Record (Portugal)

LEMBRA-SE DAQUELA VITÓRIA?

Existe uma ligação bem forte entre o desporto-rei, a demência e doenças neurológic­as. Fomos saber como e porquê

- JOÃO SEIXAS

lhe disser que há uma relação bem próxima entre o desporto-rei e problemas mentais como a demência e o Alzheimer, provavelme­nte começará por duvidar. Mas a verdade é que não só existem ligações fortes entre o futebol e doenças do foro neurológic­o, como existem neste momento uma série de iniciativa­s que utilizam a modalidade como modo de combate. Mas vamos por partes. Comecemos pela forte incidência de doenças mentais emfuteboli­stas. Estes casos nem sempre foram acompanhad­os da melhor forma, porque a ciência não se dedicava de forma efetiva ao desporto, mas rapidament­e se começou a entender que existiam provas concretas de que o acumular de lesões na cabeça conduziam, em alguns caso, a episódios de demência e problemas de saúde mental. De resto, três nomes icónicos do futebol mundial padeceram de Alzheimer em fases avan- çadas da vida – Laszlo Kubala, Ferenc Puskás e Gerd Muller. E o facto de terem uma dimensão estratosfé­rica no futebol fez comque se começasse a dar mais atenção àquilo em que o contacto diário das cabeças dos futebolist­as com bolas podia realmente degenerar. Foram conduzidos testes, foram feitas análises detalhadas ao espectro de incidência destes problemas e entendeu-se que muitos ex-jogadores começavam a mostrar sinais de demência a partir dos 65 anos, quando a média da população é a partir dos 75 anos. Também a taxa de incidência de Encefalopa­tias Traumática­s Crónicas mostrava uma proporção maior do que a restante população. Aliás, muitos médicos defendem mesmo que a utilização de capacetes deveria ser uma realidade no futebol. Mas a resistênci­a a estas palavras, ironicamen­te, surge de entidades como a FIFA e a Premier League inglesa, que chutam para canto estas questões.

Mãos à obra em Barcelona

E foi precisamen­te devido a esta íntima e já histórica relação entre o futebol e as doenças mentais que em Espanha se encetou uma iniciativa que está a conquistar seguidores um pouco por todo o Mundo. A Universida­de Autónoma de Barcelona criou um projeto, desenvolvi­do pela Fundação Saúde e Envelhecim­ento, em que idosos com problemas de memória, demência ou Alzheimer, utilizam as conversas sobre futebol para ativar o cérebro e mantê-lo em ação.

“Falar sobre jogos de futebol antigos é um tipo de interação social que permite um envelhecim­ento ativo. Estamos a ter resultados fantástico­s e conseguimo­s provar que a nossa teoria estava correta”, diz Sara Domènech, líder do projeto da universida­de catalã. Desde o arranque da iniciativa, já foram muitos os clubes a replicá-la. Quem beneficia deste tratamento explica como é voltar a... recordar. “O Alzheimer não me deixava funcionar bem. Mas as conversas ajudam. Lembro-me das datas dos jogos, dos convocados e até de quem marcou”, assegura Felipe Mestre, de 80 anos. *

EM ESPANHA REALIZAM-SE SESSÕES DE TERAPIA COM IDOSOS QUE TÊM COMO BASE AS MEMÓRIAS FUTEBOLÍST­ICAS

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PASSADO. Celebraçõe­s de golo como esta, do mítico Kubala, pelo Barcelona, são verdadeiro­s dínamos para a ativação da memória
 ??  ?? ÍDOLOS. Lazslo Kubala, Gerd Muller e Ferenc Puskás foram figuras ímpares do universo do futebol e todos sofreram de Alzheimer em idade avançada
ÍDOLOS. Lazslo Kubala, Gerd Muller e Ferenc Puskás foram figuras ímpares do universo do futebol e todos sofreram de Alzheimer em idade avançada
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