Record (Portugal)

“Convite do Chelsea não se recusa”

EDUARDO

- DAVID NOVO

O Vitesse deu-lhe o que todos os jogadores procuram: minutos. Era o que mais queria, certo? É titular indiscutív­el e já foi eleito quatro vezes para a equipa da semana do campeonato... EDUARDO – Depois de dois anos sem jogar, embora num grande clube como o Chelsea, sente-se sempre a falta de competição. O Chelsea e o Vitesse têm uma boa relação, propuseram-me esta situação e foi o mais benéfico. + Confirma que o Vitesse quer contratá-lo em definitivo?

E – Sim, já houve conversas. Mas vamos ver, até porque o Chelsea tem uma cláusula que lhe permite estender o contrato por mais uma época. Portanto, é preciso ver se o Chelsea aciona essa opção. Mas o que mais me satisfaz é saber que as pessoas do Vitesse estão satisfeita­s com o meu trabalho e que querem que continue.

+ Defendeu equipas que, normalment­e, dominavam o jogo: Benfica, Sp. Braga, Dínamo Zagreb, entre outros. Agora no Vitesse mudou muito a sua forma de jogar? E – O objetivo do Vitesse é alcançar os lugares de apuramento para a Liga Europa. Acima de tudo, a diferença que senti é que o futebol holandês é mais ofensivo, logo há mais trabalho para o guarda-redes. Nós, portuguese­s, temos mais a cultura de segurar o resultado; os holandeses podem estar a ganhar 1-0 ao minuto 90 e procuram o segundo golo.

+ Quando jogava no Dínamo Zagreb devia ser um espectador em muitos jogos… E – Sim. No Vitesse isso é impossível. Contra qualquer equipa temos muitas ações no jogo e muitas vezes devido a esse caudal ofensivo que as equipas têm. Por isso é que é um campeonato com muitos golos. A média de idades ronda os 22/23 anos e, se calhar, a explicação também é essa, porque o jogador mais experiente faz outra gestão do jogo, enquanto os mais jovens gostam de atacar, correr, lutar pela bola…

+ Por falar em idade, os guardarede­s têm uma longevidad­e maior no futebol. Mas que trabalho faz para se manter em forma neste grau de exigência? E – Antigament­e recuperava melhor. Agora, exige uma preparação antes do treino, a forma como se treina e o pós-treino. Descanso, alimentaçã­o… Não acredito, e não conheço, jogadores que atinjam uma longevidad­e sem terem sido grandes profission­ais. Eu, com 36 anos, sinto-me bem porque faço muitos sacrifício­s. Nunca tive uma lesão impeditiva, parti um dedo no ano passado e continuo a treinar-me e a jogar. E depois a mentalidad­e de querer jogar. Foi isso que me fez diferente em toda a carreira. E acho que é isso que me vai fazer continuar a jogar mais um, dois anos, os que forem.

Ou seja, há muito trabalho que os adeptos não veem? E –Sim, até porque quanto mais velhos somos, mais as pessoas exigem de nós. Se não estivermos a um nível elevado, vamos ser substituíd­os por um jogador mais jovem. Os erros acontecem sempre, mas espera-se mais de um guarda-redes experiente do que de um jovem de 20 anos. Por exemplo, antes a elasticida­de era algo mais natural, agora tem de ser trabalhada. É preciso ir ao ginásio mais vezes. Como fui quase sempre em toda a minha carreira, sou o primeiro a chegar e o último a sair. Faço 40 minutos de alongament­os e exercícios antes do treino e depois faço recuperaçã­o.

+ Estabelece­u uma data para parar de jogar ou vai depender da sua condição física?

“SINTO-ME BEM PORQUE FAÇO MUITOS SACRIFÍCIO­S. PARTI UM DEDO NO ANO PASSADO E CONTINUO A TREINAR E A JOGAR”

“A MARGEM DE ERRO DO GUARDAREDE­S É ZERO. TEMOS DE TER CAPACIDADE DE REAÇÃO, EXPLOSÃO, FORÇA, TUDO NUM MOVIMENTO SÓ” “AINDA HOJE, COM ESTA IDADE, SOU MUITO AUTOCRÍTIC­O. REVEJO TODOS OS MEUS JOGOS” “AS PESSOAS GOZAM COM OS GUARDA-REDES E OS COLEGAS CRITICAM. E ALGUNS DESISTEM PORQUE SOFREM MUITO”

E – Tenho uma ideia, mas da forma como sou e me conheço, será no dia em que não conseguir dar 100%. Não me vou arrastar, até por respeito a mim próprio e à carreira que construí. E quando acabar, será com muito orgulho na carreira que tive. Costumo dizer que tive muito mais do que aquilo que sonhei, mas também sei os sacrifício­s que fiz para ter

o que tive. Não atingi um patamar brilhante, mas atingi um patamar brilhante nos parâmetros que fui definindo para a minha carreira. + E, no futuro, quer ser treinador de guarda-redes?

E – Sim. Acho que, hoje em dia, tem-se perdido o espírito da minha geração. Tenho a minha forma de trabalhar, posso ser exagerado por vezes, mas gostava de continuar ligado à minha área. Se surgir a oportunida­de de trabalhar numa equipa principal, muito bem, mas gostava de trabalhar num projeto de formação. É algo que me apaixona. Às vezes, fico no Vitesse a ver os miúdos a treinarem-se. Tenho uma paixão enorme pela baliza e quero, um dia, poder ajudar, transmitin­do tudo o que aprendi na carreira. + Trabalha-se bem no treino de guarda-redes em Portugal?

E – Já se trabalha melhor, mas falta alguns antigos guarda-redes, e exemplos da baliza portuguesa, irem para a formação e ensinarem os jovens. Continua a haver um grande défice na formação dos guarda-redes portuguese­s. Há bons treinadore­s nas equipas principais, mas os escalões mais jovens, por vezes, ainda estão entregues à boa vontade de algumas pessoas – que fazem o seu melhor, obviamente. É uma posição difícil, até pelas críticas, o que leva alguns miúdos a desistirem. As pessoas gozam com os guarda-redes, os colegas criticam, todos julgam. E alguns desistem porque sofrem muito. Porque um guarda-redes sofre muito quando erra. A margem de erro do guardarede­s é zero. Temos de decidir imensas coisas num segundo: bolas complicada­s, bolas molhadas, temos de ter capacidade de reação, explosão, força, tudo num movimento só. As trajetória­s das bolas… Os adeptos não sabem. Hoje vejo os jogos, vejo erros e compreendo. Mas temos uma avaliação diferente dos comentador­es, por exemplo.

+ Você sofreu muito quando era mais novo? Agora acreditamo­s que já não tanto… E –Sim, sofri. Mas ainda hoje, com 36 anos, sou muito autocrític­o. Acho que sou o maior (risos). Não tenho problema em assumir os meus erros. Revejo todos os meus jogos, dois dias depois. Sempre o fiz. É para o meu bem. O treinador dizme: ‘Devias ter feito assim’. E eu respondo: ‘Fiz assim porque pensei desta forma’. Debatemos ideias e isso faz um jogador evoluir. Saber por que fez bem e por que fez mal. É uma parte importante do treino. *

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