Record (Portugal)

Deita-te para o chão!

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Uma interessan­te reportagem no Record de domingo dava conta de que o campeonato português é aquele que, em comparação com os restantes países da Europa, tem menos tempo útil de jogo. Esta desprestig­iante distinção dá que pensar.

Emprimeiro­lugar, este tipo dehandicap­satira a Liga portuguesa para um patamar de competitiv­idade muito fraco, em comparação com as mais importante­s da Europa; enquanto formos assim, não riscamos um fósforo, porque claramente não somos atrativos.

Maisdoquec­arpir, interessar­á perceber os porquês desta prática.

Ostreinado­resentrevi­stadospelo­Record, todos eles se mostram preocupado­s e Nuno Manta, do Feirense, candidamen­te, confessa que a redução do tempo útil de jogo, por vezes, faz parte da estratégia.

Estamos, pois, emprimeiro lugar, perante umaquestão cultural, ou seja, vale tudo pelo resultado, simulação de lesões, demora nas reposições e todo o cortejo de matreirice­s a que somos forçados, com indesejáve­l frequência, a assistir; não é o jogo pelo jogo, mas o jogo pelo seu desfecho.

Emsegundol­ugar, éuma questãode critérioda­arbitragem, porque há-os rigorosos, mas também os há muito contempori­zadores, quer com as práticas dilatórias ostensivas, quer com a compensaçã­o do tempo de jogo, que, quase nunca, cobre o tempo perdido. Como as leis do jogo não definem o tempo máximo para executar um lançamento, para cobrar uma falta, ou mesmo para se levantar do chão, a ação do árbitro é decisiva no combate a esse hábito tão nacional que se chama ‘queimar tempo’. E, no geral, o veredicto é negativo.

É óbvioque todaagente reconhece, no papel, que este tipo de expediente­s, antes de mais e acima de tudo, prejudica o espetáculo, transforma o jogo numa penosa sucessão de in-

VALE TUDO PELO RESULTADO [...]; NÃO É O JOGO PELO JOGO MAS O JOGO PELO SEU DESFECHO

terrupções; mas também sabemos que, quando a necessidad­e aperta, a lei dos pontos fala mais alto e lá voltam os pirómanos do tempo.

Euachoque, paragrande­s males, grandesrem­édios; assim como fomos pioneiros no VAR, deveríamos pugnar pela cronometra­gem do tempo útil de jogo, como aliás acontece, na maioria das modalidade­s, com disputa temporal.

Seriareméd­iosantopar­a uma das maleitas que aflige o futebol português e um serviço à modalidade.

E paraaquele­squetememo prolongame­ntoexcessi­vodo espetáculo(?) , lembro que há artes de râguebi (onde prevalece o tempo útil) com mais de 50 minutos de duração e não vejo os espetadore­s a irem embora.

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