Record (Portugal)

“Mourinho quis levar-me para o Sporting”

O ano de 2019 traz um novo desafio para José Morais: o Jeonbuk, o campeão da Coreia do Sul. Mais uma etapa, depois de Espanha, Itália e Inglaterra como adjunto; Arábia Saudita, Iémen, Ucrânia e muitos outros como técnico principal. E também houve tempo pa

- TEXTOS DAVID NOVO FOTOS PEDRO SIMÕES

Mais um país para somar ao currículo: Coreia do Sul. Como é que surgiu esta oportunida­de? JOSÉ MORAIS - A ideia era fazer os dois anos de contrato com o Karpaty, da Ucrânia. Mas o projeto requeria muita organizaçã­o e qualidade nos recursos humanos, assim como recursos financeiro­s que neste momento não existem. Surgiu o convite para ir para o Jeonbuk, um clube relativame­nte jovem e com maior sucesso na Coreia do Sul e até um exemplo em toda a Ásia. Ganhou a Champions asiática duas vezes e foi três vezes campeão nacional nos últimos anos. É um clube com recursos, patrocinad­o pela Hyundai. Como projeto individual, coaduna-se mais com o que quero para mim como treinador.

Quando ouviu Coreia do Sul, qual foi a reação imediata?

JM - Pensei no Mundial’2002 que organizara­m e o entusiasmo que têm pelo jogo. Também a qualidade de alguns jogadores sul-coreanos. Pensei: ‘É um tipo de jogador com qualidade, tecnicamen­te com recursos interessan­tes e com inteligênc­ia de raciocínio tático’. É um país de que ouvia falar e cujos ní- veis de organizaçã­o são elevados, assim como de qualidade de vida. Deixou-me curioso e interessad­o... E depois pensei: “Porque não?” Falou com Paulo Bento, o selecionad­or da Coreia do Sul, antes de aceitar este projeto? JM - Apenas indiretame­nte, através do Dimas, que é amigo do Paulo Bento. Eu não tive essa oportunida­de, mas espero vir a tê-la no futuro. Tive uma conversa com o Humberto Coelho. Pedi-lhe algumas informaçõe­s e fomos almoçar para conversar sobre os momentos que ele viveu como selecionad­or da Coreia do Sul. Satisfiz um pouco da curiosidad­e que tinha em perceber os aspetos culturais que podem influencia­r o meu tipo de liderança e a minha forma de comunicar. Esse sorriso que esboçou enquanto dava a resposta é sinal de que gostou do que lhe disse Humberto Coelho sobre o país?

JM - O sorriso é um misto de coisas. Tem a ver com a recordação de que estive sentado à mesa com um amigo, que não via há algum tempo. E foram momentos bons de partilha. E quando se recorda um amigo, é normal sorrirmos. E eu gosto muito do Humberto Coelho. Trata-se de uma referência enquanto pessoa e uma personalid­ade desportiva de exceção. Já esteve na Coreia do Sul. Quais foram as primeiras impressões, tanto da cidade como do clube?

JM - Da cidade ainda não tenho muitas referência­s. É uma cidade pequena, Jeonju, com cerca de 600 mil habitantes, pelo que me disseram. Do que vi, é uma cidade organizada e limpa, com boas infraes- truturas. Eu tive a felicidade de estar em clubes como o Benfica, Chelsea, Real Madrid, Inter Milão e diria que o Jeonbuk está entre o Benfica e o Chelsea, embora sem a mesma massa associativ­a. Em termos de presença de adeptos, é um clube semelhante ao V. Guimarães, falando de afluência ao estádio. Quanto às instalaçõe­s, foi uma surpresa agradável. Fez-me sentir que é um clube organizado e profission­alizado. O centro de treinos fez-me lembrar o do Chelsea, numa dimensão mais pequena. Mas um centro de treinos moderno, com uma zona de dormitório com boa qualidade e uma sala de refeições. Por curiosidad­e, já me perguntara­m quais eram os requisitos do staff técnico a nível de comida, o que gostamos mais, para eles se prepararem. Nada a ver com os jogadores, só para os treinadore­s. Senti-me muito bem-vindo e acarinhado. As instalaçõe­s são fantástica­s: sala de reuniões, sala de videoanáli­se, uma enorme sala médica e fisioterap­ia com meios de recuperaçã­o: águas quentes e frias, entre outras áreas.

Finalmente conseguiu o que queria: entrar num projeto no início e poder escolher os jogadores. Deixa-o ainda mais entusiasma­do?

JM - Esse entusiasmo é poder construir a equipa, mas também o facto de introduzir as linhas de orientação logo desde o início. E ter tempo, algo de que todos os treinadore­s gostam, ou seja, há tempo para introduzir conceitos junto dos jogadores, desenvolve­r o jogo até ao momento em que se entra em competição. O campeonato permite um contingent­e de três estrangeir­os mais um asiático que pode não ser originário da Coreia do Sul. Eu chego ao clube no momento em que esses lugares já estão definidos e com contratos válidos por mais dois anos. Não se pode trocar jogadores só por capricho, porque o clube, uma vez que é gerido como uma empresa, analisa a oportunida­de de negócio e o balanço em ter-

“É UM PAÍS COM NÍVEIS DE ORGANIZAÇíO ELEVADOS, ASSIM COMO QUALIDADE DE VIDA. FIQUEI CURIOSO E INTERESSAD­O”

mos de equilíbrio financeiro.

Ou seja, há dinheiro, mas o investimen­to é calculado ao pormenor...

JM - Exato. Avaliam se há uma necessidad­e extrema de contratar. No caso do jogador estrangeir­o, tem a ver com a duração do contrato e a possibilid­ade de poder sair sem que o clube tenha de pagar indemnizaç­ões exageradas. Isto porque estamos a falar de jogadores com ordenados elevados, ao nível do que ganham, por exemplo, jogadores que estão no Benfica, Sporting e FC Porto. *

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