“Convite do Chelsea não se recusa”
EDUARDO
O Vitesse deu-lhe o que todos os jogadores procuram: minutos. Era o que mais queria, certo? É titular indiscutível e já foi eleito quatro vezes para a equipa da semana do campeonato... EDUARDO – Depois de dois anos sem jogar, embora num grande clube como o Chelsea, sente-se sempre a falta de competição. O Chelsea e o Vitesse têm uma boa relação, propuseram-me esta situação e foi o mais benéfico. + Confirma que o Vitesse quer contratá-lo em definitivo?
E – Sim, já houve conversas. Mas vamos ver, até porque o Chelsea tem uma cláusula que lhe permite estender o contrato por mais uma época. Portanto, é preciso ver se o Chelsea aciona essa opção. Mas o que mais me satisfaz é saber que as pessoas do Vitesse estão satisfeitas com o meu trabalho e que querem que continue.
+ Defendeu equipas que, normalmente, dominavam o jogo: Benfica, Sp. Braga, Dínamo Zagreb, entre outros. Agora no Vitesse mudou muito a sua forma de jogar? E – O objetivo do Vitesse é alcançar os lugares de apuramento para a Liga Europa. Acima de tudo, a diferença que senti é que o futebol holandês é mais ofensivo, logo há mais trabalho para o guarda-redes. Nós, portugueses, temos mais a cultura de segurar o resultado; os holandeses podem estar a ganhar 1-0 ao minuto 90 e procuram o segundo golo.
+ Quando jogava no Dínamo Zagreb devia ser um espectador em muitos jogos… E – Sim. No Vitesse isso é impossível. Contra qualquer equipa temos muitas ações no jogo e muitas vezes devido a esse caudal ofensivo que as equipas têm. Por isso é que é um campeonato com muitos golos. A média de idades ronda os 22/23 anos e, se calhar, a explicação também é essa, porque o jogador mais experiente faz outra gestão do jogo, enquanto os mais jovens gostam de atacar, correr, lutar pela bola…
+ Por falar em idade, os guardaredes têm uma longevidade maior no futebol. Mas que trabalho faz para se manter em forma neste grau de exigência? E – Antigamente recuperava melhor. Agora, exige uma preparação antes do treino, a forma como se treina e o pós-treino. Descanso, alimentação… Não acredito, e não conheço, jogadores que atinjam uma longevidade sem terem sido grandes profissionais. Eu, com 36 anos, sinto-me bem porque faço muitos sacrifícios. Nunca tive uma lesão impeditiva, parti um dedo no ano passado e continuo a treinar-me e a jogar. E depois a mentalidade de querer jogar. Foi isso que me fez diferente em toda a carreira. E acho que é isso que me vai fazer continuar a jogar mais um, dois anos, os que forem.
Ou seja, há muito trabalho que os adeptos não veem? E –Sim, até porque quanto mais velhos somos, mais as pessoas exigem de nós. Se não estivermos a um nível elevado, vamos ser substituídos por um jogador mais jovem. Os erros acontecem sempre, mas espera-se mais de um guarda-redes experiente do que de um jovem de 20 anos. Por exemplo, antes a elasticidade era algo mais natural, agora tem de ser trabalhada. É preciso ir ao ginásio mais vezes. Como fui quase sempre em toda a minha carreira, sou o primeiro a chegar e o último a sair. Faço 40 minutos de alongamentos e exercícios antes do treino e depois faço recuperação.
+ Estabeleceu uma data para parar de jogar ou vai depender da sua condição física?
“SINTO-ME BEM PORQUE FAÇO MUITOS SACRIFÍCIOS. PARTI UM DEDO NO ANO PASSADO E CONTINUO A TREINAR E A JOGAR”
“A MARGEM DE ERRO DO GUARDAREDES É ZERO. TEMOS DE TER CAPACIDADE DE REAÇÃO, EXPLOSÃO, FORÇA, TUDO NUM MOVIMENTO SÓ” “AINDA HOJE, COM ESTA IDADE, SOU MUITO AUTOCRÍTICO. REVEJO TODOS OS MEUS JOGOS” “AS PESSOAS GOZAM COM OS GUARDA-REDES E OS COLEGAS CRITICAM. E ALGUNS DESISTEM PORQUE SOFREM MUITO”
E – Tenho uma ideia, mas da forma como sou e me conheço, será no dia em que não conseguir dar 100%. Não me vou arrastar, até por respeito a mim próprio e à carreira que construí. E quando acabar, será com muito orgulho na carreira que tive. Costumo dizer que tive muito mais do que aquilo que sonhei, mas também sei os sacrifícios que fiz para ter
o que tive. Não atingi um patamar brilhante, mas atingi um patamar brilhante nos parâmetros que fui definindo para a minha carreira. + E, no futuro, quer ser treinador de guarda-redes?
E – Sim. Acho que, hoje em dia, tem-se perdido o espírito da minha geração. Tenho a minha forma de trabalhar, posso ser exagerado por vezes, mas gostava de continuar ligado à minha área. Se surgir a oportunidade de trabalhar numa equipa principal, muito bem, mas gostava de trabalhar num projeto de formação. É algo que me apaixona. Às vezes, fico no Vitesse a ver os miúdos a treinarem-se. Tenho uma paixão enorme pela baliza e quero, um dia, poder ajudar, transmitindo tudo o que aprendi na carreira. + Trabalha-se bem no treino de guarda-redes em Portugal?
E – Já se trabalha melhor, mas falta alguns antigos guarda-redes, e exemplos da baliza portuguesa, irem para a formação e ensinarem os jovens. Continua a haver um grande défice na formação dos guarda-redes portugueses. Há bons treinadores nas equipas principais, mas os escalões mais jovens, por vezes, ainda estão entregues à boa vontade de algumas pessoas – que fazem o seu melhor, obviamente. É uma posição difícil, até pelas críticas, o que leva alguns miúdos a desistirem. As pessoas gozam com os guarda-redes, os colegas criticam, todos julgam. E alguns desistem porque sofrem muito. Porque um guarda-redes sofre muito quando erra. A margem de erro do guardaredes é zero. Temos de decidir imensas coisas num segundo: bolas complicadas, bolas molhadas, temos de ter capacidade de reação, explosão, força, tudo num movimento só. As trajetórias das bolas… Os adeptos não sabem. Hoje vejo os jogos, vejo erros e compreendo. Mas temos uma avaliação diferente dos comentadores, por exemplo.
+ Você sofreu muito quando era mais novo? Agora acreditamos que já não tanto… E –Sim, sofri. Mas ainda hoje, com 36 anos, sou muito autocrítico. Acho que sou o maior (risos). Não tenho problema em assumir os meus erros. Revejo todos os meus jogos, dois dias depois. Sempre o fiz. É para o meu bem. O treinador dizme: ‘Devias ter feito assim’. E eu respondo: ‘Fiz assim porque pensei desta forma’. Debatemos ideias e isso faz um jogador evoluir. Saber por que fez bem e por que fez mal. É uma parte importante do treino. *