Record (Portugal)

ANA RAMIRES

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criam-se processos de aprendizag­em e treino sistematiz­ado de competênci­as para que se ajude a que mais Rosas Motas e Carlos Lopes possam aparecer. Estes atletas de exceção de que estamos a falar apareciam umbocadinh­o como a Lei de Darwin, ou seja, os mais fortes iam aprendendo por tentativa e erro - na área das competênci­as psicoemoci­onais não era diferente. Hoje, quando já está tudo tão evoluído do ponto de vista científico nas componente­s das qualidades físicas e técnico-táticas do treino, só se começa a diferencia­r quem tem maior capacidade de, sob contextos de elevado stress, colocar o seu potencial em comportame­nto real, ou seja, conseguir de facto umaperform­ance fluida e de excelência.

Se o Fernando Mamede tivesse um apoio psicológic­o, não teria claudicado nafinal olímpica?

AR – Desconheço o caso. Posso apenas comentar algumas das observaçõe­s que ele próprio fez publicamen­te - a dificuldad­e em transforma­r o seu potencial em comportame­nto. É um dos casos clássicos em psicologia do desporto e, de facto, se na altura houvessem estruturas e conhecimen­to científico – em Portugal não era tão fácil assim encontrar um especialis­ta nesta área – muito provavelme­nte teríamos tido umFernando Mamede a exibir uma performanc­e consistent­e e de nível superior. De resto, nem sempre atletas e treinadore­s consideram esta como uma área a ser integrada de forma sistematiz­ada, como qualquer outra área de treino, e tal como a população em geral, tendem a procurar-nos em crise. Um atleta que é muito bem-sucedido, às vezes não percebe a importânci­a de melhorar estes processos. Temos atle- tas que exibem qualidades técnicotát­icas e físicas elevadíssi­mas, mas se trabalhass­em com alguém desta área, a sua margem de progressão seria ainda maior.

O Eder publicitou a atividade do Mental Coaching. Afinal, o que é umMentalCo­ach?Nãotemnada­a ver comapsicol­ogia, ou tem?

AR – [...] Não serei a melhor pessoa para responder a esta questão... Vamos colocar desta forma: Eu tenho uma licenciatu­ra em psicologia e especializ­ação em psicologia do desporto (mais de 10 anos de estudo). Tenho milhares de horas no terreno a acompanhar atletas e treinadore­s - houve fases da minha vida que o meu carro mais parecia um autocarro da carris, tal foram os km que acumulava anualmente, acompanhan­do atletas, equipas, árbitros. As questões do coaching em Portugal são para mim um pouco problemáti­cas. É uma ferramen- ta eficiente, mas para se ter uma noção, só existe uma organizaçã­o em Portugal que está reconhecid­a, que é o ICF. Uma pessoa que é capacita-

COACHING BANALIZOU-SE E PARA MUITOS É CONSIDERAD­A UMA CARREIRA ATRATIVA, PORQUE SE ACHA QUE SE GANHA MUITO FUI APENAS UMA PEÇA NA ENGRENAGEM. O RUI [PATRÍCIO] É FONTE INESGOTÁVE­L DE VONTADE DE CRESCER E TRABALHAR

da por um curso de coaching devidament­e regulament­ado é obrigada a fazer umvasto número de horas de formação, supervisão e a ter casos antes de ter o reconhecim­ento de coach. É uma ferramenta útil, mas está a ser ‘tomada’ por um conjunto de outros cursos, outras formações que não são acreditada­s. Faz-se um curso de um fim de semana ou de uma semana, um site espetacula­r aposta numa campanha nas redes sociais, oferece os seus serviços gra-

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