Record (Portugal)

Benfica precisa de um Keizer

É A DECISÃO DE MUDAR, DE NÃO SER TEIMOSO NO ERRO, DE DAR UMA NOVA ALMA. O BENFICA PRECISA DE UM KEIZER, QUALQUER QUE ELE SEJA. SÓ VIEIRA E VITÓRIA DEMORARAM 24 HORAS A PERCEBER ISTO

- Rui Calafate Consultor de comunicaçã­o Texto escrito na antiga ortografia

AESTRUTURA­ESTÁMANCA SEM PAULO GONÇALVES, ESSENCIAL NAS ÚLTIMAS CONQUISTAS DAS ÁGUIAS

É penoso de ver um homem que não compreende o seu destino a ser tecido, com as subtilezas e sortilégio­s típicos do futebol, suavemente, cinicament­e, a caminho de um abismo do qual não pode escapar. Já nem o espelho para onde olha todas as manhãs quando faz a barba acredita que ele tem futuro no Benfica. Se o espelho, ao fim e ao cabo seu amigo fiel que lhe dá a imagem de quem ele é realmente, pudesse falar, aconselhav­a-o: “Rui, sai enquanto é tempo, vai ganhar dinheiro para a Arábia Saudita, não manches os títulos que conquistas­te, não há ‘luzinha’ nenhuma vista à noite que te salve, deixa com a tua honra intacta, sai pelo teu pé, com a mesma dignidade com que entraste quando vieste de Guimarães.” Mas não. Rui Vitória entende que é um sinal de coragem prosseguir a delapidaçã­o do minguante capital de confiança, como se de uma nova sra. Amélia Rey Colaço se tratasse e teatralmen­te exclamasse: “As árvores morrem de pé.”

Nesta nova crise do Benfica, da qual o técnico não é o único culpado, recordei um conto do fabuloso escritor uruguaio Eduardo Galeano, o que recria o dia da morte de Júlio César. Calpúrnia, a sua mulher, acordou a chorar. “Sonhava que o marido, atacado à punhalada, agonizava nos seus braços. E contou-lhe o sonho, suplicando-lhe que ficasse em casa, porque lá fora o cemitério esperava por ele. Mas o ditador vitalício, o divino guerreiro, o deus invicto, não podia fazer caso do sonho de uma mulher. Júlio César afastou-a com um empurrão e em direcção ao Senado de Roma percorreu o caminho da sua morte.” Rui Vitória podia poupar a tragédia do seu assassinat­o, só não sabemos quem vai ser o primeiro Brutus a apunhalá-lo.

Quando a culpa é de todos, não

é de ninguém. Logo, tem de haver rostos pela derrocada de um projecto que tinha para esta temporada até o autocarro pintado com as letras da ‘Reconquist­a’, um mantra que nem o mais fanático dos benfiquist­as ouse dizer ser fácil de alcançar neste momento. Em primeiro lugar, o presidente. Porque deixa lavrar o erro e permite a sobrevivên­cia de quem pensou despedir, admitindo-o em público, o que só apodreceu os alicerces do treinador. Depois, a estrutura está manca sem Paulo Gonçalves, um dos principais pontas-de-lança das recentes conquistas encarnadas, e sobressaem os erros do mercado de Verão.

Aúnicavita­minacapaz de levantar ânimos é a mesma toma

da em Alvalade. Onde a qualidade de jogo e o discurso eram tão miseráveis como os que se observam hoje na Luz. O que mudou? Um homem. Os jogadores são os mesmos, agora, a comunicaçã­o do técnico, a mentalidad­e, a filosofia, a ideia que subjaz à ‘performanc­e’ da equipa está ao nível da exigência de um clube grande. Atractivo e dominador dentro do campo, respeitado­r e confiável fora dele. Quando escrevo este artigo não sei ainda o resultado do Sporting contra uma SAD vestida de azul, não é isso que está em causa. É a decisão de mudar, de não ser teimoso no erro, de dar uma nova alma e estamina. O Benfica precisa de um Marcel Keizer, qualquer que ele seja. Só Vieira e Vitória demoraram 24 horas a perceber isto..

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