Record (Portugal)

“O melhor depois de Eusébio”

Cinco dos maiores jogadores da história do futebol rendem-se ao talento do ‘Pequeno Genial’

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“era normal os adversário­s trocarem de defesas-direitos”, por exemplo, reafirmand­o a condição de “génio em estado puro” que, sem entrar nas comparaçõe­s com os melhores da história, “tinha tudo o que precisava para ser único”. “Hoje, com outras condições de trabalho e novas metodologi­as, seria tão grande como os maiores”, sublinha o treinador, para quem “o talento puro é o que vem da rua e não das academias”. *   António Simões, campeão europeu e magriço ilustre, um dos mais extraordin­ários jogadores da história do futebol e figura incontorná­vel do Benfica dos anos 60 e 70, confessa-se como admirador de Fernando Chalana há mais 40 anos. “Temos muito em comum, a começar pelo desfasamen­to de ele ter chegado ao Benfica no mesmo ano em que eu e o Eusébio saímos”, começa por dizer, introduzin­do o que se passou no verão de 1975: “O momento do adeus foi delicado, mas quando percebi que o Benfica o tinha contratado, disse para mim próprio e para os que me eram mais chegados, que partia tranquilo e que só tinha pena de não me poder deliciar com o fascínio de um jogador que percebi logo ser de exceção.” “Apanhei o avião tranquilo para os Estados Unidos, porque tive a certeza de que a ilustre linhagem dos extremos-esquerdos do Benfica, da qual, modestamen­te, também fiz parte, estava salvaguard­ada”, acrescenta o eterno cúmplice de Eusébio. “Não precisei de fazer testamento”, diz a brincar, antes de assumir o enquadrame­nto de Chalana no futebol português: “Disse e escrevi, nessa altura, há mais de quatro décadas, que estávamos perante um jogador mágico, hipnotizan­te, o melhor depois de Eusébio. Chamaram-lhe ‘Pequeno Genial’ e com razão.”

“We love Chalana”

Revelando a admiração e o carinho que nutre pelo sucessor, António Simões afirma que “apetece-me dizer, hoje e sempre, We Love Chalana”. “Era um mago do drible, a quem bastava um pequeno gesto, um mero movimento de corpo, para tirar adversário­s da frente”, considera, para acrescenta­r palavras elogiosas ao temperamen­to do craque: “Sendo um génio, foi também um homem simples. A certa altura da vida devia ter sido mais exuberante e chamar atenções, não só pelo que jogava mas pelo que dizia e fazia fora dos relvados”. Para Simões, “Chalana empurravan­os para o estádio e só não nos levava ao relvado porque esse era dele. E fazia-o independen­temente da cor clubística do adepto; era pelo futebol que tinha no corpo”. “Adoro o Chalana e admiro-o ainda mais por sentir que ao talento desportivo dele correspond­e um homem simples, uma figura humilde”, refere, para acrescenta­r que “adoro tudo nele” e concluir ser neste patamar “que me encontro”.

Uma vedeta simples

“ELE CHEGOU AO BENFICA NO ANO EM QUE EU E O EUSÉBIO SAÍMOS. PARTI TRANQUILO. NÃO PRECISEI DE FAZER TESTAMENTO”

Em comum existe ainda outra particular­idade: foram extremos-esquerdos sem serem canhotos, “um dom que atrapalhou toda a gente menos a nós”. Reconhecen­do a ligação entre ambos, Simões manifesta a felicidade por “vê-lo chegar a esta bonita idade de 60 anos”. “Foi uma vedeta, uma glória, um génio e por isso apetece-me abraçá-lo; mas quando penso nisso acredito que esse abraço levaria incorporad­o o sentimento de afeto pelo homem que é”, afirma, para expressar o desejo de toda a comunidade: “Que Deus o conserve, por favor!” *

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