respeita as janelas de mercado e, por isso, está sempre aberto a reforços que deverão respeitar as regras, não apenas as do futebol mas igualmente as do salutar convívio. Marco Caneira e Zé António (nascido e criado no Torreense e que teve no Borussia Mönchengladbach e no FC Porto os pontos mais altos da carreira) são presenças habituais, sendo que o antigo sportinguista integrou inclusivamente a comitiva do CMAM na sua primeira deslo- cação internacional. Foi a Guadalajara, em Espanha, e Caneira não se esqueceu de levar o leitão de Negrais.
Com menos impacto mediático, Humberto Feliciano é outro dos ex-futebolistas que também veste a camisola do CMAM. Aos 40 anos, é distribuidor de bacalhau mas aos 21 esteve num dos momentos históricos do futebol português. Era ele quem defendia a baliza do Torreense que eliminou da Taça de Portugal o FC Porto, então treinado por Fernando Santos. Estávamos em 1998/99 e Humberto tinha 21 anos. Entre caras conhecidas do meio desportivo, como por exemplo o presidente do Sindicado dos Jogadores Joaquim Evangelista, há outras do mundo da música como João Pedro Pais (a quem o CMAM é um reconfortante refúgio para combater a tristeza que sente por ver o Belenenses partido em dois) ou empresarial, como Fernando Lúcio, proprietário da pastelaria Choupana, em Lisboa.
A noite está fria mas o jogo cumpre a missão para a qual está destinado: desporto com o espírito genuíno da paixão e do convívio. Muitos golos, algumas caneladas e um apetite voraz que entra em ação na 3ª parte do encontro. Aí, já aparece o presidente Sérgio Galvão, que todos ouvem e respeitam como figura máxima do clube, até porque tem experiência no cargo na Física de Torres Vedras. Foi ele quem inventou o nome, baseado numa reportagem de Record sobre o Sheffield FC (o recorte do jornal guardado religiosamente comprova-o) e criou o emblema, inspirado no brasão de Torres Vedras. Sem casos nem polémicas, a jornada chega ao fim com duas certezas: uma, a de que valeu a pena; a outra, de que para a semana há mais. *