Record (Portugal)

É preciso gritar!

FALTA SORTE A RUI VITÓRIA, É VERDADE. MAS NÃO SÓ. ALGO ESTÁ ERRADO PARA SURGIR TANTA IMPERFEIÇíO, TANTO AZAR. A COMUNICAÇíO DENTRO DO CAMPO, POR EXEMPLO, DEIXA A DESEJAR

- Octávio Ribeiro Diretor-geral da Cofina

DEPOIS DA DERROTA HÁ QUE PERGUNTAR: VIEIRA CONTINUARÁ FIEL À LUZ DE CERTA NOITE?

Quando os seus comandante­s lhe indicavam um novo general para liderar tropas, depois de ouvir o currículo, Napoleão sempre perguntava: ‘E é um homem de sorte?’

Os deuses do futebol estão de

costas voltadas para Rui Vitória. O que se passou ontem em Portimão foi uma derrota cunhada a golpes de infortúnio. Mas a sorte não é um ponto de partida, é um sorriso divino à chegada. Os golpes de azar na profissão acontecem muito mais a quem tem um trabalho deficiente.

Vá lá saber-se em que área está Rui Vitória a claudicar.

Mas, não sendo nesta fase um homem de sorte, algo está errado no seu trabalho. Ou os atletas já não o ouvem devidament­e, ou estão saturados de o ouvir? Ou, ainda, não está a haver criativida­de e surpresa nos métodos de trabalho? Ou estão a ser descurados detalhes essenciais na formação de um grupo ganhador? Alguma coisa está mal, quando surge tanta imperfeiçã­o. Tanto azar.

Centremo-nos na comunicaçã­o dentro de campo:

Odysseas tem excelentes mãos, bons pés, classe, mas parece faltarlhe voz de comando. Em que língua comunica Odysseas com os seus defesas?

O lance do primeiro golo poderia ser evitado se

o guardião gritasse que a bola é sua. E era. Ou melhor, devia ter sido. A partir desse momento, os dados esta- vam lançados para uma derrota estranha.

Afalta de comunicaçã­o entre

guarda-redes e defesas é reflexo deste futebol global. Odysseas ainda não sabe dizer ‘larga’? E ‘deixa’? E ‘minha’? Para os donos das balizas, estas palavras devem ser aprendidas antes de qualquer palavrão.

Depois veio umainda mais inexplicáv­el golo de Jardel. Ninguém lhe gritou ‘estás só’? Jardel, sem qualquer pressão adversária, cabeceia de forma muito deficiente para a sua própria rede. Os deuses do futebol não estão com Rui Vitória. Resta saber se o treinador do Benfica ainda tem tempo e discernime­nto para descobrir porquê.

Com a liderança cada vez mais longe,

as bancadas da Luz vão tender para a míngua, com mais plástico à vista. Luís Filipe Vieira teclou furiosamen­te no telemóvel, por volta do final da primeira parte. Continuará fiel à luz que lhe deu naquela noite de solidão? Os próximos dias vão ser intensos no reino da águia.

No Dubai, local de refúgio de Jesus em folga,

a mais de seis mil quilómetro­s daqui, Ronaldo descansa enquanto almeja ver reposta alguma justiça nos prémios ‘Globe Soccer Awards’. Depois de mais uma época de intenso brilho, Ronaldo foi banido da conquista dos prémios individuai­s mais consolidad­os. Nem o melhor golo da história do futebol (na baliza estava um monstro sagrado chamado Buffon, o estádio era mítico, e a competição máxima…) mereceu a eleição como golo da época. Um escândalo em angélicos tons brancos de Madrid. Hoje, nos Emirados Árabes Unidos, se verá até onde vai a longa mão do império Real.

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