Record (Portugal)

A última impressão de Bruno

- Sérgio Krithinas Editor

BDC PODERIA SER UM DOM SEBASTIÃO PARA OS SPORTINGUI­STAS. MAS PRECISAVA DE PACIÊNCIA PELA PRIMEIRA AMOSTRA, O LIVRO SOBRE A SUA PRESIDÊNCI­A PARECE SER MAIS UM AJUSTE DE CONTAS DE BRUNO DE CARVALHO. SINAL DE QUE O EX-PRESIDENTE DO SPORTING POUCO MUDOU

Record divulga neste domingo uma parte do livro ‘Sem Filtro – as histórias dos bastidores da minha presidênci­a’, em que Bruno de Carvalho dá a sua versão sobre o tempo em que dirigiu o Sporting. O ex-presidente dos leões, que poucas vezes conseguiu resistir a um teclado de computador ou de telemóvel, tem mais uma oportunida­de para contar a sua verdade sobre os factos, pessoas e acontecime­ntos ocorridos em cinco anos muitas vezes tumultuoso­s. Pela amostra, trata-se sobretudo de ajustes de contas.

Costuma dizer-se que não há

uma segunda oportunida­de para causar uma boa impressão, mas no caso de Bruno de Carvalho o grande problema foi mesmo a última impressão que deixou aos sportingui­stas. Na sua presidênci­a, houve momentos muito bons, que permitiram ao Sporting aproximars­e dos dois grandes rivais – e é bom que não se queira reescrever a história. Mas os últimos meses revelaram um homem descontrol­ado e um presidente completame­nte perdido nos seus próprios tiques de autoritari­smo, cuja missão principal passou ser assegurar a manutenção do poder de qualquer forma e não dirigir o clube da melhor forma possível. É por isso que, agora, é uma memória que a maior parte dos sportingui­stas quer esquecer.

ABruno de Carvalho faltoupaci­ência.

Quis ganhar depressa no futebol, afinal aquilo que mais importa, porque sabia que um campeonato de futebol torná-lo-ia eterno para os sportingui­stas. E essa ânsia fê-lo andar aos ziguezague­s, trocando de ‘projeto’ de umas épocas para as outras, apostando cada vez mais à medida que o tempo passava e o tal título não chegava. Explodiu quando, sensivelme­nte a meio da temporada passada, percebeu que seria mais um ano a ver os rivais festejar. Aí, sem nenhuma carta na manga idêntica à contrataçã­o de Jesus, procurou nova saída para a frente, culpando os jogadores. Algo que é um direito exclusivo das bancadas. Foi o princípio do fim.

Pior que tudo foi o pós-ataque à Academia.

Foi nessa altura que se revelou todo o descontrol­o de Bruno de Carvalho. Até então, e apesar de momentos infelizes como as palavras na célebre assembleia geral em que viu os seus poderes reforçados, tinha crédito e reconhecim­ento da maioria dos sportingui­stas. Mas o Bruno de Carvalho que se revelou depois do ataque à Academia, com sucessivos atropelos aos estatutos do clube, causou a tal última impressão que será difícil de apagar.

Comtempo, Bruno de Carvalho poderiator­nar-se uma

espécie de Dom Sebastião, um refúgio ao qual os sportingui­stas poderiam recorrer em tempos amargos, o destinatár­io de um voto de protesto (como já foi) contra o ‘status quo’. Mas, para isso, precisava de ter paciência, de ficar calado e esperar pelo momento certo para aparecer. O livro que esta semana chega às bancas mostra o mesmo lado de Bruno de Carvalho que os sportingui­stas rejeitaram. Assim, só será Dom Sebastião por estar perdido no nevoeiro.

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