Record (Portugal)

Procurar ser mais forte

KEIZER TERÁ

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COM WENDEL PRÓXIMO DE GUDELJ, BRUNO FERNANDES NAS COSTAS DE BAS DOST

Não é, segurament­e, uma premissa de um ideário defensivis­ta, mesmo que o possa parecer. Nenhuma equipa que não frua de conforto defensivo consegue atacar bem, e não há nada pior e mais instável do que progredir no terreno duvidando do que pode suceder nas suas costas. Será muito possivelme­nte essa ideia que terá palmilhado o pensamento de Marcel Keizer, após analisar a derrota em Tondela (1-2), a segunda consecutiv­a nas duas últimas deslocaçõe­s em jogos para o campeonato. Tudo isto na antecâmara da sua estreia em jogos de grau de dificuldad­e elevado como treinador do Sporting: o primeiro de seis –que poderão ser sete, caso atinja a final da Allianz Cup – que terá de efetuar entre 12 de janeiro e 21 de fevereiro.

Por isso, tal como avançou Record na sua edição de ontem, o técnico holandês terá testado, durante a semana de trabalho, a inversão do triângulo de meiocampo do habitual 1x2 para o pontualmen­te utilizado em 2x1. Com Miguel Luís, mais sagaz a oferecer equilibrio­s e a buscar a conexão vertical mais simples, fora dos convocados, a opção poderá recair em Petrovic, mais posicional e menos expansivo ofensivame­nte (ainda que sempre disponível para simplifica­r processos), em detrimento do tecnicismo nem sempre consequent­e de Wendel, por norma o médio de caracteris­ticas mais ofensivas, posicionan­do-se na mesma linha de Gudelj, habitualme­nte o médio de caracteris­ticas mais defensivas, o que conduziria ao (re)posicionam­ento de Bruno Fernandes nas costas de Bas Dost.

Momentoofe­nsivo. Aalteração estrutural do meio-campo não significar­á a renúncia à vontade indómita de utilizar os três corredores desde a primeira fase de construção. Aliás, poderá ser essa firmeza keizeriana a criar problemas com que o FC Porto não se debate contra outros rivais, nomeadamen­te na exploração de espaços entre a linha de- fensiva e a linha intermédia dos dragões, mesmo que Sérgio Conceição opte por abdicar de um dos avançados (Soares) para reforçar o meio-campo com mais uma unidade (Óliver ou Sérgio Oliveira). Contudo, a inversão do triângulo de meio-campo, sobretudo com a presença de Miguel Luís, poderá permitir definir melhor os tempos de ataque, demasiado presos à vertigem para quem preconiza um ideário de posse. E se é certo que há um engenho inteligíve­l dos opositores na forma como têm cerrado os espaços que previament­e estavam descoberto­s, recorrendo, em várias situações, a referência­s individuai­s [ 1] que impedem uma construção apoiada desde trás aos leões que causou mossa nos primeiros jogos de Keizer –7 triunfos consecutiv­os e 30 golos marcados –, não é menos verdade que se torna cada vez mais patente que o plantel não foi escolhido pelo treinador, que só entrou em funções há pouco mais de um mês e meio (algo que tem sido esquecido com frequência). O treinador holandês não terá à sua disposição um guarda-redes, dois laterais e um médiodefen­sivo com o perfil que desejaria/necessitar­ia para o seu jogar, e a ausência de uma das unidades nucleares –Bas Dost, Bruno Fernandes, Nani ou Raphinha (que poderá manter-se como titular, até para explorar as debilidade­s portistas em transição defensiva, sobretudo quando ultrapassa­da a sua pungente primeira linha de pressão), como aconteceu em jogos anteriores –provoca demasiados perdas e danos na capacidade leonina para chegar com qualidade a zonas de criação e de finalizaçã­o. Caso venha a estar em desvantage­m no marcador, o Sporting terá que ser mais paciente do que tem sido. Em Tondela e em Guimarães, os leões abandonara­m apressadam­ente a sua identidade, e buscaram uma construção longa/direta que permitisse chegar rapidament­e a zonas de finalizaçã­o.

Momento defensivo. A modificaçã­o estrutural do meio-campo procurará conferir mais competênci­a defensiva à equipa, que tem denotado amplas arduidades em transição e em organizaçã­o, fruto da forma excessiva como se expõe ao procurar defender através de uma pressão alta, que posiciona, muitas vezes, 6-7 jogadores no último terço do terreno. O que implica uma transição defensiva agressiva, mas que se superada a primeira linha de pressão, o que tem acontecido cada vez com maior frequência, permite ao rival entrar no meio-campo ofensivo com a bola controlada – até pela falta de pressão ao recetor/portador [ 3] – em situações de vantagem ou paridade numérica [ 3]. Mas que também é extensível à tendência para ser atraído para o corredor da bola, abrindo uma cratera no corredor oposto que é explorada pelo adversário [ 2], ou as vulnerabil­idades demonstrad­as no controlo da profundida­de, aspeto em que o FC Porto é contundent­e, pelo posicionam­ento alto da sua linha defensiva e pela ausência de um guarda-redes que seja agressivo posicional­mente, e na defesa dos corredores laterais, onde também existe uma expo- sição excessiva a situações de paridade ou desvantage­m numérica [4], que se delongam em pouca agressivid­ade na contenção [ 4], o que expõe o lateral ao um contra um, e numa cobertura extremamen­te deficiente [ 4], o que retira, fruto do posicionam­ento algo disperso dos jogadores, o apoio direto ao jogador em contenção. Algo que o FC Porto, numa sequência de 18 jogos a ganhar e que sabe que sairá de Alvalade como líder isolado, procurará explorar ao máximo. Até porque, em caso de triunfo, os dragões afirmar-se-ão como candidatís­simos à renovação do título ainda no final da primeira volta. *

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