Record (Portugal)

Património do povo

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O começo de Eusébio na Seleção portuguesa (em 8.10.1961) não foi auspicioso: uma derrota pesada contra o Luxemburgo por 4-2. Ainda assim, manteve-se a tradição de Eusébio marcar nas estreias e coube ao selecionad­or Fernando Peyroteo – outro ‘gigante’ do futebol português – apadrinhar novo batismo.

Até que chegou… 1966, o ano em que Madalena Iglésias cantou ‘Ele e Ela’ no Festival da Eurovisão, alcançando o 13º lugar, o número que Eusébio usaria no Mundial! E bem que a música podia ser dedicada a Eusébio e à sua relação com a bola em 1966: “Sei quem ele é, ele é bom rapaz um pouco tímido até… Ela apareceu [a bola] e a beleza dela desde logo o prendeu, gostam um do outro e agora ele diz que alcançou na vida o maior bem, é feliz! (…) ele sem ela não é ninguém”… e, sem ele, Portugal também teria sido muito menos! Particular­mente a 23 de julho, Eusébio foi muito mais! No jogo contra a Coreia do Norte foi divinizado mundialmen­te! Com quatro golos consecutiv­os, o explosivo jogador de origem africana “com dinamite nos pés rebentou o muro coreano”!

A nação ganhava um novo símbolo de portugalid­ade. Um jogador que foi bandeira da lusofonia à qual deu mais brilho e cor! Eusébio já não é (só) do Benfica, de Portugal e de Moçambique: é do Mundo! Já não é ‘deste mundo’, mas mereceu este e merece o ‘outro’! Nos anos 60 havia quem garantisse que o Regime considerav­a Eusébio ‘Património do Estado’, impedindo a sua transferên­cia para o estrangeir­o! Abusiva naquela época, a designação é hoje mais verdadeira do que nunca: Eusébio é património do povo

COM DINAMITE NOS PÉS, EUSÉBIO APONTOU 4 GOLOS E REBENTOU O MURO COREANO

português e da Humanidade! Eusébio deixou de ser dos seus para ser do Povo! Apontament­o final. Uma criança acabara de aprender uma finta nova na escola: fazer um ‘túnel’ (passar a bola por debaixo das pernas do adversário). Chegado a casa do avô, o neto perguntou ex- citado: queres que eu te ensine? O avô disse que sim!

O avô chama-se Eusébio! Esta é uma estória para todos os avós e todos os pais, mas, particular­mente, para todos os netos! Para que um dia também os meus saibam quem foi um deus chamado Eusébio! *

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Capa do ‘le Miroir Sprints’ dava conta do sensaciona­l Portugal - Coreia do Norte, com Eusébio em plano de grande destaque
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O jornal ‘Miroir des Sports’ vaticinava a 27 de julho de 1966 – Eusébio: melhor que Pelé. O português estava no auge

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