A reconquista de Bruno Lage
SE VIEIRA NÃO TIVESSE VISTO A TAL LUZ E O ESCOLHESSE MAIS CEDO COMO SERIA AGORA? O BENFICA DE VITÓRIA ERA UM PATINHO FEIO QUE PASSOU A BELO CISNE COM LAGE
Ainda me lembro de Bruno Lage ter sido preparado pela comunicação do Benfica na arena mediática como opção à saída de Rui Vitória, naquela noite antes de Luís Filipe Vieira ter visto um brilho qualquer. Agora, é tempo de os benfiquistas perceberem que essa visão iluminada do seu presidente não é nada de especial, pois, afinal, foi essa luzinha que segurou o ribatejano mais tempo do que a massa adepta desejava.
Também me recordo de uma entrevista de Vieira onde anunciou, fragilizando ainda mais a imagem e a percepção das bancadas sobre Rui Vitória, que tinha plano A, B, C, D no caso da sua saída. Surgiu todo o ramalhete de nomes possíveis e imaginários como candidatos ao lugar, porém, dois sobressaíram: Jorge Jesus e José Mourinho (que grande entrevista deu ao Porto Canal, diga-se). O primeiro era claramente a escolha de Vieira. Só que, acossado por diversos problemas judiciais e com uma pressão adversa da maior parte dos benfiquistas com a qual não contava, teve de pôr a viola no saco quanto à opção que já estava tomada na sua cabeça. Logo seguindo para um namoro à vista de todos ao Special One que recusou o pretendente, pois objectivamente quer continuar a comandar potentados e ganhar troféus internacionais.
Assim, contentou-se com o plano L, de Bruno Lage. Antes da saída de Rui Vitória aqui nesta coluna escrevi que o Benfica “precisava de um Keizer, qualquer que ele fosse”. Queria com isto dizer que as águias precisavam de uma sapatada, de uma nova injecção de adrenalina que motivasse os encarnados que estavam completamente abúlicos e fartos da qualidade de jogo e das opções do ex-técnico, um pouco como se passava no Sporting aquando da curta passagem de José Peseiro. Mas há algo que tenho de dizer: se Marcel Keizer entrou de maneira arrasadora e surpreendendo todos aqueles que o desconheciam e ao seu currículo obscuro, Lage não se fez rogado e tem exibido dentro e fora de campo competência e sagaci- dade que têm encantado a maioria dos observadores, mesmo os mais modestos como eu.
Contudo, não há mais nenhum paralelismo. Se Keizer teve uma entrada de leão, mesmo com a conquista da Taça da Liga no bolso, ainda não seduziu a maioria da tribuna verde e branca e muitas são as dúvidas que recaem sobre a sua capacidade de voltar a demonstrar o futebol atractivo e dominador que encheu o peito e as medidas. Por seu lado, o Benfica transfigurou-se e o mérito é apenas de Bruno Lage. Bem na comunicação, magnífico a motivar o balneário, astuto no plano de jogo e no cuidadoso estudo dos adversários que teve como corolário, para mal dos meus pecados, a excepcional exibição em Alvalade. Onde engoliu as peças-chave leoninas, espartilhou e bloqueou por completo o holandês que nem conseguiu compreender que deixar João Félix a bailar entre linhas é um convite ao desastre. É caso para perguntar se Vieira não tivesse visto a tal luz e o escolhesse mais cedo, como seria agora? O Benfica de Vitória era um patinho feio que passou a belo cisne com Lage. E com um mérito suplementar: agarrou no mantra para 2018/19 que exalava soberba, “Reconquista”, e transformou-o pelas suas próprias palavras no tempo de reconquista dos seus adeptos que voltaram a acreditar. Temos treinador.
TÉCNICO TEM EXIBIDO COMPETÊNCIA E SAGACIDADE QUE TÊM ENCANTADO A MAIORIA