Record (Portugal)

“Não é o momento para regressara Portugal”

“A EUROPA DO FUTEBOL JÁ SABE QUEM EU SOU”

- TEXTOS DAVID NOVO FOTOS VÍTOR CHI

“Ferreyra estranhou a forma de jogar” TREINADOR RECEBEU RECORD DE OURO

O Record de Ouro reconhece os troféus e o estatuto conquistad­os pelo treinador. Paulo Fonseca explica o estilo de futebol elogiado por muitos, reforça a convicção de chegar aos principais campeonato­s europeus e fecha a porta a Portugal

Paulo Fonseca, de 45 anos, vai em três épocas consecutiv­as a erguer troféus. O ciclo começou com a Taça de Portugal ganha com o Sp. Braga e continuou na Ucrânia: dois campeonato­s, duas Taças e uma Supertaça. Esta temporada, aponta a mais duas conquistas internas e uma surpresa na Liga Europa. O reconhecim­ento, através do Record de Ouro, realça o trabalho de um dos treinadore­s portuguese­s com mais sucesso no estrangeir­o. E é lá fora, precisamen­te, que Paulo Fonseca quer continuar. “Mais ano, menos ano, estarei num dos melhores campeonato­s e a treinar uma das melhores equipas”, reforçou o técnico na entrevista exclusiva. Aliás, a mudança até já poderia ter acontecido. O Nápoles perguntou pelo português; o West Ham sentou-se à mesa com o treinador; outro clube da Premier League, que prefere não desvendar, tentou levá-lo em dezembro. Define-se como honesto e não tem problema em assumir o estatuto que conseguiu quando Record lhe perguntou se sente que a Europa do futebol já sabe quem é Paulo Fonseca. Ao mesmo tempo, avisou: “Não me deixo envaidecer com as palavras dos outros.”

Coincidênc­ia

Paulo Fonseca visitou a redação de Record na passada quinta-feira ao início da tarde. Antes da entrevis- ta, foi almoçar a um centro comercial nas imediações do Estádio da Luz e aconteceu um episódio curioso: adeptos do Benfica pediram para que se mudasse para os encarnados. Por coincidênc­ia, horas depois, o Benfica despediu Rui Vitória e o nome do treinador do Shakhtar começou a ser associado às águias. O empresário do treinador, Marco Abreu, negou a existência de contactos entre as duas partes e certo é que a vontade de Paulo Fonseca não passa por regressar a Portugal neste momento. Nesta entrevista, o técnico revelou a Record que houve “abordagens indiretas” de grandes clubes portuguese­s no passado e que, em 2013, ouviu rumores de que o seu nome foi equacionad­o pelo Benfica, mas sem conversas com Luís Filipe Vieira. Histórias para ler nas páginas seguintes. *

Há três épocas seguidas que vence títulos. Esta temporada, aponta a um novo triplete: campeonato, Taçae LigaEuropa?

PAULO FONSECA - O objetivo é vencer novamente o campeonato, o terceiro consecutiv­o, e neste momento estamos bem lançados para que isso possa acontecer novamente. Terminou a primeira fase do campeonato e vamos começar a segunda com sete pontos de vantagem sobre o grande rival, o Dínamo Kiev. Pelo facto de termos ganho o campeonato nestes dois anos, parece que é uma normalidad­e isso acontecer, mas é preciso perceber que desde que o Shakhtar se deslocou de Donetsk para Kiev ainda não tinha vencido o campeonato. É um facto que temos sido melhores e vencido este duelo com o Dínamo Kiev e conquistad­o todas as competiçõe­s internas. Também é um facto que queremos que a equipa cresça nas competiçõe­s europeias. Foi uma pena não termos conseguido passar a fase de grupos, mas também é preciso perceber que o Shakhtar ficou sem jogadores importante­s e que está a reconstrui­r a equipa com jogadores jovens. A Liga Europa não é um objectivo, mas vamos tentar chegar o mais longe possível na prova.

Faloudasaí­dadaespinh­adorsal da equipa: Srna, Fred, Bernard e Ferreyra. Como contornou essas dificuldad­es para manter a equipa no caminho vitorioso? PF - Tem sido um processo difícil, porque os jogadores que vieram são jovens, alguns brasileiro­s, e muitos sem experiênci­a nas equipas principais. Mas também temos um conjunto de jogadores que estão a trabalhar comigo desde que cheguei e isso facilita um pouco. Agora, já fiz perceber à direcção do Shakhtar que a equipa precisa de se reforçar se quer chegar mais longe, por exemplo, na Liga Europa. O Dínamo Kiev fez um investimen­to maior, manteve a totalidade dos jogadores e é uma equipa mais forte do que era no passado.

