VISEU 2001: ODISSEIA DE RÚBEN ALFAIATE
Aos 23 anos, o guardião formado no Benfica joga no distrital e dedica-se a treinar futuros craques
Rúben Alfaiate cresceu no Benfica, ao lado do irmão, Alexandre (defesa-central), e de outros nomes como João Cancelo e Bernardo Silva, mas a vida reservoulhe outras experiências. Aos 23 anos, o jovem natural de Peniche continua apaixonado pelo jogo e defende com honra a baliza do Molelos, líder da 1ª divisão distrital da AF Viseu, mas é também o treinador de guarda-redes dos escalões de formação do Viseu 2001 – sub-10, sub-11 e sub-12 em futebol de sete, e iniciados e juvenis em futebol de 11. O sonho de uma carreira ao mais alto nível esmoreceu, mas a vontade de ensinar aos mais novos tudo o que aprendeu faz de Rúben Alfaiate um homem feliz. “Sempre tive esta curiosidade pelo treino e a oportunidade surgiu através de uns amigos. Tive a sorte de me formar no clube que mais condições tem em Portugal e, apesar de ter tido algum receio ao início, foi a melhor decisão. Dá-me um gozo enorme treinar estes miúdos e sentir a evolução deles”, afirma, com um sorriso rasgado. Alfaiate trabalha de manhã à noite. Começa o dia na fábrica da Shark, em Carregal do Sal, no fabrico de capacetes de motos. “Até o Miguel Oliveira já cá esteve con- nosco”, brinca. Antes de se dirigir ao Fontelo, para treinar os miúdos, ainda tem tempo para passar por casa para mudar de roupa. Depois, segue-se uma viagem de 25 quilómetros até Molelos, perto de Tondela, para treinar com a equipa que defende desde o verão. Em 2009, quando chegou ao Benfica, depois de ter dado nas vistas no Peniche, a ambição de se tornar num guardaredes de topo estava bem presente, mas hoje, Alfaiate prefere olhar para as coisas de outra perspetiva.
Momento de mudança
“Houve um ano em que percebi que, para mim, o futebol não iria passar de um certo nível. Saí do Benfica e fui para o Rio Ave como terceiro guarda-redes, com o Salin e o Ederson, para tentar evoluir, mas as coisas não me correram bem. Além da sorte também é preciso trabalho e ter cabeça, e a verdade é que entrei numa espiral negativa e não tive capacidade para lidar com as coisas de uma forma adulta. A escola do Benfica é uma das melhores do Mundo, mas, naquela altura, não me senti preparado para o futebol sénior”, confessa, lembrando, também, que houve alguma falta de apoio de quem costuma estar mais perto do jogador: “Era agenciado pela Gestifute, mas com todo o respeito que tenho por eles, só acompanhavam quem tivesse sucesso imediato. Quem sente dificuldades de adaptação ao futebol sénior vê que começa a faltar o telefonema ao fim de semana ou depois de um jogo para perceber se está tudo bem.” De cabeça limpa e mente aberta, Rúben Alfaiate só pensa, agora, em fazer o melhor pelos mais novos e o Viseu 2001 deu-lhe todas as condições: “Sou muito religioso. Deus orientou-me por este caminho, estou feliz por ajudar os miúdos e tenho a vida super organizada aqui em Viseu. Tenho tirado o maior proveito disto, mais do que os miúdos, até! Ainda são muito novos e não têm noção por onde passei. Por vezes, na brincadeira, até lhes digo que, se trabalharem bem, posso ajudá-los, uma vez que conheço os treinadores de guardaredes dos grandes.” *
“PERCEBI QUE, PARA MIM, O FUTEBOL NÃO IRIA PASSAR DE UM CERTO NÍVEL”, DIZ, FELIZ PELO RUMO QUE A VIDA TOMOU