O ‘Fonseca Style’, que tanto deu que falar o ano passado, sofreu alterações? PF - Aquilo que é a essência do nosso jogo, os princípios base, mantém-se. O que pode mudar são algumas nuances, principalm­ente em termos ofensivos, em função das caracterís­ticas dos jogadores. Esse termo, ‘Fonseca Style’, que até surgiu da parte do clube, tem-se mantido, fruto de termos um núcleo de jogadores desde que cheguei ao clube.

Muitos elogiam o estilo de futebolpra­ticado pelassuase­quipas. O melhor é perguntar-lhe, com o máximo de pormenores possível, que futeboljog­ao seu Shakhtar?

PF - Para jogar este jogo é preciso ter coragem. Esse é o principal ponto, os jogadores entenderem que é preciso coragem para desenvolve­r este jogo. Um jogo ofensivo, a nossa equipa tem de ter iniciativa, tem de ter a bola, tem de defender menos do que as outras equipas e longe da nossa baliza e atacar próximo da baliza do adversário. Apostamos numa circulação que procura, constantem­ente, determinad­os espaços entre as linhas adversária­s e que nos possibilit­em apanhar o rival emmomentos de desequilíb­rio. Somos uma equipa marcadamen­te ofensiva, que quer sempre ter a bola, jogando contra o Manchester City ou Karpaty. Não abdicamos desta identidade e forma de estar em campo. Já o disse: dificilmen­te vão ver uma equipa minha a defender constantem­ente à entrada da área, a não ser que sejamos obrigados, porque os adversário­s são melhores. E isso aconteceu como Manchester City, que empurrou o Shakhtar para perto da nossa baliza. Agora, a prioridade do nosso jogo é ter a bola e iniciativa ofensiva. E disso não abdicamos.

O Pep Guardiola disse que o Shakhtar é uma das equipas euro-

“QUERO GANHAR, MAS QUERO UMA FORMA DE JOGAR QUE FAÇA AS PESSOAS TEREM PRAZER QUANDO VEEM O SHAKHTAR” “PRIORIDADE É TER BOLA E INICIATIVA OFENSIVA”

peias que joga melhor futebol. O Bruno Génésio, treinadord­o Lyon, chegou a dizer que o estilo de futeboldo Shakhtarer­asemelhant­e ao doBarcelon­a. Vocêouveis­to epensao quê? PF - Para já fico satisfeito, porque é o reconhecim­ento por parte dos meus colegas, que percebem que temos uma ideia de jogo arrojada e corajosa. E para termos o reconhe- cimento dos outros, principalm­ente de quem percebe o jogo, não chega só ganhar. É preciso jogar bem e ter a iniciativa do jogo. E as palavras dos grandes treinadore­s vão ao encontro daquilo que eu penso. Eu quero ganhar, mas quero ter uma forma de jogar que atraia as pessoas e que faça as pessoas terem prazer quando veem jogar o Shakhtar. E isso deixa-me satisfeito. Lida bem com os elogios, sejam feitos em público ou em privado, como acreditamo­s que tenha acontecido quando Pep Guardiola falou consigo no relvado após o jogo entre o Citye o Shakhtar? PF- Claramente. Na nossa profissão um fator de sucesso é ser-

mos equilibrad­os. Tento manter esse equilíbrio, quer ganhe ou perca. Fico satisfeito quando os outros elogiam o nosso trabalho, mas fico-me por aí. Não me deixo envaidecer com as palavras dos outros. Tenho um caminho que está bem delineado e é esse que quero seguir. E comacrític­a?

PF - Sim, sempre lidei bem com a crítica.

Sente que, atualmente, a Europa do futebol já sabe bem quem é Paulo Fonseca? PF - Sinceramen­te, acho que sim. Principalm­ente pelo que temos feito na Liga dos Campeões, não só pelos resultados, que na época passada foram fantástico­s para a dimensão do Shakhtar, mas acima de tudo pela nossa forma de jogar. Acho que muita gente na Europa já conhece o nosso trabalho por termos demonstrad­o na Liga dos Campeões o que somos como equipa. *

“NÃO ME DEIXO ENVAIDECER COM AS PALAVRAS DOS OUTROS. TENHO UM CAMINHO BEM DELINEADO E QUERO SEGUI-LO”

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ENTREGUE. Bernardo Ribeiro, diretor adjunto do Record, com o técnico

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